01 abril 2010

Bento 16 condena injustiça do aborto, mas não menciona pedofilia

da Folha Online

O papa Bento 16 afirmou nesta quinta-feira, em celebração crismal, que os cristãos não devem aceitar injustiças, como "o assassinato de crianças inocentes que ainda não nasceram", mas não citou os casos de pedofilia que assolam a Igreja Católica da Europa e Estados Unidos.

Na solenidade, que integra as celebrações da Páscoa e na qual são abençoados os óleos santos, o pontífice defendeu que os direitos devem ser respeitados, já que são "o fundamento da paz".

"Também hoje é importante os cristãos não aceitarem uma injustiça que é elevada a direito, por exemplo, quando ocorre o assassinato de crianças inocentes que ainda não nasceram", exemplificou Bento 16, referindo-se à legalização do aborto.

A nova condenação do papa ao aborto coincide na Itália com a chegada aos hospitais do país dos primeiros lotes da pílula abortiva RU486, que teve a comercialização autorizada em dezembro após um longo debate no Parlamento.

O novo presidente da região de Piamonte, Roberto Cota, um político de direita eleito na segunda-feira, aumentou a polêmica ao afirmar que é a favor da defesa da vida e que a pílula deve ficar nos estoques, sem distribuição em sua região.

Durante a missa, celebrada na Basílica de São Pedro, no Vaticano, o papa comentou que "a luta dos cristãos consistia, e consiste, não no uso da violência, mas no fato que eles estavam, e ainda estão, prontos a sofrer pelo bem, por Deus".

"Consiste no fato que os cristãos, como bons cidadãos, respeitam o direito e fazem o que é justo e bom. Consiste no fato que repudiam fazer o que nos ordenamentos jurídicos não é direito, mas injustiça", destacou.

Às 17h30 (12h30 no horário de Brasília), Bento 16 celebrará a Missa da Ceia do Senhor e dará início ao Tríduo Pascal, na Basílica de São João de Latrão.

Injustiças
O pontífice não fez nenhuma menção às recentes denúncias de abusos sexuais contra sacerdotes em dioceses e escolas católicas de diversos países, como Alemanha, país natal do pontífice, Irlanda, México, Itália, Estados Unidos, entre outros.

O escândalo sobre os acobertamentos de abusos sexuais de crianças por parte de padres foi revelado na Igreja Católica da Irlanda e atingiu o Vaticano com intensidade ainda maior que o escândalo semelhante que atingiu os Estados Unidos oito anos atrás.

Desta vez, o escândalo vem chegando perigosamente perto do próprio papa, na medida em que os grupos de vítimas disseram que querem saber como ele tratou desses casos antes de sua eleição a papa, em 2005.

Muitas alegações de acobertamentos de abusos sexuais envolvem Munique, na época em que o papa foi arcebispo da cidade, entre 1977 e 1981. Grupos de vítimas pedem ainda informações sobre as decisões tomadas pelo papa na época em que dirigiu o departamento doutrinal do Vaticano, entre 1981 e 2005.

Os casos de pedofilia atingiram ainda a Holanda, onde a Igreja Católica recebeu 1.100 denúncias de pessoas que afirmam ter sofrido abusos sexuais por parte de membros do clero entre os anos 50, 60 e 70.

Na Alemanha, as denúncias de pedofilia chegam a 120 e teriam ocorrido entre as décadas de 1970 e 1980 em escolas jesuítas locais. O caso envolveu até mesmo o sacerdote Georg Ratzinger, irmão do papa, que liderava os rapazes do coro da catedral de Regensburg. O sacerdote negou saber dos casos de abusos e foi inocentado pelo Vaticano.

Na semana passada, na Áustria, a imprensa local noticiou casos de abusos cometidos em dois institutos religiosos nas décadas de 1970 e 1980.

Na Espanha, o Vaticano disse saber de 14 casos de abuso sexual de crianças, que teriam ocorrido de janeiro de 2001 até março de 2010, na Igreja Católica da Espanha.

De acordo com a imprensa espanhola, entre as suspeitas há pelo menos dez sentenças já emitidas por tribunais civis e quatro processos abertos por abusos similares cometidos por religiosos antes de 2001. No total, são 25 sacerdotes e religiosos espanhóis implicados em pedofilia nos últimos 20 anos.

O jornal "The New York Times" informou em seu site que as maiores autoridades do Vaticano, incluído o então cardeal Joseph Ratzinger, que anos mais tarde se tornaria o papa Bento 16, encobriram um sacerdote americano acusado de abusar sexualmente de 200 crianças surdas.

O jornal teve acesso a documentos que procedem do processo judicial aberta contra o reverendo Lawrence Murphy, que trabalhou durante mais de 20 anos, entre 1950 e 1974, em uma escola para crianças surdas do Estado americano de Wisconsin.

O Vaticano reconheceu ainda os abusos cometidos por dois monsenhores e um padre do município de Arapiraca, a 130 quilômetros de Maceió (AL), depois de terem sido acusados de pedofilia por alunos de um coro e por seus familiares.

Com Ansa e France Presse

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/folha/mundo/ult94u715085.shtml

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