31 outubro 2011

Relacione as imagens

Figura 1.

Figura 2.


Deputados que aprovaram novo Código Florestal receberam doação de empresas desmatadoras

A ligação podre entre a política e interesses  pessoais ($).


Dos 18 deputados federais que integraram a comissão especial do Código Florestal, em julho deste ano, 13 receberam juntos aproximadamente R$ 6,5 milhões doados por empresas do setor de agronegócio, pecuária e até do ramo de papel e celulose durante campanha à reeleição, de acordo com as declarações disponíveis no site do TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
Dentre os que arrecadaram verba em empresas do segmento ruralista, apenas um não conseguiu se reeleger. Em julho, quando o projeto foi submetido à análise desta comissão, o novo código foi aprovado por 13 votos a 5. Ambientalistas criticam a reforma por tornar o Código Florestal menos rígido e abrir brechas para anistiar desmatadores.
Pelos dados no TSE, as doações feitas pelas empresas desmatadoras foram concentradas nas campanhas dos deputados que votaram a favor. Dos 13, apenas dois não receberam ajuda do agronegócio, sendo que um foi barrado pela Ficha Limpa e o outro acabou não conseguindo se reeleger. Os outros 11 deputados federais ganharam juntos pouco mais de R$ 6,4 milhões.
O montante doado por empresas desmatadoras financiou aproximadamente 32,5% dos gastos totais da campanha eleitoral destes 11 parlamentares. Somados, os valores declarados – contando todas as doações - chegam a R$ 20 milhões. Em média, a bancada ruralista custeou 30% da campanha com este dinheiro.
Entre os que votaram a favor da mudança está o deputado federal Aldo Rebelo (PCdoB-SP). Ele não só apoiou à reforma como também é o relator do novo Código Florestal. Rebelo garantiu sua permanência no cargo após receber mais de 130 mil votos no Estado de São Paulo. O deputado declarou ter utilizado aproximadamente R$ 172 mil vindos de cooperativas que representam cafeicultores, citricultores e agropecuaristas.
Apesar de relator da comissão especial, Rebelo foi um dos que menos recebeu ajuda no grupo dos 13 ruralistas que votaram a favor. No topo da lista está o deputado federal, também reeleito, Marcos Montes (DEM-MG). Ele ganha dos colegas tanto por ter recebido o maior montante de investimento quanto pela parcela que esse dinheiro representou nas suas receitas durante a campanha.
Montes arrecadou cerca de R$ 1 milhão só de pecuaristas, usineiros e exportadores de papel. Esta quantia corresponde à metade das doações totais recebidas pelo, então, candidato, que foi de R$ 2 milhões.
O parlamentar do DEM não é um caso isolado. O segundo da lista também conseguiu um valor próximo. Duarte Nogueira (PSDB-SP), que concorreu à reeleição para deputado federal em São Paulo, angariou R$ 955 mil de empresas interessadas na aprovação do novo Código. O tucano, que em sua página no site da Câmara dos Deputados declara ser engenheiro agrônomo, agricultor e pecuarista, é o preferido pelas indústrias de papel. Pelo menos quatro nomes de empresas diferentes deste segmento constam em seus dados no TSE.
Bancada "verde"
Pelo lado da bancada ambientalista, dois dos cinco que votaram contra o novo código também custearam a campanha com verba doada pelas mesmas empresas, mas, para estes, o valor foi inferior aos dos outros colegas. A dupla recebeu no total R$ 150 mil.
O verde Sarney Filho (PV-MA), por exemplo, declarou ter utilizado R$ 30 mil transferidos por uma empresa que já foi notificada pelo MPF (Ministério Público Federal) por revender carne e outros derivados do boi cuja origem é a criação ilegal de gado em áreas desmatadas.
O segundo deputado que, apesar de ser da bancada ambientalista, conta com doações do agronegócio é Ricardo Tripoli (PSDB/SP). Ele registra R$ 120 mil.
Agronegócio
A Bunge Fertilizantes, uma das principais empresas do agronegócio, é um exemplo de que a doação para campanhas de deputados não foi feita de forma aleatória. A empresa é a que mais vezes aparece nas declarações dos deputados da bancada ruralista.
Ela contribuiu com as despesas de oito dos 13 que votaram a favor do novo código e que concorreram à reeleição. Destes, sete receberam o valor igual de R$ 70 mil e um ganhou R$ 80 mil, o que resulta em R$ 500 mil distribuídos somente entre políticos da comissão especial.
No total, a Bunge doou pouco mais de R$ 2,5 milhões para candidatos que participaram do processo eleitoral. Portanto, 20% do total destinado por essa empresa às campanhas políticas ficaram no grupo de ruralistas da comissão especial, já que a soma de doações feitas para estes oito candidatos alcançou R$ 500 mil.
Outro lado
Todos os deputados citados foram procurados pelo R7. Mas, a maioria não quis comentar o assunto.
Rebelo disse, por meio de sua assessoria de imprensa, que não vai se pronunciar sobre o caso. Já Montes e Tripoli (PSDB-SP) não foram localizados pela reportagem.
O tucano Duarte Nogueira foi o único que aceitou conversar com o R7. O deputado federal explicou que “não é de hoje” que recebe doações do setor agrícola. Ele afirma que tem “profunda identidade” com este segmento produtivo e que defendeu a aprovação do Código Florestal independentemente de ter recebi doações do agronegócio.
- Não há como criar expectativa de qualquer ilação de que eu fiz isso [votar a favor da reforma], porque recebi [doação do agronegócio]. Tanto que esta é minha história de vida. Tenho uma profunda identidade com o setor agrícola não é de agora. Se você for pegar minha primeira prestação de contas em 2006, a grande maioria das minhas doações já vinha do setor agrícola.
A Bunge Fertilizantes também se manifestou sobre as doações citadas nesta matéria. Em nota, a empresa defendeu que não há nenhuma ilegalidade no fato, pois “o sistema político brasileiro prevê o financiamento privado das campanhas”. Porém, a doadora também admite que escolhe políticos com mesma linha de pensamento da empresa, mas desmente que, nestas eleições, tenha financiado campanhas “em função de questões ou de projetos específicos”.
Fonte: R7


Senado aprova lei que enfraquece Ibama


E pensar que é a gente quem criou esse monstro.



O Senado aprovou ontem por 49 votos a 7 um projeto de lei que, na prática, tira do Ibama o poder de multar desmatamentos ilegais.
O projeto regulamenta o artigo 23 da Constituição, que define as competências de União, Estados e Municípios na fiscalização de crimes ambientais.


O texto original, do deputado Sarney Filho (PV-MA), visava estabelecer atribuições dos entes federativos para melhorar o combate ao tráfico de animais. Porém, uma emenda de última hora inserida na Câmara alterou o texto, estabelecendo que a autuação só poderia ser feita pelo órgão licenciador. Como o licenciamento para desmatamentos é feito pelos Estados, o Ibama, na prática, ficaria sem poder de autuar.


No ano passado, a então senadora Marina Silva (PV-AC) tentou corrigir a distorção, apresentando três emendas ao projeto. Todas elas foram rejeitadas na Comissão de Constituição e Justiça pela senadora ruralista Kátia Abreu (PSD-TO), relatora na CCJ.
Tanto Marina quanto seus sucessores no Ministério do Meio Ambiente, Carlos Minc e Izabella Teixeira, tentaram barrar a proposta (batizada de PLC no. 1), por entenderem que os Estados e municípios são menos estruturados para fiscalizar e/ou mais sujeitos a pressões políticas do que o Ibama.


A bancada ruralista comemorou a aprovação.
"Vamos tirar essas prerrogativas ditatoriais do Ibama. O Ibama quer parar o Brasil, não vai parar, não!", vociferou Flexa Ribeiro (PSDB-PA).
"Habituou-se no Brasil a achar que os órgãos federais são mais honestos que os estaduais e municipais. Não podemos tratar a Federação desta forma. O Ibama não é a Santa Sé, ele não está acima de qualquer suspeita, não", disse Kátia Abreu.
Rodrigo Rollemberg (PSB-DF), presidente da Comissão de Meio Ambiente do Senado, disse que a proposta é um retrocesso.


"Num momento em que nós estamos fazendo um grande esforço para votar um Código Florestal que reduza desmatamento no nosso país, reduzir as prerrogativas do Ibama me parece um erro grave."


Fonte: Folha.com

25 outubro 2011

Us against the world




Oh morning come bursting the clouds they move
Lift off this blindfold let me see again
And bring back the water that your ships rode in
In my heart you left a hole
The tightrope that I'm walking just sways and ties
The devil as he's talking with those angel's eyes
And I just want to be there when the lightning strikes
And the saints go marching in
And sing slow-ow-ow-ow it down
Through chaos as it swirls
It's just us against the world
Like a river to a raindrop I lost a friend
My drunken as a Daniel in a lion's Den
And tonight I know it all has to begin again
So whatever you do don't let go
And if we could float away
Fly up to the surface and just start again
And lift off before trouble
Just erodes us in the rain (x3)
Sing slow-ow-ow-ow it down
Oh Slow-ow-ow-ow it down
Through chaos as it swirls
It's just us against the world
Through chaos as it swirls
It's us against the world

23 outubro 2011

Pigs on the wings



If you didn't care what happened to me,
And I didn't care for you,
We would zig zag our way through the boredom and pain,
Occasionally glancing up through the rain,
Wondering which of the buggers to blame
And watching for pigs on the wing



You know that I care what happens to you,
And I know that you care for me too,
So I don't feel alone,
Or the weight of the stone,
Now that I've found somewhere safe
To bury my bone.
And any fool knows a dog needs a home,
A shelter from pigs on the wing.



Tradução.

21 outubro 2011

Valores invertidos


Agroecologia pode dobrar produção de alimentos em 10 anos

Sinônimo de melhor saúde e maior produção.


Ao mesmo tempo em que a alta mundial no preço dos alimentos atinge seu maior patamar em duas décadas e dá força redobrada ao fantasma da fome que persegue as populações pobres dos países economicamente mais vulneráveis, um informe da Organização das Nações Unidas (ONU) afirma que a agroecologia pode duplicar a produção alimentar nos próximos dez anos. Divulgado na terça-feira (8) pelo Alto-Comissariado de Direitos Humanos, o documento que, segundo a ONU, foi embasado por “uma exaustiva revisão da literatura científica mais recente”, defende a agroecologia como “meio para incrementar a produção alimentar e melhorar a situação dos mais pobres”.


Os estudos que embasaram o informe foram coordenados pelo belga Olivier de Schutter que, desde 2008, é relator especial da ONU sobre direito à alimentação: “Para poder alimentar a nove bilhões de pessoas em 2050, necessitamos urgentemente adotar as técnicas agrícolas mais eficientes conhecidas até hoje. Neste sentido, os estudos científicos mais recentes demonstram que ali onde reina a fome, especialmente nas zonas mais desfavorecidas, os métodos agroecológicos são muito mais eficazes para estimular a produção alimentar do que os fertilizantes químicos.”

De acordo com os casos relatados no documento da ONU, projetos agroecológicos desenvolvidos nos últimos anos em 57 países em desenvolvimento registraram um rendimento médio de 80% em suas lavouras. Isso significa, por exemplo, um aumento de 116% na média de todos os projetos desenvolvidos na África. “Os projetos mais recentes levados a cabo em 20 países africanos demonstraram que é possível duplicar o rendimento das lavouras em um período de três a dez anos”, afirma Schutter.
A ONU afirma que o modelo agrícola dominante, baseado nas monoculturas e na utilização massiva de agrotóxicos, fertilizantes e outros insumos, “já demonstrou não ser a melhor opção no contexto atual”, além de acelerar o processo de aquecimento global. “Amplos setores da comunidade científica já reconhecem os efeitos positivos da agroecologiasobre a produção alimentar no que se refere à redução da pobreza e à mitigação dos efeitos das mudanças climáticas”, afirma o documento.

Menos agrotóxicos

O relatório divulgado pelo Alto-Comissariado de Direitos Humanos da ONU também dá destaque aos países que diminuíram consideravelmente a utilização de agrotóxicos nos últimos anos. São citados no documento países como Indonésia, Vietnã e Bangladesh, que reduziram em até 92% o uso de agrotóxicos na produção de arroz, que é o alimento básico das populações camponesas desses países.
Outro exemplo citado no relatório é o do Malauí, país que era grande consumidor de produtos agroquímicos e agora faz  sucesso com a transição para um modelo agroecológico. Segundo a ONU, essa transição já tirou da extrema pobreza 1,3 milhões de pessoas, além de aumentar o rendimento das lavouras de milho do país de uma para três toneladas por hectare. “O conhecimento substituiu os pesticidas e fertilizantes”, comemora Olivier de Schutter.
O relator especial da ONU sobre o direito à alimentação afirma que o Estado tem um “papel fundamental” a cumprir no fortalecimento da agroecologia. “As empresas privadas não investirão tempo e dinheiro em práticas que não podem proteger com patentes e que não pressuponham uma abertura dos mercados para novos produtos químicos ou sementes melhoradas”. Schutter também exortou os Estados a darem maior apoio às organizações camponesas que, segundo ele, “demonstraram uma grande habilidade na hora de difundir as melhores práticas agroecológicas entre seus membros”.

19 outubro 2011

Hipocrisia





Pigs




Big man, pig man, ha ha charade you are.
You well heeled big wheel, ha ha charade you are.
And when your hand is on your heart,
You're nearly a good laugh,
Almost a joker,
With your head head down in the pig bin,
Saying, "keep on digging."
Pig stain on your fat chin.
What do you hope to find?
When you're down in the pig mine,
You're nearly a laugh,
You're nearly a laugh,
But you're really a cry.
Bus stop rat bag, ha ha charade you are.
You fucked up old hag, ha ha charade you are
You radiate cold shafts of broken glass.
You're nearly a good laugh,
Almost worth a quick grin
You like the feel of steel,
You're hot stuff with a hat pin,
And you're good fun with a hand gun.
You're nearly a laugh,
You're nearly a laugh
But you're really a cry.
Hey you, Whitehouse,
Ha ha charade you are
You house proud town mouse,
Ha ha charade you are
You're trying to keep our feelings off the street
You're nearly a real treat,
All tight lips and cold feet,
And do you feel abused?
!!!
you gotta stem the evil tide,
And keep it all on the inside.
Mary you're nearly a treat,
Mary you're nearly a treat
But you're really a cry.

17 outubro 2011

Cientistas sobem o tom contra novo código florestal



Em sua manifestação mais dura sobre a reforma do Código Florestal, as principais sociedades científicas brasileiras adjetivam partes do texto em análise como "injustificado" e "inconstitucional".
A SBPC e a ABC entregaram na semana passada a senadores propostas para embasar as mudanças na lei. Para elas, a ciência não foi levada em conta no relatório do deputado Aldo Rebelo , aprovado em maio no plenário da Câmara.
Entre as 18 assinaturas do documento há pesos-pesados como a antropóloga Manuela Carneiro da Cunha, Carlos Nobre, secretário de Pesquisa do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação e Tatiana Sá, ex-diretora-executiva da Embrapa. Para eles, o maior entrave à expansão da agricultura não é a legislação ambiental, mas "a falta de adequação" da política agrícola do país.
Para os cientistas, um aumento marginal na produtividade pecuária -com medidas simples, como erguer cercas e fazer o manejo de pastos- liberaria 60 milhões de hectares para a agricultura. "Continua no Senado essa falácia de que não há espaço para preservar e produzir alimentos", disse Luiz Martinelli, da USP de Piracicaba. "Como é que eu vou dizer para a Europa não subsidiar sua agricultura quando a gente queima tudo sem nenhuma eficiência? É um tiro no pé."

As entidades também pedem que as APPs , como margens de rios, sejam restauradas na íntegra, posição mais "ambientalista" que a do governo, que aceitou flexibilizar sua recomposição. Os cientistas exigem, ainda, que o Senado elimine do texto a menção à "área rural consolidada", que permite regularizar atividades agropecuárias em APPs desmatadas até 22 de julho de 2008. Segundo eles, a Constituição diz que "não há direito adquirido na área ambiental".

"Nosso livro anterior dava dados, mas não fazia afirmações tão contundentes", disse Carneiro da Cunha, aludindo a documento divulgado no semestre passado.
Expoente da antropologia, Carneiro da Cunha afirma que os senadores precisarão tratar um tema espinhoso sem acordo: a isenção de reserva legal para propriedades de até quatro módulos fiscais .
"Quatro módulos não é o mesmo que agricultura familiar. É uma pegadinha." Ela diz esperar que o senador Luiz Henrique da Silveira , relator do código em três comissões, seja "persuadido por argumentos convincentes".

Rafinha dançou porque mexeu com gente rica


A hipocrisia na liberdade de expressão.



O integrante do CQC, que fez piada de péssimo gosto com Wanessa Camargo, já falara coisas piores. Agora mexeu com esposa de milionário, que ameaçou tirar anúncios da TV Bandeirantes. Ninguém classificou caso como atentado à liberdade de expressão. Já quando ministra condena comercial de lingerie machista, o coro é um só: “Censura”!
por Gilberto Maringoni, em Carta Maior


Qual é o problema com a suposta piada de Rafinha Bastos? Ele antes já exibira todas as cores de seu mau gosto e nada acontecera.
Todos conhecem a pérola, não? O apresentador aproveitou-se de uma bola levantada pelo chefe da cena do programa Custe o que Custar (CQC), Marcelo Tas, sobre a gravidez da cantora Wanessa Camargo, e cortou ligeiro: “Eu comeria ela e o bebê, não tô nem aí”. Foi logo acompanhado por risos e caretas de seus colegas de vídeo , Tas e Marco Luque .
A grosseria foi ao ar dia 19 de setembro. A TV Bandeirantes, que exibe o programa, levou duas semanas para decidir o que fazer. Em 3 de outubro, o apresentador foi suspenso da bancada. Não se sabe se voltará.
Não foi a primeira vez que Rafinha exerceu sua – digamos – sutileza. Em entrevista à revista Rolling Stone, em maio de 2011, ele saiu-se com esta: “Mulheres feias deveriam agradecer caso fossem estupradas, afinal os estupradores estavam lhes fazendo um favor, uma caridade”.
A gracinha com as feias não rendeu ao gaúcho de dois metros de altura nada além de protestos de movimentos femininos. Mas a liberdade com a cantora custou-lhe até agora, além do posto no programa, o cancelamento de shows e o rompimento de alguns contratos de publicidade. Rafinha perdeu grana com a brincadeira.
Pensamento vivo
Repetindo: qual o problema com as tiradas do rapaz de 34 anos, num universo midiático em que o mau gosto, a boçalidade e o “politicamente incorreto” passaram a ser valores em si?
Rafinha vive num tempo em que as demonstrações de preconceito, como as do apresentador de outro programa de entretenimento da mesma emissora, Boris Casoy, não têm consequências maiores. Todos se recordam da fineza do jornalista ao desqualificar dois garis  que apareceram em seu programa para desejar boas festas, no final de 2009. Sem saber que os microfones estavam abertos, ele foi ao ponto: “Que merda: dois lixeiros desejando felicidades do alto da suas vassouras. O mais baixo na escala do trabalho”.
O artista do CQC também sabe que o pensamento vivo de gente como o deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ) recebe destacada acolhida em grandes meios de comunicação. Sua entrevista à revista Playboy  , em junho último, é pródiga em preciosidades. Segue um exemplo: “Moro num condomínio, de repente vai um casal homossexual morar do meu lado. Isso vai desvalorizar minha casa!”.
Outro luminar da intelectualidade midiática, o ex-compositor Lobão, por sua vez, exibiu os músculos cerebrais em um festival de cultura em São Francisco Xavier (São José dos Campos, SP), também em junho. Após demonstrar criteriosamente que toda a música popular brasileira não tem nenhum valor, ele sentenciou: “A gente tinha que repensar a ditadura militar. Essa Comissão da Verdade que tem agora. (…) Que loucura que é isso? Aí tem que ter anistia pros caras de esquerda que sequestraram o embaixador, e pros caras que torturavam, arrancavam umas unhazinhas, não?”.
Os exemplos são infindáveis. Rafinha provavelmente é leitor de Reinaldo Azevedo, o blogueiro de Veja, que, em março de 2010, durante uma palestra no afamado Instituto Millenium, em São Paulo, externou sua particular concepção de liberdade de expressão: “A imprensa tem que acabar com o isentismo e o outroladismo, essa história de dar o mesmo espaço a todos”. Na mesma oportunidade, o cineasta aposentado Arnaldo Jabor lançou o desafio de “impedir politicamente o pensamento de uma velha esquerda que não deveria mais existir no mundo”. Impedir o pensamento… muito bom!
A baixaria televisiva contaminou até mesmo as campanhas eleitorais. Continuam na memória de todos os ataques da campanha de José Serra à Dilma Rousseff, em 2010, sobre o tema do aborto. Em Nova Iguaçu (RJ), Monica Serra, esposa do então candidato tucano, disse o seguinte sobre a petista: “Ela é a favor de matar as criancinhas”.
Dois anos antes, a campanha de Marta Suplicy (PT) à prefeitura de São Paulo já havia colocado en dúvida a sexualidade de seu oponente, ao   dizer: “Você sabe mesmo quem é o Kassab? Sabe de onde ele veio? Qual a história do seu partido?” Em seguida, aparece a foto do prefeito: “Sabe se ele é casado? Tem filhos?”
Bem acompanhado
Rafinha está em boa companhia. Deve se sentir incentivado para exercer seu rosário de preconceitos. Provavelmente pensa estar “quebrando paradigmas”, investindo contra o estabelecido e externando uma rebeldia adolescente, que lhe granjeia grande popularidade e bons cachês.
Ridicularizar e humilhar quem tem poucas chances de se defender, em uma sociedade com desigualdades abissais como a brasileira, é um grande negócio. Prova isso a lista de clientes dos shows do moço, que constam de sua página na internet. São elas Votorantim, Bosch, Agroceres, LG, HP, Ernst & Young, IBM, Banco Real, Vivo, Springer Carrier, Cargil, Unilever, Motorola, Chevrolet, Sherwin Williams, Valor Econômico, Bunge, GNT (Globosat), Jornal O Estado de S. Paulo, Coca-Cola, Bradesco, ESPM etc. Segundo a Veja, ele foi visto em mais de 730 comerciais somente neste ano.
Rafinha faz parte de uma tendência do humor televisivo, que se abriu após a chegada dos humoristas do Casseta e Planeta ao vídeo. A linhagem envolve também o programa Panico (da Rede TV!) e outros imitadores, além do Zorra Total, da Globo. Todos se dizem distantes da política, independentes e praticantes de um humor anárquico e sem freios. Nem mesmo a participação de Marcelo Tas como palestrante em um encontro da juventude do DEM  ,em novembro de 2008, ou de Marcelo Madureira nas palestras hidrófobas do Instituto Millenium, os comprometem, segundo eles, com idéias que não as próprias.
Acima da cintura
Num panorama desses, repetimos: qual o problema de Rafinha Bastos?
O problema é que o garoto bateu acima da cintura.
Tudo bem desancar garis, a esquerda que foi à luta nos anos da ditadura, exaltar a parcialidade da imprensa e atacar homossexuais e outros grupos vulneráveis.
Não pode é investir contra o topo da pirâmide social.
Rafinha cometeu esse pecado. Wanessa Camargo é casada com Marcus Buaiz, 31 anos, herdeiro de um dos maiores conglomerados empresariais do Espírito Santo, o Grupo Buaiz, que completa 70 anos em 2012. O grupo é formado pela TV Vitória (afiliada da Rede Record), por duas rádios, pelo Nova Cidade Shopping Center, por várias empresas de alimentação (Café Número Um, Moinho Três Rios e Moinho Vitória), pela Buaiz Importação e Exportação, pela incorporadora Meca e pela Automóbile Comércio de Veículos, entre outras.
Marcus Buaiz transferiu-se para São Paulo, onde é proprietário de casas noturnas e restaurantes, além de uma empresa de marketing esportivo, a 9INE, em parceria com o ex-jogador Ronaldo Fenômeno. Segundo o jornal A Gazeta, de Vitória, o empresário e seu sócio teriam ameaçado tirar anúncios do programa, após a performance de Rafinha Bastos. “Um comercial de 30 segundos no CQC custa 130 mil reais. Já um merchandising pode custar de 240 mil a dois milhões e 400 mil reais, sem incluir cachês”, diz a publicação.
Com tudo isso, a Bandeirantes podou Rafinha Bastos de sua programação.
Dois pesos
O curioso da história é que intenção semelhante, de retirada de um comercial de lingerie do ar, por parte da ministra da Secretaria Nacional de Políticas para Mulheres, Iriny Lopes (PT), foi classificada como censura por colunistas de imprensa e até por colegas seus na Esplanada dos Ministérios.
Na peça, em três versões, Gisele Bundchen faz as vezes de uma esposa prestes a dar uma péssima notícia ao marido: estourou o limite do cartão de crédito, bateu o carro ou informa que sua mãe virá morar com eles. É um machismo digno dos anos 1950. Os publicitários da agência Giovanni+DraftFCB devem ter achado o máximo a própria criação. No clima de boçalidade modernosa, não há problema na mulher bonita, mas dependente do marido provedor, invocar seus atributos eróticos para conseguir o que quer.
Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, a representante governista assim se manifestou: “A propaganda caracteriza como correto a mulher dar uma notícia ruim apenas de lingerie e errado estar vestida normalmente. Essa definição de certo e errado caracteriza um sexismo atrasado e superado”.
A ação da ministra está a quilômetros de distância das ameaças que teriam sido feitas pelo marido de Wanessa Camargo ou pela ação da Bandeirantes, que sem mais tirou Rafinha do ar. Iriny apenas solicitou ao Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (Conar) a suspensão da peça publicitária.
O mundo desabou sobre sua cabeça, com insinuações sobre estética feminina e inveja da modelo.
O caso Rafinha Bastos é pedagógico. No Brasil, além das mulheres, qualquer minoria pode ser atacada. Menos uma: a minoria dos endinheirados.
Fonte: Carta Maior

16 outubro 2011

A marcha dos insensatos


Insensatos ou dementes?


A Amazônia é a maior fonte de vapor continental do planeta, produzindo 7 trilhões de toneladas de vapor por ano. Grande parte da chuva que cai na América do Sul tem origem na floresta. Segundo o físico Paulo Artaxo, do Laboratório de Física Atmosférica da USP, quando o desmatamento atingir 20% da floresta, ela pode entrar em regressão. Sem floresta e sem umidade, as chuvas diminuirão. Parece claro. Porém, a visão mais comum no agronegócio brasileiro é a floresta como um inferno verde, que não produz nada. A marcha dos insensatos segue em marcha acelerada. O artigo é de Najar Tubino.

Enormes pressões
O biodiesel brasileiro é produzido com soja (80 %), em segundo lugar, com sebo bovino, que teve seu preço completamente alterado no mercado do boi, em função desse aproveitamento. São negócios paralelos, cada vez mais reforçam o poder da leguminosa. Seu subproduto mais conhecido é o farelo, usado na ração de aves e suínos, criados no sistema industrial, confinados, com produção intensiva – ciclos de 40 a 180 dias. Os chineses, em 2010, compraram 30 milhões de toneladas em grão do Brasil – 15% da exportação.

A China cresceu, trouxe trabalhadores do campo para a cidade, a renda se elevou, e o consumo de carnes deu um salto. Em 1980, o consumo médio era de 13,7kg, em 2005 foi de 59,5kg, a maior parte de carne suína, embora os chineses tenham importado recentemente 400 mil toneladas de carne de boi. Entretanto, a média mundial também subiu: de 30 kg para 41,2kg, no mesmo período, segundo os dados da FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação).

A produção de carne mundial atingiu 228 milhões de toneladas em 2010. A previsão para 2050 é que duplique – 463 milhões de toneladas, com uma população de 9 bilhões de habitantes. Isso significa que o rebanho bovino crescerá de 1,5 bilhão para 2,6 bilhões de cabeças e o de ovinos e caprinos de 1,7 para 2,7 bilhões de cabeças. A FAO também divulgou um relatório sobre os impactos da pecuária sobre os ecossistemas do Planeta:

- Haverá enormes pressões sobre a saúde dos ecossistemas, a biodiversidade, os recursos em terras e florestas e na qualidade das águas. Os governos devem adotar medidas para reduzir o custo ambiental da expansão da pecuária... Os preços atuais das terras, da água e dos alimentos usados na produção de carne não refletem o verdadeiro valor destes recursos.



Rumo norte
Além disso, 18% dos gases estufa, principalmente o metano (CH4), liberado pelos animais no processo de digestão, serão originários da pecuária. O índice foi considerado exagerado pelas entidades setoriais do agronegócio e provocou um reboliço, na tentativa de contestar os dados. 

Na realidade, o economista inglês, Nicholas Stern, elaborou um relatório sobre a situação do Planeta comparando os vários setores da economia e projetando os impactos sobre os sistemas naturais, atribuiu o índice de 30% sobre a agropecuária, como resultado do crescimento até 2030. O problema é simples: ocupar espaço, derrubar floresta, mudar a condição do solo, usar adubos nitrogenados (todo o modelo agrícola está baseado no tripé Nitrogênio, Fósforo e Potássio, de origem química), implantando monoculturas e grandes criações.

Trata-se literalmente da marcha para o oeste que no meio do caminho pegou o rumo do Norte, simplesmente porque não há mais o que ocupar no oeste. A cana tomou o espaço da pecuária em São Paulo, e os rebanhos foram subindo em direção ao cerrado. Hoje, existem 70 milhões de cabeças nos três estados do Centro-Oeste, somente nos dois Mato Grosso, são mais de 50 milhões. A partir daí, os rebanhos entraram floresta adentro. O Pará em 10 anos, mais que dobrou o rebanho de 6 para 12,8 milhões (segundo dados do censo agropecuário realizado pelo IBGE em 2006). O número já deve ser muito maior. Aqui cabe uma explicação. O Brasil até a década de 1960 tinha um rebanho inexpressivo para o tamanho do país, com exceção do Rio Grande do Sul, onde o gado europeu estava bem adaptado.



Livrar a Amazônia
As pesquisas oficiais apontam para uma perda de Cerrado de 1,1% ao ano, desde a saga do oeste. A região sempre foi desprotegida pelo tipo de vegetação que apresenta, pequenas árvores, arbustos, retorcidos, consequência do alumínio, que está presente no solo, ajudou a formar o conceito de terra sem valor. Na verdade é um ambiente rico em espécies medicinais, mas que tem apenas 2,2% das unidades de conservação do país. E, fundamentalmente, é o local onde nascem os rios mais importantes do Pantanal, e por onde passa o São Francisco. 

Na divisa do Mato Grosso do Sul com Mato Grosso, o rio Taquari deu um sinal de alerta, pouco reconhecido. Acima está a região de Rondonópolis, onde o Grupo Amaggi, responsável pela industrialização de 2,4 milhões de toneladas de soja, montou o seu império. As lavouras implantadas na década de 1980 não deixavam reserva nativa, nem os 20% obrigatório por lei. Resultado: areia, adubo, agrotóxico, tudo para o rio. No caso do Taquari o assoreamento tirou o rio do leito natural e ele espraiou pelo Pantanal de Coxim, invadindo fazendas tradicionais. Virou um alagado permanente.

Nessa mesma época, muitos pesquisadores agrícolas e especialistas em solos, como Mário Ferri, de São Paulo, imaginavam que era preferível ocupar o cerrado, e livrar a Amazônia da invasão da agricultura e da pecuária. A partir da década de 1990, as fronteiras foram rompidas. Pelo censo do IBGE de 2006, as áreas de lavoura na região norte, sem contar Amapá e Tocantins, somavam mais de 10 milhões de hectares. O Amazonas em 1996 tinha 235 mil hectares plantados, em 2006 eram mais de 2,3 milhões. No Pará, pulou de 808 mil para 3,2 milhões de hectares.

Se contarmos o norte do Mato Grosso e o oeste do Maranhã, regiões enquadradas na Amazônia, são mais de 40 milhões de hectares de pastagens, dos 157 milhões no Brasil. A região Norte tem um rebanho de 40 milhões de cabeças, quase 20% do rebanho nacional. Já ultrapassou o abate de 10 milhões de cabeças ao ano. Parte dessa carne é consumida em São Paulo. O Acre tem quase 2 milhões de cabeças. A maioria absoluta de Nelore ou animais cruzados (mistos). Não é à toa que o Brasil é o maior exportador de carne bovina do mundo, com mais de 1 milhão de toneladas, e ainda tem um consumo médio acima de 30 kg por habitante.



Gente de peso
A última fronteira de ocupação chama-se Mapito, sigla que envolve as regiões sul do Maranhã e Piauí e norte do Tocantins. São 3,3 milhões de hectares de soja e um pouco de milho e algodão. Ali perto, mais abaixo no mapa, mas também ganhando espaço, a região do oeste baiano, concentrada em Barreiras, Luis Eduardo Magalhães e São Desidério, com mais de 500 mil hectares de lavouras de soja. Região do aquífero Urucuia (vai do Piauí até o noroeste de Minas), e por isso mesmo, região com lavouras irrigadas por pivô central, capaz de cobrir uma área de 120 hectares, apenas com um equipamento. E os líderes e prefeitos anunciam que existem mais 3 milhões de hectares para ocupar.

E atrai mesmo. Gente de peso. Fundos privados, fundos de pensão estrangeiros, fundos de risco. A começar pelos grandes conglomerados nacionais. A Cosan, agora unida a Schell na Raízen, tem uma empresa especializada na compra de terras - a Radar. Este ano, a previsão da Radar era investir US$850 milhões e adquirir 60 fazendas. Eles já compraram 180 fazendas nos estados do centro-oeste, Tocantins, Maranhão e oeste da Bahia. A meta são 350 mil hectares, Compram, plantam ou arrendam. Em dois anos conseguiram uma valorização de 50% nos preços. Um detalhe: a Radar é controlada pela Cosan, que detém 18,9% do capital, o restante é de fundos de pensão dos Estados Unidos.

A SLC, que já foi fabricante de colheitadeiras (vendeu para a John Deer), possui 250 mil hectares, é uma das maiores produtoras de soja do país. Criou a Land & Co, especializada na com pra de terras, captando dinheiro no exterior de fundos interessados. O projeto era recolher US$300 milhões. Mas o governo federal baixou uma medida limitando a área de terras que estrangeiros podem adquirir – no máximo 5% do perímetro de um município.



A serpente nasce pequena
A previsão da Radar, por exemplo, é que o comércio de commodities está em franca expansão, porque em 2020 a soja deverá ocupar 29 milhões de hectares (acréscimo de 5 milhões) e a cana dobrar sua área de plantio – de 7 para 14 milhões de hectares. Nessa onda globalizada a Nai Commercial Properties, uma multinacional do ramo imobiliário, montou sede no Brasil. Em 2010, intermediou 30 negócios envolvendo grandes áreas, acima de 10 mil hectares. A maior delas na região de Pedro Afonso (TO), de 40 mil hectares, onde a Bunge inaugurou recentemente uma usina de etanol. A um custo de R$6 mil, uma venda de R$240 milhões.

A OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), divulgou um relatório que no ano passado US$ 14 bilhões foram usados na compra de terras. Lógico que os preços subiram. No oeste baiano, o que era R$5 mil/ha, agora custa R$10 mil. A Nai, a múlti imobiliária diz que tem 200 fundos privados estrangeiros interessados na compra de terras no Brasil. Estão cadastrados.

Um fenômeno também global. Compram-se terras na África, a preço de banana, US$1,5 o hectare. Ou arrendam-se a US$12 , como a empresa Addax, suíça, fez no ano passado, pretende produzir cana-de-açúcar em Serra Leoa, país com 6 milhões de habitantes, onde até pouco tempo a guerra impunha a realidade. Os indianos querem investir US$2,5 bilhões em lavouras de palma, arroz e milho na Etiópia, Tanzânia e Uganda. A FAO informa que os estrangeiros compraram entre 50 e 800 milhões de hectares na África e América do Sul. A Coreia do Sul tem 700 mi hectares no Sudão e a Arábia Saudita 500 mil hectares na Tanzânia.

O Grupo Pinesso, com 80 mil hectares de soja e algodão no Mao Grosso, começou uma experiência de 100 hectares de algodão no Sudão, na zona de influência do rio Nilo. Mas pretende implantar 100 mil hectares. As primeiras informações são positivas, ao invés de 18 aplicações de agrotóxicos, lá são necessárias 3 ou 4.

“A serpente nasce pequena”, como diz José Grazziano da Silva, diretor da FAO, recém-eleito. Perto dos 655 milhões de hectares de lavouras no Planeta a investida de estrangeiros em terras africanas, ou americanas pode ser pequena. Entretanto, a tendência é preocupante, porque os que chegam sempre estão com a razão, e normalmente esquecem os ocupantes, muitas vezes, os verdadeiros proprietários – índios e comunidades nativas, enfim, o povo do lugar.

Aqui pertinho temos o caso uruguaio. País pequeno, mais de 6 milhões de hectares comprados por estrangeiros, grande maioria brasileiros e argentinos. Depois transformado em polo produtor de celulose, com imensas plantações de eucalipto. Os pequenos produtores do interior sumiram, ou estão estrangulados.



Mágica é química
O Brasil também tem o outro lado do ofuscante e poderoso agronegócio. A população rural do país diminuiu de 24% para 16,7% entre 1991 e 2006. O número de empregos no setor rural caiu de 23,395 milhões em 1985 para 16,568 milhões em 2006. O número de pequenas propriedades, quer dizer, a área ocupada por elas, diminuiu de 9,987 milhões de hectares para 7,799 milhões de hectares. Ou seja, quase 2 milhões de hectares a menos, o equivalente a 200 mil propriedades em torno de 10 hectares. Que sumiram do mapa. As com mais de 1 mil hectares somam 146,5 milhões.

Até 2050, o aumento na produção de grãos previsto é de 70%, nesse padrão atual. Vai passar de 2,234 bilhões de toneladas para 3,570 bilhões. A maior produção é de milho, 878 milhões nos números do Departamento de Agricultura dos EUA, seguido por trigo 676 milhões e arroz 449 milhões de toneladas. A humanidade tem sua alimentação básica, em mais da metade dos atuais 7 bilhões de habitantes, nestes três grãozinhos. Das 7 mil plantas domesticadas pela espécie humana, somente três se tornaram as mais consumidas. Somando os 276 milhões de toneladas de soja, que se traduzem em alguns milhões de toneladas de carne (boi, galinha e porcos), está fechado o quadro da alimentação humana no Planeta.

Claro que para chegar a tal ponto de produtividade e expansão, tem um segredo muito bem conhecido, pouco divulgado e analisado: os químicos responsáveis pelo crescimento das plantas, pelo combate aos insetos e as “ervas daninhas”, digamos, as invasoras da propriedade alheia. O Brasil é o campeão, bateu os Estados Unidos este ano, vai gastar US$8 bilhões de dólares em herbicidas, inseticidas, fungicidas, acaricidas, ou seja, agrotóxicos. Para quem gosta de transparência: venenos.

Antigamente o símbolo das embalagens desses produtos era uma caveira no meio de dois ossos, para ficar bem claro o perigo que representam. Na era moderna, onde a civilização eletrônica e extremamente informada, as embalagens são coloridas, de plástico, e muitas vezes confundidas com refrigerantes, quando o líquido escuro é diluído, no caso das verduras e dos legumes. A vida é moderna, mas os venenos são obrigatórios. No caso do Brasil a quantidade oficial passa de 1 milhão de toneladas. O contrabando faz parte, como confirmam as apreensões do primeiro semestre de 2011 (20 toneladas). O Sindicato da Indústria de Defensivos Agrícolas (Sindag), divulga a falsificação e o consequente contrabando em 9% do volume usado. O Sindicato dos Auditores da Receita Federal, considera que 30% dos produtos usados no Brasil não tem origem conhecida. No ano passado foram 230 mil toneladas importadas, 20% da China e 20% da Argentina. O problema não são somente as falsificações, mas produtos banidos, como DDT, o mais conhecido dos organoclorados, continuam sendo usados.



Pássaros não voltam
As descobertas, em 1938, pelo cientista Paul Muller do DDT revelam uma ironia trágica. Na época, era usado até para combater traças na roupa de casa. Era algo milagroso. Em 1948, o cientista ganhou o Prêmio Nobel de Medicina. Calcula-se que 3 milhões de toneladas de DDT tenham sido produzidas até a década de 1970, quando foi proibido nos Estados Unidos. Na Amazônia e em outras regiões tropicais continua sendo empregado no combate ao mosquito da malária. Funcionários da Sucam (Superintendência de Combate a Malária), ainda lutam na justiça para receber indenização pela contaminação. 

O mesmo não aconteceu com os milhares de vietnamitas – entre 650 mil e 4 milhões- da Federação Vietnamita das Vítimas do Agente Laranja, também conhecido como 2,4-D, despejado nas florestas do país, durante a guerra na década de 1960. Os tribunais americanos não reconheceram os direitos dos vietnamitas, mas a indústria química pagou US$180 milhões de indenizações a 15 mil veteranos do exército dos Estados Unidos. O 2,4-D continua sendo usado como desfolhante, para matar plantas. Seu nome é decorrente da cor dos tambores, que identificavam o produto e a empresa fabricante, quando chegava ao front.

Em 1962, uma cientista americana, Raquel Carson, denunciou pela primeira vez as consequências da contaminação de agentes químicos em seres humanos e na vida natural. O livro “Primavera Silenciosa” foi lançado no Brasil em 1964, logo expurgado. O título traduz uma situação real. Numa determinada primavera os pássaros migratórios não voltaram. É como se a primavera no Brasil iniciasse sem o canto do sabiá laranjeira (do papo laranja). No caso dos Estados Unidos foram os papos-roxos, que costumavam procurar minhocas no solo, junto aos Olmos, árvore típica do país, que tinham sido tratados com DDT, contra ataque de insetos. Os pássaros comeram minhocas envenenadas e morreram.

Sobre contaminação de químicos, no mundo de hoje, é absolutamente impossível fazer qualquer comparativo. Porque todos os seres vivos do Planeta tem algum tipo de contaminação. Não se pode comparar, ter uma testemunha referência, que esteja imune.

O DDT já foi encontrado no leite de ursas na maternidade do Svalbart, um arquipélago perto do Ártico, pertencente à Noruega – maternidade onde muitos ursos procriam. As moléculas desses venenos organoclorados ou fosforados grudam na gordura, qualquer tipo de gordura. E o efeito vai se acumulando. Pode durar décadas. Outros evaporam, após seis horas de aplicação. As moléculas viajam por quilômetros, até encontrar um ponto de fixação, que pode ser um animal, um vegetal, ou simplesmente, um córrego.



Campeão de agrotóxicos
No Brasil, por uma questão óbvia, é a soja que mais usa agrotóxicos: 44%, seguido pelo algodão (11%), cana (9%) e o milho (8%). As quantidades na safra 2009-2010 foram: 530 mil toneladas para soja (23,2 milhões de hectares), 143,7 mil toneladas nas lavouras de milho, 70,9 mil na cana e 69,6 mil no algodão, os dois últimos com áreas menores.

Os agrotóxicos mais vendidos são herbicidas, usados no combate as plantas invasoras. Foram 632,2 mil toneladas, com faturamento de R$2,5 bilhões. Em segundo lugar, os inseticidas com faturamento de R$1,9 bilhão e os fungicidas com receita de R$1,7 bilhão. Todos os dados são do Sindag. Aqui cabe outra explicação.

Na década de 1990, a indústria química começou a comprar as empresas produtoras de sementes. Foi nesta época que iniciaram os experimentos com os transgênicos, já ao nível comercial. A Monsanto, que domina o mercado de transgênicos no mundo, iniciou este movimento. A razão é muito simples: planta transgênica reage com o químico, no caso o herbicida, da mesma empresa. A planta é imune ao veneno. Em 1999, num congresso mundial da Monsanto, os executivos da empresa previam quem em 15, 20 anos, todas as sementes seriam transgênicas.

Em parte, as previsões se confirmaram. No caso da soja, a maior parte da produção é transgênica, principalmente nos Estados Unidos (83 milhões de toneladas), na Argentina (produção de 55 milhões de toneladas), e no Brasil a maior parte aderiu. O sojicultor compra a semente e o químico correspondente. As empresas usam como argumento a queda no número de agrotóxicos utilizados nas lavouras. Porém, cresceu na mesma intensidade, o volume de herbicidas. No caso do Brasil, houve aumento no uso de fungicidas, consequência da ferrugem asiática, um fungo que ataca as lavouras.

O que interessa mesmo é o seguinte: o Brasil é o campeão no uso de agrotóxicos no mundo. Os Estados Unidos que tem uma área de 64 milhões de hectares com lavouras de soja e milho, principalmente, registraram queda de 4,8% no volume de agrotóxicos, entre 1998 e 2007, segundo a Agência Ambiental (EPA). Ou seja, tem 50% mais de área, além disso, produzem mais que o dobro. Com destaque para o milho: a previsão é de 378 milhões de toneladas na próxima safra ( 40% para produção de etanol) . Aliás, os Estados Unidos representam 55% do comércio mundial de milho, 44% da soja, 41% do algodão e 28% do trigo.

Em relação ao trigo existem mudanças, porque se formou um corredor de exportação no Mar Negro, e envolve a Rússia (26 milhões de hectares), Ucrânia (10,7 milhões) e o Cazaquistão (14 milhões de hectares). Outros países do leste europeu também ampliaram suas áreas de plantio, assim como alguns africanos, como a Nigéria (7,5 milhões de hectares).

As empresas também rebatem que nos trópicos tem mais pragas. Deve ser isso. Dos 1,4 mil produtos registrados no Brasil como agrotóxicos, somente 21 são biológicos. As práticas de combate biológico, usando estratégias como dos feromônios, orientadores sexuais, ou, insetos que combatem outros, considerados pragas em lavouras – como a broca da cana -, já são usados largamente, mesmo no Brasil. Não é por outra razão que os plantios de orgânicos crescem intensamente pelo Planeta, e alguns organismos internacionais relatam que é um mercado de US$34 bilhões. Os estadunidenses são os maiores compradores, de países da Europa, particularmente, da Espanha.



Boi, soja e eucalipto
A previsão do Banco Mundial é de alta de 20% dos alimentos até 2018. Os índices de commodities, que os investidores internacionais usam para aplicar no mercado futuro, registraram este ano US$410 bilhões, inclui os metais. Mas US$60 bilhões, foram quantificados como acréscimo no último ano nas mercadorias agrícolas, com preços internacionais, como soja, açúcar, café, trigo, milho, arroz, todos com preço acima, em relação a 2007, período pré-crise financeira. Quer dizer, a comida virou alvo da especulação financeira mundial.

Os ingredientes da Marcha dos Insensatos se encaixam como um jogo de cartas marcadas, cujo final ainda é desconhecido. No entanto, sabe-se o que os resultados podem proporcionar. Além das lavouras de exportação temos que considerar a expansão do eucalipto, não somente como matéria-prima da celulose, como cavacos para produzir energia, ou carvão nos fornos das siderúrgicas. Um exemplo prático. O “Plano 2024” da Suzano Papel e Celulose, prevê uma fábrica de celulose no Maranhã em 2013 e outra no Piauí em 2014, fora outras metas para a Suzano Energia Renovável, tudo para comemorar os 100 anos da empresa. Em Três Lagoas (MS), na divisa com Andradina (SP), a família Batista, dona do JBS, maior produtora de carne do mundo (30,4% de participação do BNDES), está construindo a Eldorado Brasil, outra fábrica de celulose. O sócio (25%) é o advogado Mário Celso Lopez, conhecido como vendedor e comprador de terras no cerrado. Declarou que já vendeu 1 milhão de hectares no Mato Grosso e 500 mil hectares no MS. Tem um confinamento de bois em Andradina, até recentemente, com capacidade para 50 mil cabeças. A Eldorado Brasil está para se fundir com uma empresa florestal, onde participam os mesmos sócios, além dos fundos Petros, Previ e Funcef. Objetivo envolve o plantio de 250 mil hectares de eucalipto nos dois estados. 

Três Lagoas virou um polo industrial de celulose, conta com a International Paper na área de papel, e a Fibria, com fábrica produzindo mais de 1 milhão de toneladas/ano e que será duplicada – Fibria, resultado da união da Votorantim Celulose e Aracruz. Portanto temos um tripé: boi, soja e eucalipto se expandindo no cerrado e entrando na Amazônia. A cana corre por fora. A Marcha dos Insensatos segue o rumo norte.



Insensatos ou dementes
Em 1999, um grupo de cientistas de todas as áreas se reuniu em Macapá, para fazer um profundo diagnóstico sobre a Amazônia. O resultado é um livro, completamente documentado sobre espécies, clima, áreas diferenciadas. O que chama a atenção é a quantidade de vapor que a floresta amazônica produz: 7 trilhões de toneladas por ano. Grande parte da chuva que cai na América do Sul tem origem na floresta. Ela é a maior fonte de vapor continental do Planeta, conforme as informações do físico Paulo Artaxo, do Laboratório de Física Atmosférica da USP. Ele tem relatado constantemente um evento que poderá ocorrer com a floresta, quando ela atingir 20% de desmatamento. Trata-se do ponto de equilíbrio, a partir de tal marco, a floresta entra em regressão. Um número que está em discussão. De qualquer maneira o número oficial do desmatamento da Amazônia é de 18% da área total. 

Como a maior fonte de vapor é óbvio que a Amazônia é um dos componentes do clima mundial. Ou seja, se a Marcha dos Insensatos seguir em frente, atingiremos o ponto de regressão. Mais cedo do que se esperava. Sem floresta e sem umidade, as chuvas diminuirão. Parece claro. Porém, a visão mais comum no agronegócio brasileiro é a floresta como um inferno verde, não produz nada. É por isso, que no início, defini esta marcha – acompanhada por mim nos últimos 20 anos, 13 deles morando em Campo Grande (MS) - como dos Insensatos. Podem ser indivíduos sem senso, por consequência, falta de juízo. Ou, também existe, uma segunda definição no dicionário – demente. Na verdade, com o andar da Marcha, saberemos se ela será dos Insensatos ou dos Dementes.



Fonte: Carta Maior