20 agosto 2013

Seria o lixo um caos inevitável?


Você já parou para imaginar para onde vai tanto lixo que descartamos durante a vida? É certo que uma parte desse lixo transforma-se novamente em matéria-prima através da reciclagem e da reutilização, mas a maior proporção de toda essa sujeira ainda é descartada na maioria das vezes inadequadamente no meio ambiente.

Pense em algumas décadas a frente e logo imaginará onde o ser humano vai descartar tanto lixo com os aterros sanitários ‘entupidos’. Leve em consideração que nem todo descartável pode passar pelo processo de incineração ou outra forma de destruição, por que alguns produtos liberam substâncias tóxicas ou tornam-se inutilizáveis depois de usados. Fora do planeta Terra já temos lixo espacial ‘flutuando’ livremente por toda a órbita.

O enorme deposito de lixo do pacífico.


Enquanto isso, no oceano pacífico uma camada gigantesca de mais de 680 mil quilômetros quadrados de sujeira ‘flutuante’ não para de crescer formando o maior depósito de toneladas de lixo do mundo.

A área se estende da costa da Califórnia e vai até o litoral havaiano onde cerca de 90% da sujeira é plástico. Pequena parcela desse descarte é feito por navios ou plataformas petroleiras mas sem dúvida a grande quantidade vem de terra firme. Nesse ‘mar morto’ o entulho plástico de acordo com o Programa Ambiental da ONU é responsável pela morte anual de mais de um milhão de aves, cem mil mamíferos como focas e baleias e as grande vitimas, as tartarugas marinhas que ao tentarem engolir o plástico morrem sufocadas.

A cada ano a placa de lixo sobre o pacifico só aumenta e parecem não ter sido tomada qualquer tipo de providência para conter o acumulo dos dejetos no oceano. Talvez, quando for tarde demais e esse lixo transbordar do meio do pacífico para as praias em grandes proporções, o ser humano irá enxergar que tudo o que ele produziu pensando apenas em lucros sem uma política adequada de tratamento de resíduos sólidos, tornar-se-á um caos mundial.

Leia mais em: Ciência e Tecnologia

19 julho 2013

Com quem você acha que está falando?

Assim deveria caminhar toda a humanidade



No dia 9 de julho desse ano, a prefeitura de Vancouver divulgou os números atualizados da cidade, entre os quais, consta a redução de 4% das emissões de gases de efeito estufa. Depois de ter assumido o compromisso de se tornar a cidade mais verde do mundo em 2020 e estabelecido suas metas, o governo mostra com transparência todos os progressos em documento oficial aberto ao público geral.

Entre os avanços, o desperdício na cidade, que era 480 mil toneladas por ano, caiu para 428 mil, um número ainda grande para quem quer chegar a apenas 240 mil toneladas desperdiçadas anualmente até 2020. Porém essa redução de 11% marca um começo otimista para a meta ambiciosa de desperdício zero.

Com sete anos ainda pela frente até o prazo final, Vancouver tem dado passos firmes em direção ao posto número um. A posição atualmente é considerada de Reykjavik, capital da Islândia, em cuja energia provém unicamente de fontes renováveis, realidade diferente da cidade canadense. Os combustíveis fósseis são um dos inimigos no caminho para reduzir a pegada ecológica e combater as mudanças climáticas e, desde 2011, já foram reduzidas cerca de 100 mil toneladas no total de emissões anuais de Vancouver. Nessa competição saudável onde não há júri oficial, ganha um planeta de vencedores, independente de qualquer ranking.

É importante fazer a ressalva de que apesar da redução de lixo, poluição e, consequentemente, da pegada ecológica, a cidade não parou de crescer. Tanto a população quanto a economia, que continua próspera. Um dos principais trunfos do Plano de Ação é considerar aspectos econômicos conciliados aos interesses ambientais. A Comissão Econômica de Vancouver (VEC) apoia os chamados empregos verdes, aqueles que contribuem significativamente para preservar ou restaurar a qualidade ambiental. De acordo com a última pesquisa (2010), a cidade conta com quase 15 mil pessoas que trabalham em posições consideradas verdes, que incluem técnicos em energia, profissionais em reciclagem, gerentes de sustentabilidade, entre outros, assim como talvez um dos mais importantes e tantas vezes não lembrado, professor. 


A tarefa dos educadores que moldam mentes para o futuro é de suma importância para criar o pensamento verde nos alunos e ensinar uma população inteira a matemática do planeta Terra. A conscientização anda lado-a-lado com os investimentos concretos. No caminho do desenvolvimento sustentável, Vancouver amplia ciclovias, investe em parques e áreas arborizadas, estimula empregos e construções verdes, fortalece o comércio local, vai atrás da excelência na água e no ar, e vê seu futuro criar raízes numa terra fértil.

O movimento por uma cidade mais verde tem contagiado na internet também, onde pessoas trocam ideias e acompanham a corrida em nome da sustentabilidade. As redes sociais, por exemplo, além de uma forma eficaz para divulgação de informações, dispensam qualquer impressão em papel – as árvores curtem isso.

O esforço de Vancouver foi reconhecido pelo grupo da Hora do Planeta, que a premiou como a capital de 2013 de acordo com a escolha do público. Numa época em que meio ambiente virou assunto sério no discurso de governantes, está na hora de ver suas frases em papéis que façam as coisas acontecerem. Assim como Vancouver, está na hora de outras localidades fazerem seus planos de ação e arregaçarem as mangas. O relógio do planeta espera que todos fiquem na hora certa e não ponham o alarme para despertar tarde demais.


Fonte: O Eco

15 julho 2013

Carro ecologicamente correto faz até 21 km por litro de combustível no AC


Um veículo 1.4 com potência de carro 1.6 e economia de combustível de 1.0. Um automóvel que roda cerca de 240 km com 12 litros de combustível, fazendo pouco mais de 21 km por litro e que com mais de 61 mil km rodados teve sua última troca de óleo quando ainda estava com 8 mil km. Tudo isso somado ao fato de estar preocupado com a preservação do meio ambiente. Assim é o Montana do economista carioca Álvaro Augusto de Oliveira, de 55 anos, natural de Resende, no estado do Rio de Janeiro, e que mora em Rio Branco, capital do Acre, desde 2007.
Augusto conta que quando chegou ao Acre percebeu que seu gasto com combustível era muito alto, impactante no dia a dia. Então, passou a pesquisar formas para minimizar os custos.
“Descobri que durante a Segunda Guerra Mundial, quando os ingleses estavam no deserto na África, tinham dificuldade de ter acesso a combustível, principalmente para avançar das linhas alemãs. Com isso, projetaram um sistema com caixas herméticas onde se produzia o hidrogênio a partir da água. Fiquei curioso, pois falava em anodo, catodo, que são as placas que através do choque na água, revertiam a equação de duas de oxigênio para duas de hidrogênio. Pesquisando mais a fundo, descobri formas de fazer com que isso saísse da teoria e fosse para a prática”, afirma.
(...)
Investindo para economizar e contribuir com o meio ambiente
O sistema foi construído pelo próprio economista, que diz ter investido algo em torno de R$ 3 mil, adquirindo as peças necessárias em mercados diversos. “A água utilizada pode ser da chuva, que é isenta de cloro. Pode ser também do ar condicionado. É uma água que tem a condutividade perfeita. Coloco cerca de ½ copo de água a cada 500 km”, afirma Augusto.
Ele diz que o sistema ecologicamente correto pode ser desenvolvido em qualquer automóvel, inclusive em barcos, caminhões, geradores de energia elétrica. “Pode ser aplicado desde que haja uma bateria para transformar energia mecânica em energia química”, garante.
De acordo com Álvaro Augusto, antes da implantação do sistema no seu carro, gastava, em média, R$ 700 de combustível por mês. Depois passou a utilizar o recurso o gasto reduziu para cerca de R$ 250.
(...)
Sistema semelhante para motocicletas
Álvaro Augusto criou também um sistema semelhante ao instado em seu automóvel, mas para motocicletas. “Como a moto é um veículo menor, necessita de um sistema menor para poder não ocupar muito espaço. Criei uma célula que pode ser parafusada na carenagem da moto e é ligada no fio da bateria nos dois polos (anodo e catodo). Ela gera o hidrogênio que auxilia na queima do combustível junto com a gasolina. Já testei no carro e é eficiente”, garante.
O economista declara que não pretende patentear suas criações. Para ele, produtos como esses devem ser socializados com todos pensando no futuro do planeta. “O ideal é que todo mundo use. A poluição do meio ambiente é muito grande, então temos que socializar isso com as pessoas, democratizar ao máximo porque o planeta é nosso e dos nossos filhos. Não adianta querermos pensar só no lado financeiro da coisa, querer só ganhar dinheiro e acumular cada vez mais riqueza. Daqui a pouco a gente morre e a poluição continua”, justifica Álvaro Augusto.
Ele fala que nunca ouviu ser chamado de louco quando fala sobre a economia de combustível que tem com seu carro, mas acredita que muitos devem pensar isso. “O pessoal duvida muito, mesmo vendo as coisas são céticos. É uma coisa que está me beneficiando então está tudo bem, por isso evito até mostrar para as pessoas. As pessoas são muito descrentes hoje em dia”.
Observando que no custo dos bens que consumimos diariamente, o combustível está diretamente envolvido, Augusto revela que está trabalhando em uma técnica para produzir óleo diesel e gasolina a partir de óleo de cozinha já utilizado. “É o combustível ecologicamente correto. Só me falta o espaço adequado para poder produzir e armazenar”, conclui.
(...)
Fonte: G1

04 julho 2013

Projeto de royalties do Senado corta metade do recurso para Educação


Versão também reduz a 15% valor previsto para Saúde em relação a projeto da Câmara, que agora tem a incumbência de mandar uma das duas versões para Dilma

As alterações feitas pelo Senado no projeto de lei aprovado na Câmara que destina os royalties do petróleo cortaram metade do valor que seria destinado para Educação e reduziram a 15% o que Saúde receberia até 2022. Agora, o substitutivo volta a Câmara e os deputados serão responsáveis por escolher entre o projeto em que haviam votado antes – por unanimidade em meio ao calor das manifestações que tomara as ruas no Brasil – e o que chega alterado pelos colegas senadores.
O projeto original, enviado pela presidente Dilma Rousseff renderia em 10 anos R$ 25 bilhões para Educação. As alterações da Câmara elevaram o valor para R$ 279 bilhões, reservando um quarto para saúde (R$ 70 bilhões) , ou seja, apesar da divisão com outra área ainda aumentava em oito vezes o valor para o ensino que passaria a R$ 209 bilhões.
O Senado fez uma terceira versão em que retira Saúde da fatia sobre os royalties que serão pagos nestes próximos anos e a área fica apenas com um quarto do rendimento do fundo depositado, mas também diminui o valor total para os dois setores. Segundo planilha da Comissão de Petróleo da Câmara elaborada pelo consultor parlamentar Paulo Cezar Ribeiro Lima, a proposta do Senado garante em 10 anos 108 bilhões, R$ 10,7 bilhões para Saúde e R$ 97 bilhões para Educação (54% a menos).
AnoValor pelo projeto da Câmara Valor pelo projeto do Senado
2013R$ 6,15 bilhõesR$ 0,87 bilhões
2014R$ 2,24 bilhõesR$ 1,81 bilhões
2015R$ 8,44 bilhõesR$ 2,88 bilhões
2016R$ 6,80 bilhõesR$ 5,04 bilhões
2017R$ 17,06 bilhõesR$ 7,66 bilhões
2018R$ 24,33 bilhõesR$ 10,69 bilhões
2019R$ 40,62 bilhõesR$ 14,77 bilhões
2020R$ 47,71 bilhõesR$ 19,26 bilhões
2021R$ 62,07 bilhõesR$ 22,04 bilhões
2022R$ 63,66 bilhõesR$ 23,16 bilhões
Total R$ 279,08 bilhõesR$ 108,18 bilhões

O valor impossibilita chegar a 10% do PIB brasileiro ao final de uma década e, com isso, cumprir o Plano Nacional de Educação (PNE) que estabelece 20 metas básicas para melhorar a qualidade e o acesso ao ensino no Brasil. “A força das ruas já garantiu avanço em relação ao projeto inicial, mas se esta proposta passar, será insuficiente”, diz o coordenador-geral da Campanha pelo Direito à Educação, Daniel Cara.
Limitação para professores
O projeto do Senado também colocou teto de 60% para aplicação dos recursos com professores. A Câmara dos Deputados havia incluído o pagamento de salários para que Estados e Municípios tivessem mais dinheiro para investir na valorização do professor. 
O Senado fez modificações que colocam a seguinte redação ao texto. “As receitas poderão ser aplicadas no custeio de despesas com manutenção e desenvolvimento do ensino, especialmente na educação básica pública em tempo integral, inclusive as relativas a pagamento de salários e outras verbas de natureza remuneratória a profissionais do magistério em efetivo exercício na rede publica, limitado a 60% do total”.
Gestores público têm reclamado que o piso salarial dos professores, ajustados acima da inflação para reverter a desvalorização do profissional, ameaça orçamentos de Cidades e Estados menos abastados. Até o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, já afirmou a necessidade de frear o aumento no piso dos professores .

A expansão humana e o encolhimento da biodiversidade



Um dos maiores problemas ambientais causados pelas ações humanas é a acelerada redução do número de espécies existentes, todas elas resultantes de um antiquíssimo processo evolutivo. Pelo que sabemos, cerca de um e meio bilhões de anos após a formação da Terra, apareceram formas muito primitivas de vida nos oceanos, mas os organismos mais complexos só surgiram há algo como 600 milhões de anos, passando por autêntica explosão de biodiversidade 50 milhões de anos mais tarde e, desde então, a vida tem evoluído e se diversificado através dos tempos, até os dias atuais. Esse quadro, desvendado como resultado de pesquisas geológicas e paleontológicas, evidencia-nos as linhas gerais do extraordinário espetáculo da história da vida, da qual nós, seres humanos, fazemos parte. Sua revelação foi um dos mais espetaculares feitos da mente humana.

Ao longo dos tempos, inúmeras espécies surgiram e desapareceram, as que se extinguiram substituídas por outras delas descendentes, demonstrando uma tendência geral de aumento de biodiversidade. Não obstante, esta tendência não foi constante, exibindo sempre períodos de acréscimos e de diminuição. Épocas houve em que, devido a fenômenos climáticos e geológicos excepcionais, e mesmo a impactos de corpos celestes de avantajadas dimensões, os eventos de extinção se acentuaram brutalmente. Nos últimos 500 milhões de anos são reconhecidos pelo menos cinco desses episódios particularmente devastadores, denominados “extinções em massa” pelos estudiosos da história da vida. Após todos eles, contudo, dentro de alguns milhões de anos, a biodiversidade foi recomposta por novas espécies geradas pela evolução daquelas sobreviventes ao cataclismo biológico. O mais intenso desses episódios, ocorrido há 250 milhões de anos, extinguiu entre 70% a 90% de toda a vida na Terra.

Hoje, vem sendo evidenciado que vivemos uma sexta extinção em massa, desta vez causada por uma só espécie: o homem. A diferença das demais é a sua velocidade, muitíssimas vezes mais acelerada. Enquanto as outras arrastaram-se durante muitos milhares ou milhões de anos – exceto talvez uma delas aparentemente causada por um impacto de um corpo celeste há 65 milhões de anos - a atual vem ocorrendo em apenas poucos séculos, e está em aceleração acentuada.

Humanos causam extinção acelerada


As causas dessa hecatombe biológica atual são múltiplas, mas basicamente se resumem à explosão demográfica humana e suas consequências, com a ocupação e destruição dos ecossistemas naturais decorrentes da agropecuária, construção de cidades e estradas, e demais atividades impactantes, além da exploração ambiciosa e descontrolada dos recursos naturais de toda ordem. Basta lembrar que a espécie humana, Homo sapiens, levou cerca de 200.000 anos desde sua origem na África, segundo ensinam os conhecimentos atuais, para alcançar 1,5 bilhões de seres no início do Século XX, e em apenas pouco mais de um século atingiu os sete bilhões de hoje, com a perspectiva de crescer mais três bilhões até o fim deste século. É evidente que estamos ocupando aceleradamente os espaços vitais dos demais seres vivos, destruindo seus ambientes naturais, e explorando-os sem quaisquer considerações com o futuro.

Por tais razões, uma avaliação científica terminada em 2010, estudando a situação dos seres vivos que puderam ser quantificados, levou à conclusão que estão em processo de extinção 21% dos mamíferos, 12% das aves, 28% dos répteis, 30% dos anfíbios e, surpreendentemente, nada menos do que 71% das plantas, com a situação tendendo ainda a agravar-se. Enquanto o tamanho da população humana é medida em bilhões de indivíduos, as de muitos animais, principalmente os de grande porte, o são em poucos milhares e, mesmo, centenas ou apenas dezenas. Claro está que todos esses seres se avizinham rapidamente da extinção. Um colossal número de espécies sofre com seus hábitats repetidamente fragmentados, e estes fragmentos não cessam de reduzir-se. E o mesmo acontece com as populações de plantas e animais neles existentes. Se as tendências atuais forem mantidas, a biodiversidade em futuro não distante tornar-se-á profundamente reduzida.

E como será possível inverter tais tendências ou, pelo menos, atenuá-las? Acima de tudo, propiciando ampla conscientização de todos que nós também fazemos parte da natureza e que dela dependemos pelos seus serviços ambientais; e, ainda, reconhecendo que não é ético eliminarmos a diversidade dos demais seres vivos. Além dessa medida essencial, é indispensável estabelecerem-se áreas naturais, em terra e no mar, nas quais se mantenha o mínimo possível de influência humana direta. Em conferência internacional havida em 2010, foi recomendado que para este fim fossem cuidadosamente reservados 17% de todas as áreas terrestres e 10% das marinhas. 

E, além de tudo isso, é fundamental reconhecermos que não somos a última geração e que devemos às futuras a herança de um planeta tão íntegro quanto possível, pelo menos tanto quanto o recebemos de nossos antepassados.


Fonte: O Eco

01 julho 2013

Os Ombros Suportam o Mundo



Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.


Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada esperas de teus amigos.


Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
Teu ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo,
prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.


Carlos Drummond de Andrade

O que nos separa dos macacos?

30 junho 2013

Fotógrafo capta reação das pessoas ao testemunharem sofrimento dos animais em matadouro





Uma vez, Paul McCartney disse a famosa frase: “Se os matadouros tivessem paredes de vidro, todos seriam vegetarianos.” Bom, um grupo de defensores dos animais encontrou uma maneira de trazer o matadouro para a calçada. Aos sábados pela noite, as voluntárias Jennifer Mennuti e Boyd Weidman, do PETA, transmitirão “Fazenda de corte em 60 segundos”, para os pedestres na rua Lincoln Road, em Miami, nos EUA.
Para muitas pessoas, é a primeira vez que olham para os rostos dos animais que eles chamam de “bife”, “presunto” ou “pepita”. Estão diante da prova irrefutável de que sua “entrada” era, na realidade, uma vaca que tossiu e engasgou quando o sangue derramando de sua garganta cortada correu pelo seu rosto e cobriu o andar de baixo; um porco que gritava e chorava quando queimado até a morte em água quente; uma galinha, cujos desesperados gritos foram ouvidos enquanto suas pernas eram quebradas e era batida em grilhões e olhava passando os olhos pela longa fila de seus companheiros onde sua vida seria terminada por uma pá. Um fotógrafo captou algumas das reações das pessoas, e parece que Paul estava certo.
O defensor do PETA, Andrew Kirschner, que apresenta um programa de rádio sobre direitos animais, publicou as fotos em seu blog, Kirschner’s Corner, acompanhadas pelas experiências de trabalhadores nos matadouros, extraídas do livro de Gail A. Eisnitz, Slaughterhouse: The Shocking Story of GreedNeglect, and Inhumane Treatment Inside the U.S. Meat Industry (Matadouro: A chocante história da ganância, negligência e tratamento desumano na Indústria de Carnes dos EUA).
A seguir algumas descrições chocantes:
“Eu poderia contar histórias de terror sobre as cabeças de gado presas sob os portões de proteção e a única maneira de tirá-las é cortando-as, ainda estão vivos”.
“Uma vez eu levei a minha faca – afiada o suficiente – e cortei a ponta do nariz de um porco, como um pedaço de mortadela. O porco foi à loucura por alguns segundos. Em seguida, ele apenas ficou lá olhando, como um estúpido. Daí, eu peguei um punhado de sal e salmoura e triturei em seu nariz. Aí sim, o porco realmente enlouqueceu, esfregando o nariz em todo o lugar. Eu ainda tinha um monte de sal na minha mão – estava usando uma luva de borracha – e eu enfiei o sal no rabo do porco. O pobre do porco não sabia se **** ou ficaria cego”.
“Eu vi animais vivos acorrentados, hasteados, presos, e sem pele. Demais para contar, muitos para lembrar. É apenas um processo que nunca para. Eu vi porcos, que deveriam estar deitados, no transportador, sangrando, se levantar depois de terem sido presos. Eu vi porcos na banheira escaldante tentando nadar”.
“Estes porcos chegam até o tanque de água escaldada, encostam na água e começam a gritar e a chutar. Às vezes, eles se agitam tanto que chutam a água para fora do tanque … Mais cedo ou mais tarde eles se afogam. Há um braço rotativo que os empurra, impedindo que saiam. Eu não sei se eles queimam até a morte ou se morrem afogados, mas demoram alguns minutos para tudo terminar”.
“Os porcos se estressam muito facilmente. Se você os estressa muito, eles têm ataques cardíacos. Se você receber um porco em uma rampa que teve o **** cutucou fora dele e tem um ataque cardíaco ou se recusa a se mover, você pega um gancho de carne e o liga em seu rabo [ânus]. Os porcos vivos são arrastados vivos, um monte de vezes, enquanto o gancho rasga a carne do rabo. Eu vi presuntos – coxas – completamente rasgados. Eu também vi intestinos sair. Se o porco cai perto da frente da rampa, você enfia o gancho de carne em sua bochecha e o arrasta para a frente.
“Às vezes eu agarro o porco pela orelha e enfio através do olho. Eu não apenas estou tirando o seu olho fora, vou enfiar toda faca até o punhal, até o cérebro, e mexer a faca”.
“Os porcos no matadouro já vieram até mim pedindo carinho como se fossem filhotes. Dois minutos mais tarde eu tive de matá-los – bater neles até a morte com um cano”.
“Você não apenas o mata, você pega pesado, empurra com força, explode sua traqueia, faz com que se afogue no seu próprio sangue. Corta seu nariz. Um porco vivo estaria correndo em torno do poço. Estaria apenas olhando para mim e eu o degolaria, pegaria minha faca e furaria seus olhos. E este porco só iria gritar”.
“Eu já vi caras pegarem cabos de vassouras e enfiarem no trazeiro das vacas, ferrando-as com as vassouras”.
“Ele os chutará os porcos, os cutucará com o tridente, usará tudo que estiver aos seu alcance. Ele já quebrou três tridentes esse ano, usando-os contra os porcos. Ele não se importa se ele acerta seus olhos, cabeça ou bunda. Ele usa tanta força que quebra o cabo de madeira. Então ele os utiliza como bastão para acertá-los nas costas”.
“Eu já arrastei vacas até que seus ossos começassem a quebrar, enquanto elas ainda estavam vivas. Quando as estou trazendo até o canto e elas ficam presas na porta de entrada, puxo até que sua pele seja rasgada, até que o sangue escorra no concreto e ferro. Quebro suas pernas…. E a vaca chora com sua língua pendurada. Eles puxam os animais até que seus pescoços quebrem”.
As pessoas perguntam: por que você é vegano? Talvez seja hora de compartilharmos esse vídeo com eles:

Tocando em frente



Ando devagar porque ja tive pressa
E levo esse sorriso porque já chorei demais..
Hoje me sinto mais forte
Mais feliz quem sabe?
Eu só levo a certeza do que muito pouco sei..
Ou nada sei..
Conhecer as manhãs e as manhãs...
O sabor das massas e das maçãs...
É preciso amor pra poder pulsar..
É preciso paz pra poder sorrir..
É preciso a chuva para florir..
Penso que cumprir a vida seja simplesmente
Compreender a marcha e ir tocando em frente..
Como um velho boiadeiro levando a boiada
Eu vou tocando os dias pela longa estrada
Eu vou...estrada eu sou...
Conhecer as manhãs e as manhãs...
O sabor das massas e das maçãs...
É preciso amor pra poder pulsar..
É preciso paz pra poder sorrir..
É preciso a chuva para florir..
Todo o mundo ama um dia..todo o mundo chora..
Um dia agente chega..o outro vai embora..
Cada um de nos compoe a sua historia..
E cada ser em si carrega o dom de ser capaz de ser feliz....
Conhecer as manhas e as manhãs...
O sabor das massas e das maçãs...
É preciso amor pra poder pulsar..
É preciso paz pra poder sorrir..
É preciso a chuva para florir..
Ando devagar porque ja tive pressa
E levo esse sorriso porque ja chorei demais..
Cada um de nos compoe a sua historia..
E cada ser em si carrega o dom de ser capaz...de ser feliz..

24 junho 2013

Cinco pontos importantes



Se ontem você se vestiu de verde e amarelo, empunhou a bandeira do brasil, entoou o hino nacional, condenou os "atos de vandalismo", usou máscara do anonymous e/ou apoia a repressão aos partidos políticos que tem acontecido nos manifestos, eu queria dizer umas coisas pra você e só vai levar 5 minutos, eu juro:

1. A bandeira do Brasil foi criada em 1889, na declaração da nossa primeira república (chamada de "republica da espada", nome maneiro, né?), quando MILITARES tomaram o poder ao lado das elites latifundiárias de nosso país. O Brasil, portanto, assim como o seu hino (que exalta uma independência que nunca ocorreu, muito menos "às margens plácidas" do rio ipiranga), são uma invenção das elites e setores militares positivistas. A mesma elite militar que hoje nos reprime com gás e pimenta nas ruas.

2. A "máscara do V de Vingança" que você comprou por 20 reais inflacionada do ambulante esperto, simboliza o rosto do revolucionário britânico Guy Fawkes. Este homem, um católico fanático, atuou na chamada "conspiração da pólvora" no século XVI, que desejava EXPLODIR O PARLAMENTO BRITÂNICO e destituir o rei protestante Jaime I. Portanto, antes de vir com gritos de "sem violência", entenda que esta merda de máscara representa, por si só, um movimento que pretendia ser violento.

3. Há 30 anos atrás, saímos da horrível ditadura militar que assolou nosso povo por décadas. Naquele momento, nossos partidos políticos puderam voltar a ativa e atuar livremente pelo país, como estabelece a democracia. Muitos deles, da grande maioria esquerdistas, se organizam desde então ao lado dos movimentos sociais pra lutar por tantas coisas que vocês, reacionários coxinhas, acham que só virou luta essa semana. Há ANOS esses partidos lutam pelo passe livre, pela saúde pública, pela educação de qualidade. Há ANOS, esses partidos que vocês, "patriotas", querem coibir COM VIOLÊNCIA (essa violência que vocês tanto condenam) já desenvolvem atos no centro das grandes capitais chamando atenção pra inúmeros problemas que vocês só se deram conta agora e ainda tem a AUDÁCIA de dizer que "o Brasil acordou". Não foi o Brasil que acordou, amigão, foi VOCÊ, CLASSE MÉDIA, que acordou. Os movimentos político-sociais que vocês tanto querem hostilizar, nunca dormiram nesses 30 anos e nem dormirão agora. Aprendam que se o movimento é democrático, toda luta democrática pelo bem do povo deve ser bem vinda. Não sou membro de nenhum partido e nem pretendo ser, mas entendo a importância dos partidos para a representação dos indivíduos. APARTIDARISMO NÃO É ANTIPARTIDARISMO.

4. "Vandalismo" é o que a Guarda Nacional faz com o povo desde o período regencial, é o que os militares republicanos (aqueles que criaram essa bandeira que você carrega nas costas) fizeram com os sertanejos em Canudos, é o que Pereira Passos fez no RJ na Revolta da Vacina, é o que a PM faz nos morros em toda operação preventiva; é o que Eduardo Paes faz com as familias cariocas desalojando-as para a passagem de estradas; é o que Sérgio Cabral faz com regiões históricas da cidade para a construção de estacionamentos e prédios empresariais. O povo (principalmente negros, índios e mulheres) passou por 500 anos sendo vandalizado cotidianamente, vivendo uma democracia do canhão dentro de suas próprias casas. Toda a ira nas manifestações agora, nada mais é do que uma respostas espasmática a tudo isso. Sinto pena de pessoas mortas e não de prédios públicos. PRÉDIOS SÃO APENAS PRÉDIOS E SEMPRE SERÃO. A VIDA DO POVO É MUITO MAIS IMPORTANTE.

5. Tirem esse sorriso da cara. Se a gente tá protestando é porque tá PUTO, não há felicidade no rosto de quem REALMENTE é oprimido.


Texto extraído do Facebook

Com partido! Não dá pra eleger presidente por enquete do Facebook


Um senhor de seus 70 anos tentava caminhar pela avenida Paulista com uma bandeira vermelha do PCO na noite desta quinta-feira. Era hostilizado o tempo todo: “Sem Partido!” era o básico. O grito era direcionado a todos com qualquer bandeira ou camiseta de partido político. Sempre gritado em coro, e de forma pausada --“Sem par-ti-dooo!!”. Mais um pouco e um de grupo recém-saídos da adolescência começa a urrar em sua orelha, bem próximo, em uníssono: “O-por-tu-nis-taaa! O-por-tu-nis-taaa!”. O militante veterano teve mais sorte do que muitos outros que tiveram as bandeiras arrancadas de suas mãos e queimadas. “Só pode bandeira do Brasil!” foi a ordem determinada aos berros e que ecoou não apenas em São Paulo, mas em muitas outras cidades do país.
É surreal. E assustador. Achei que democracia fosse outra coisa. Esses garotos só podem protestar livremente agora justamente porque esse mesmo senhor, dentre tantos outros, foram às ruas dezenas de vezes, ajudando a restabelecer a democracia em nosso país. E fizeram isso muito antes desses garotos que o xingam nascerem. Milhares de pessoas foram torturadas e outros tantos morreram para garantir a liberdade de expressão desses que agora querem proibir os outros de se expressar.
E não pode bandeira de nada. Até as do movimento LGBT foram coibidas. Afinal, lembre-se, a regra do exército de patrioteens é clara: “só pode bandeira do Brasil”. Afinal o vermelho poderia macular a micareta da juventude da TFP que ocupou a avenida Paulista --e tantas outras Brasil afora-- nesta quinta.
“Aqui é São Paulo, porra!”
Um dia antes, na quarta-feira, assim que foi anunciada a redução das tarifas em São Paulo e no Rio, cerca de 3 mil pessoas correram para a mesma avenida Paulista para comemorar. Também estive lá. Em um dado momento, o grupo todo parou em frente a Fiesp, a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, um dos prédio mais emblemáticos da concentração de riqueza em nosso país. Por um segundo, me bateu uma esperança --“Vão xingar as grandes empresas”, pensei, iludido. Nada disso. Puseram a mão no peito e começaram a cantar o hino nacional, olhando para as luzes verde e amarelas da fachada, emocionados. Alguns o faziam de joelhos para a Fiesp. Literalmente.
Na boa... o que aconteceu com essa molecada? Que educação tiveram (ou não tiveram)? Em que momento da vida dessa garotada ideais de Plínio Salgado e o Olavo de Carvalho tornaram-se mais atraentes do que a rebeldia, a liberdade, o respeito às diferenças?
Pior: se o grosso da massa verde e amarela nem sabe quem é Olavo e quem foi Plínio, outros sabem muito bem: tinham grupos de ultra-direita organizados pelas ruas de São Paulo na noite desta quinta. Vários. Só pra citar meu exemplo pessoal, dentre tantos outros relatos, um elemento que tentei entrevistar leu meu nome no crachá de imprensa, me ameaçou, tentou arrancar o celular de minha mão e me empurrou quando tentei filmá-lo. Gritava exaltado, expelindo perdigotos na minha cara: “Aqui é São Paulo, porra!!”.
Criminosos à parte, estava nas ruas essencialmente uma massa que odeia partidos (qualquer um), e é contra tudo. Acham que todo político é igual –e corrupto-- e querem o impeachment de Dilma e de quem mais se lembrarem do nome. Pintam o rosto com as cores da bandeira, cantam o hino nacional louvando a Federação das Indústrias (ainda não acredito que vi isso) e nem se dão conta do absurdo da situação. Pior: acham lindo, emocionante.
E não é nada lindo, tampouco emocionante.
Acabar com partidos e tirar todos os políticos do poder é um absurdo e deveria ser obviamente uma sandice. Mas a gravidade do momento exige que certas obviedades sejam repetidas muitas vezes: se derrubarmos todos os políticos, fecharmos o Congresso e acabarmos com os partidos, quem assume a presidência, o Luciano Huck?
E as políticas públicas, serão debatidas onde, no Instagram? E depois de derrubarmos a Dilma provavelmente vamos eleger o próximo presidente por enquete do Facebook.
Os governantes que estão aí, por pior que sejam, foram eleitos. Muitos deles com seu voto, aliás. Parênteses: o senador Cristovam Buarque (PDT-DF), na manhã desta sexta-feira, defendeu na tribuna do Senado o fim de todos os partidos. Inacreditável.
E, caro patriota, pense mais um pouco. Que tipo de gente você acha que está feliz com essa história toda? Se os diretores da Globo e da Veja e mais um bando de radicais conservadores estão marchando a seu lado, pode apostar: aí tem coisa.
Por mais jovem, descolado, bonito, bem nascido, bem vestido e até eventualmente bem intencionado que você seja, me desculpe. Sua postura é de um atraso inaceitável. Está servindo, mesmo que involuntariamente, a interesses perigosíssimos. Mais: você não “acordou” coisa nenhuma. Nessa história toda quem está na vanguarda e despertou há tempos é o tiozinho do PCO que você xingou.
Fonte: Carta Capital

22 junho 2013

O verdadeiro vandalismo


Brasileiros têm coragem que britânicos não tiveram, diz The Guardian


Uma análise publicada nesta sexta-feira no jornal britânico The Guardian elogia os protestos no Brasil, afirmando que os brasileiros estão dizendo o que os britânicos não tiveram coragem de dizer no ano passado, durante a realização das Olimpíadas em Londres.

O texto, assinado por Simon Jenkins, diz que os protestos brasileiros, que têm como um dos alvos os altos gastos com Copa do Mundo e as Olimpíadas no país, são autênticos ao repercutir o sentimento de que as pessoas não querem esse tipo de "extravagância".

"A extravagância de 9 bilhões de libras (Olimpíadas em Londres) não era necessária para abrigar um show internacional de atletismo. O Rio de Janeiro não somente tem uma extravagância, mas duas".
"Então parabéns aos brasileiros por terem dito o que os britânicos ano passado não tiveram coragem de dizer: basta", diz o artigo, acrescentando que a Copa do Mundo e as Olimpíadas são eventos televisivos que poderiam ser realizados com menos gastos.
Dilúvio de promessas
"Todo mundo sabe que o 'dilúvio de promessas' que as nações sede recebem sobre legado é uma bobagem", diz o Guardian.
O artigo também critica a realização de outros eventos que envolvem grandes somas de dinheiro, como o G8 e o G20. "O G8 esta semana na Irlanda do Norte foi inútil", diz o artigo. "Uma noite e dois dias em um lago irlandês sombrio custou 60 milhões de libras ao contribuinte e o recrutamento de mil policiais por delegação. Eles não poderiam ter usado Skype?", indaga o autor.
O texto qualifica a realização do G20, em 2012, como um "carnaval obcecado por segurança". "A reunião de 2012 em Toronto gastou, em dois dias, US$1 bilhão em segurança. Não fez nada pelos pobres e devastou a economia local por um ano", diz.
O autor critica o fato de que o avanço da tecnologia nos últimos anos não ter sido suficiente para substituir a necessidade por eventos presenciais, alimentados pelo desejo dos líderes mundiais de receberem seus colegas, numa demonstração de poder.
Fonte: Terra

Pró-Corrupção

Ministro critica antipartidarismo de protestos: 'sem partido é ditadura'


O ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, criticou o apartidarismo por parte dos manifestantes. Para ele, os partidos são instituições necessárias à democracia. 

"Quando se grita 'sem partido', nós vemos aí um grande pedido. E não há democracia sem partido. Não há democracia sem uma forma mínima de instituição. Sem partido, no fundo, é ditadura. Temos de ficar muito atentos a isso", afirmou o ministro, em reunião preparatória à Jornada Mundial da Juventude na manhã desta sexta-feira, no Palácio do Planalto.

"É um momento de celebrar e, ao mesmo tempo, é um momento de apreensão e de convidar a sociedade para que haja uma disputa pela democracia de verdade, que se faça representar por partidos que, de fato, representem o povo e que não compactuem com a corrupção", argumentou Carvalho.
Ontem, um grupo ligado ao PT foi hostilizado em uma manifestação em São Paulo. Para o ministro, a rejeição aos partidos é fruto de um estímulo de longo prazo alimentado pela imprensa.
"É verdade que a classe política paga o preço por isso. Mas é verdade também que (existe) um certo tipo de abordagem de estímulo ao longo do tempo, e a imprensa teve um papel nesse sentido de estimular um tipo de moralismo no sentido despolitizado, e um tipo de antipolítica que leva a isso que está acontecendo também", disse o ministro.
"Então, também aqueles que o tempo todo verbalizaram esse tipo de posição têm responsabilidade por esse aspecto destrutivo que está aí, e não adianta virem agora celebrar só a manifestação e não se darem conta que também são responsáveis por isso que está ocorrendo", concluiu.
(...)
Link: Terra

21 junho 2013

E, em São Paulo, o Facebook e o Twitter foram às ruas. Literalmente


Os atos contra o aumento nas tarifas dos ônibus trouxeram centenas de milhares às ruas. Que defendiam a ideia e discordavam da violência com a qual manifestantes e jornalistas haviam sido espancados e presos pela Polícia Militar. Uma massa heterogênea, descontente, sob um guarda-chuva de uma pauta bastante concreta e objetiva. Que  foi atendida.
A manifestação de segunda, gigantesca, acabou por mudar o perfil dos que estavam protestando em favor da tarifa. O chamado feito pela redes sociais trouxe as próprias redes sociais para a rua. Quem não percebeu que boa parte dos cartazes eram comentários de Facebook e Twitter?
Portanto, nem todos os que foram às ruas são exatamente progressistas. Aliás, o Brasil é bem conservador – da “elite branca” paulistana à chamada “nova classe média” que ascendeu socialmente tendo como referências símbolos de consumo (e a ausência deles como depressão). É uma população com 93% a favor da redução da maioridade penal. Que acha que a mulher não é dona de seu corpo. Que é contra o casamento gay. Que tem nojo dos imigrantes pobres da América do Sul. Que apoia o genocídio de jovens negros e pobres nas periferias das grandes cidades. Ou seja, não é porque centenas de milhares foram às ruas por uma pauta justa que a realidade mudou e vivemos agora em uma comunidade de Ursinhos Carinhosos.
E dentre os conservadores, temos os que radicalizam. Seja por ignorância, seja por opção.
Desde que o quinto ato contra as passagens foi anunciado, grupos conservadores se organizaram na internet para pegar carona no ato. Lá chegando, foram colocando as mangas de fora com suas pautas paralelas. Na convocação do sétimo ato, isso ficou bem evidente. Estavam aos milhares na Paulista e arredores, mas ainda minoria em comparação ao total de participantes. Mas uma ruidosa, chata e violenta minoria. Com um discurso superficial, que cola fácil, traz adeptos. Parte deles usava o verde-amarelo, lembrando os divertidos e emocionantes dias com os amigos em que se pode ver os jogos da Copa do Mundo.
Nesta quinta (20), esse grupo sentiu-se à vontade para agir em público exatamente da mesma forma que já fazia nas áreas de comentários de blogs e nas redes sociais, mas sob o anonimato. Com isso, parte desse pessoal começou um ataque verbal e físico a militantes de partidos e sindicalistas presentes no ato.
Engana-se, porém, quem diz que essa era uma massa fascista uniforme. Havia, sim, um pessoal dodói da ultradireita, que enxerga comunismo em ovo e estava babando de raiva e louco para derrubar um governo. Que tem saudades de 1964 e fotos de velhos generais de cueca na parede do quarto. Essa ultradireita se utiliza da violência física e da intimidação como instrumentos de pressão e que, por menos numerosos que sejam, causam estrago. Estão entre os mais pobres (neonazistas, supremacia branca e outras bobagens), mas também os mais ricos – com acesso a recursos midiáticos e dinheiro. A saída deles do armário e o seu ataque a manifestantes ligados a partidos foi bastante consciente
Mas um grupo, principalmente de jovens, precariamente informado, desaguou subitamente nas manifestações de rua, sem nenhuma formação política, mas com muita raiva e indignação, abraçando a bandeira das manifestações. A revolta destes contra quem portava uma bandeira não foi necessariamente contra partidos, mas a instituições tradicionais que representam autoridade como um todo. Os repórteres da TV Globo, por exemplo, não estão conseguindo nem usar o prisma com a marca da emissora na cobertura – e não é só por conta de militantes da esquerda. Alckmin e Haddad, que demoraram demais para tomar a decisão de revogar e frear o caldo que entornava, ajudaram a agravar a situação de descontentamento com a classe política. “Que se vão todos”, pensam esses jovens. “Não precisamos de partidos para resolver nossos problemas”, dizem outros, que não conhecem a história recente do Brasil. “Políticos são um câncer”, que colocam todo mundo no mesmo balaio de gatos.
Elas não entendem que a livre associação em partidos e a livre expressão são direitos humanos e que negá-los é equivalente a um policial militar dar um golpe de cassetete em um manifestante pacífico. Dito isso, creio que foi um erro de análise de militantes de partidos estarem presentes no ato empunhando bandeiras. Direito eles tinham, mas não era a hora.
Conversei com muitos deles que pediam “abaixo os partidos políticos”, pauta que comecei a ouvir na segunda (17), quando aquele perfil diferente de manifestante engrossou os atos (lembrem-se, eu sou o #chatodepasseata, adoro cutucar). Perguntei o porquê dessa agressividade. Depois de cinco minutos, eles mesmos percebiam que não sabiam me responder a razão. Compravam um discurso fácil guiado pela indignação.
Dentre esses indignados que foram preparados, ao longo do tempo, pela família, pela escola, pela igreja e pela mídia para tratarem o mundo de forma conservadora, sem muita reflexão, tem gente simplesmente com muita raiva de tudo e botando isso para fora. O PSDB tem culpa nisso. O PT tem culpa nisso. Pois, a questão não é só garantir emprego e objetos de consumo. Sinto que eles querem sentir que poderão ser protagonistas de seu país e de suas vidas. E vêm as classe política e as instituições que aí estão como os problemas disso.
Aí reside um problema. Porque não se joga a criança fora porque a água do banho está suja. E não se expulsa políticos ou partidos do processo democrático por vias autoritárias – por mais que o sangue suba à cabeça.
Muitos entre os mais jovens desconhecem o valor das lutas que trouxeram a sociedade até aqui – e não fizemos questão de mostrar isso a eles. Muito menos como os mais velhos foram protagonistas dessas lutas. Eles não precisam ser mitificados (não gosto de heróis), mas também não podem ser desprezados. Pois, se daqui em diante, novos caminhos podem ser trilhados é porque alguém abriu uma estrada que nos trouxe até aqui.
É claro que os grupos conservadores mais radicais estão se aproveitando desse momento e botando lenha nesse descontentamento, apontando como culpados a classe política que está no poder e suas instituições. Flertam com ações autoritárias e, é claro, adorariam desestabilizar as instituições.
Não temos uma prática de debate político público como em outros lugares. Se, de um lado, vamos ter que aprender a conviver com passeatas conservadoras sem achar que vai rolar uma nova Marcha da Família com Deus pela Liberdade nos moldes daquela que nos levou à Grande Noite, de outro, os reacionários extremistas vão ter que aprender a ser portar com decência – coisa que, nas redes sociais, já provaram que são incapazes de fazer.
O desafio é que, diante de comportamentos questionáveis e pouco democráticos desses jovens conservadores, externamos o nosso desprezo e nossa raiva. Podemos ignorá-los, enquanto crescem em número. Ou podemos conquistá-los para o diálogo e não o confronto.
Até porque, precisam compreender, por exemplo, que “o povo não acordou” agora. Quem acordou foi uma parte. Outra parte nunca dormiu, afinal não tinha cama para tanto. No campo, marchas reúnem milhares de pobres entre os mais pobres, que pedem terra plantar e seus territórios ancestrais de volta – grupos que são vítimas de massacres e chacinas desde sempre. Ao mesmo tempo, feministas, negros, gays, lésbicas, sem-teto sempre denunciaram a violação de seus direitos pelos mesmos fascistas que, agora, tentam puxar a multidão para o seu lado.
Enfim, o grosso do povo mesmo vai acordar no momento em que a maioria pobre deste país perceber que é explorada sistematicamente. Quando isso acontecer, vai ser lindo.
Uma vez, posto em marcha, um movimento horizontal, sem lideranças claras, tem suas delícias – como o fato de ser um rio difícil de controlar. E sua dores – como o fato de ser um rio difícil de controlar. Temos que aprender a não se assustar com isso.
Muitos desses jovens estão descontentes, mas não sabem o que querem. Sabem o que não querem. Neste momento, por mais agressivos que sejam, boa parte deles está em êxtase, alucinada com a rua e com o poder que acreditam ter nas mãos. Mas ao mesmo tempo com medo. Pois cobrados de uma resposta sobre sua insatisfação, no fundo, no fundo, conseguem perceber apenas um grande vazio.
O fato é que há um déficit de democracia participativa que vai ter que ser resolvido. Só votar e esperar quatro anos não adianta mais. Uma reforma política, que inclua ferramentas de participação popular, pode ser a saída. Lembrando que aumentar a democracia participativa não é governar por plebiscito – num país como o nosso, isso significaria que os direitos das minorias seriam esmagados feito biscoito. Como deu para ver em alguns momentos, nesta quinta, na avenida Paulista.
O momento é de respirar, ter calma, dialogar. Mas não abandonar o bom debate.