31 maio 2012

Países da ONU recomendam fim da Polícia Militar no Brasil



O Conselho de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU) pediu nesta quarta-feira ao Brasil maiores esforços para combater a atividade dos "esquadrões da morte" e que trabalhe para suprimir a Polícia Militar, acusada de numerosas execuções extrajudiciais.
Esta é uma de 170 recomendações que os membros do Conselho de Direitos Humanos aprovaram hoje como parte do relatório elaborado pelo Grupo de Trabalho sobre o Exame Periódico Universal (EPU) do Brasil, uma avaliação à qual se submetem todos os países.
A recomendação em favor da supressão da PM foi obra da Dinamarca, que pede a abolição do "sistema separado de Polícia Militar, aplicando medidas mais eficazes (...) para reduzir a incidência de execuções extrajudiciais".
A Coreia do Sul falou diretamente de "esquadrões da morte" e a Austrália sugeriu a Brasília que outros governos estaduais "considerem aplicar programas similares aos da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) criada no Rio de Janeiro".
Já a Espanha solicitou a "revisão dos programas de formação em direitos humanos para as forças de segurança, insistindo no uso da força de acordo com os critérios de necessidade e de proporcionalidade, e pondo fim às execuções extrajudiciais".
Pedido de investigação 
O relatório destaca a importância de que o Brasil garanta que todos os crimes cometidos por agentes da ordem sejam investigados de maneira independente e que se combata a impunidade dos crimes cometidos contra juízes e ativistas de direitos humanos.
O Paraguai recomendou ao País "seguir trabalhando no fortalecimento do processo de busca da verdade" e a Argentina quer novos "esforços para garantir o direito à verdade às vítimas de graves violações dos direitos humanos e a suas famílias".
A França, por sua parte, quer garantias para que "a Comissão da Verdade criada em novembro de 2011 seja provida dos recursos necessários para reconhecer o direito das vítimas à justiça".
Reforma no sistema penitenciário 
Muitas das delegações que participaram do exame ao Brasil concordaram também nas recomendações em favor de uma melhoria das condições penitenciárias, sobretudo no caso das mulheres, que são vítimas de novos abusos quando estão presas.
Neste sentido, recomendaram "reformar o sistema penitenciário para reduzir o nível de superlotação e melhorar as condições de vida das pessoas privadas de liberdade".
Olhando mais adiante, o Canadá pediu garantias para que a reestruturação urbana visando à Copa do Mundo de 2014 e aos Jogos Olímpicos de 2016 "seja devidamente regulada para prevenir deslocamentos e despejos".
Fonte: Terra

Em cinco anos, PM de São Paulo mata mais que todas as polícias dos EUA juntas

Com uma população quase oito vezes menor que a dos Estados Unidos, o Estado de São Paulo registrou 6,3% mais mortes cometidas por policiais militares do que todo os EUA em cinco anos, levando em conta todas as forças policiais daquele país. Dados divulgados pela SSP (Secretaria de Segurança Pública), e analisados pela Ouvidoria da Polícia, revelam que 2.045 pessoas foram mortas no Estado de São Paulo pela Polícia Militar em confronto - casos que foram registrados como resistência seguida de morte - entre 2005 e 2009.

Já o último relatório divulgado pelo FBI (polícia federal americana) aponta que todas as forças policiais dos EUA mataram em confronto 1.915 pessoas em todo o país no mesmo período. As mortes são classificadas como justifiable homicide (homicídio justificável) e definidas pelo "assassinato de um criminoso por um policial no cumprimento do dever".

Para Guaracy Mingardi, ex-subsecretário nacional de Segurança Pública e pesquisador do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, a diferença no total de mortes do Estado e dos Estados Unidos se deve à própria cultura geral da sociedade brasileira, que tende a apoiar os assassinatos cometidos por policiais e prega que “bandido bom é bandido morto”.

- Nós temos uma diferença. O júri americano tem uma tendência a inocentar [o acusado] porque ele desconfia do Estado. Aqui, apesar de o nosso Estado ser pior, o júri tende a condenar [o acusado] porque ele considera que, se a polícia pegou, é porque ele tem culpa no cartório.

Mingardi ressalta, porém, que a letalidade em São Paulo diminuiu, embora ainda esteja "fora do aceitável”. Segundo ele, o número de mortos pela Polícia Militar caiu especialmente depois do massacre de Carandiru, ação policial dentro do presídio na zona norte da capital paulista que terminou com 111 presos mortos em 1992. De acordo com o especialista, só naquele ano, foram registradas cerca de 1.400 mortes no Estado.

- Ninguém está advogando que aqui tem que ser como na Inglaterra, por exemplo, que a polícia mata duas, três pessoas por ano. Estamos falando em chegar num nível mais civilizado.

“Lógica de guerra”
Especialista em polícia do Instituto Sou da Paz, Carolina Ricardo afirma que existe uma diferença na própria história da Polícia Militar brasileira, que foi consolidada no período da ditadura e criada com o objetivo de defender o Estado de seus inimigos. Essa “lógica de guerra”, segundo Carolina, se mantém até os dias de hoje.

- Até hoje, a Polícia Militar é força auxiliar do Exército. Ou seja, se tiver uma guerra, a PM pode ser acionada. Ao mesmo tempo, ela tem que estar na rua e 99% do que ela faz não é atender crime, mas lidar com conflitos cotidianos, coisas banais.

Carolina ressalta, no entanto, que a polícia vem mudando ao longo dos últimos anos graças ao discurso de direitos humanos. O processo, no entanto, é lento.

- Ainda falta muito, ainda é uma polícia formada para combater o crime numa lógica mais dura. A gente precisa entender que a polícia está se reinventando. Aos poucos, consegue trabalhar em parceria com a sociedade civil.
Mortes x prisões
Para o professor de direito da FGV (Fundação Getulio Vargas) Theodomiro Dias Neto, houve um avanço, mas ainda tímido, no combate à letalidade policial nos últimos anos. Ele compara os números atuais com os da década de 90, quando havia uma média de quatro mortos por policiais por dia no Estado de São Paulo, e afirma que os últimos dez anos ficaram “entre avanços e retrocessos”.

- O número de pessoas mortas certamente não tem nada a ver com eficiência da polícia. Uma polícia eficiente é aquela que faz um trabalho correto na prevenção do crime, com o menor número de mortos e feridos possível. Quanto menor a proporção entre detenções realizadas e mortos, melhor.

O relatório Força Letal - Violência Policial e Segurança Pública no Rio de Janeiro e em São Paulo -, lançado em dezembro de 2009 pela ONG internacional Human Rights Watch, aponta que a polícia do Estado de São Paulo prendeu 348 pessoas para cada morte em 2008. Já a polícia norte-americana prendeu mais de 37.000 pessoas para cada morte em suposto confronto no mesmo ano. O índice de prisões por mortes cometidas pela polícia é 108 vezes menor em São Paulo do que nos Estados Unidos.
Segundo Neto, a eficácia da polícia americana comparada à paulista se dá, entre outros motivos, porque ela é “mais bem controlada”.

- É uma polícia que mata menos e prende mais.
Outro lado
A reportagem do R7 entrou em contato com as assessoria da Polícia Militar, mas até a publicação desta notícia, a corporação não havia se pronunciado sobre os dados apresentados nesta notícia.
Fonte: R7

26 maio 2012

Ela não vetou



Não sejam tontos e não reproduzam o discurso de que a Dilma optou pelo "nem lá nem cá". Isso é uma mentira. Ela vetou absurdos extras, sobretudo os adicionados pela Câmara na última hora, justamente para parecer que ela vetou alguma coisa.
O Código Florestal muda. E muda pra pior. Pior pras matas, pior pras águas. Logo, pior para todos. A redação final só saberemos mesmo na segunda feira, quando for publicado no Diário Oficial.
Mas não caiam na conversa mole. Dilma, o PT, o PCdoB e a turma toda foram cúmplices dos ruralistas, daqueles de sua base (PMDB, PSD, etc) e dos da "oposição" (DEM, PSDB). Cúmplices covardes, do começo ao fim.
Não deixe esse discurso tosco te enganar. Dilma vetou nada. Vetou o mínimo pra satisfazer minimamente à opinião pública. "Opinião Publica" essa que só ficará satisfeita se for muito ingênuo. O problema é que a "Opinião Pública" é formada pelas desinformadoras e manipuladoras emissoras de TV. E as emissoras de TV pertencem a esse grupo social dominante. Geralmente, os donos dos latifúndios de televisão são os donos dos latifúndios de terra.
Foi silencioso. O povo consentiu. O dia de hoje é histórico pro mal e ninguem parece ter se dado conta do quanto.
Os latifundiários ganharam mais essa.
Como eram ingenuas as pessoas que achavam que um dia o PT traria justiça para o campo? Ninguem combateu latifundio ou protegeu indigenas. Pelo contrario, destruiu-se a floresta para aumentar o latifúndio.
Isso é luta de classes... e mais que isso.
O impacto desse novo código é maior do que se nos tivessem jogado uma bomba atomica. Em termos do que perderemos de solo, de floresta e principalmente de água (devido ao assoreamento de leitos e morte de nascentes), é muito pior...
iso tbem causa dor e sofrimento... Mas é assim no brasil... diluido, calado.. aos poucos. e ninguem abre a boca...
Perdemos para o latifundiarios, os exportadores de álcool e soja. Perdemos para os criadores de gado que matam indios às dezenas. Perdemos pros assassinos de José Claudio. Perdemos pra essa gente que manda nesse país há centenas de anos.
Perdemos pra mesma classe social, para os mesmos sobrenomes que promoveram a escravidão negra e o genocídio indígenas.
Perdemos nós, os brasileiros, os vivos, os terráqueos de todas as espécies.
Dilma, com toda essa corja de praticamente todos os partidos, para mim se iguala a qualquer criminoso de guerra. Estamos passando por algo similar ao que passou a Alemanha nos anos 30 do século passado. A hegemonia de um partido, culto ao lider, propaganda perfeita para manipular a população que aceita tudo de bom grado. Enquanto ocorrem violencias desmedidas, detruição da vida, das pessoas e da terra. Tudo em nome do lucro de alguns...
vou parar de escrever pq naum conseguiria parar se naum me impusesse isso tamanha minha indignação hoje.
Mesmo com os maiores cientistas do país mostrando que era absurdo! Mesmo q a sociedade fosse perder. O Novo Código Florestal foi aprovado pela Presidente.
Nós perdemos feio. A luta agora é árvore a árvore. Rio a rio. Ocupar! Proteger! Reflorestar!
Atiremos sementes. Para todo os lados. A Morte e a ganancia estão em guerra conta a vida.
E acabamos de perder uma batalha.
O sistema é Podre. O sistema político é vendido ao poder economico e esse crime chamado Novo Código Florestal é a prova derradeira.



Autor: Leandro Cruz

Vetos não corrigem retrocessos no Código Florestal



O objetivo central dos vetos parciais ao projeto de lei do Código Florestal anunciados pelo governo na coletiva de hoje, é recompor a proposta do Senado. Mas o texto que saiu de lá foi amplamente rejeitado pela sociedade brasileira devido aos inaceitáveis retrocessos que continha.
Por essa razão, o Comitê Brasil em Defesa das Florestas e do Desenvolvimento Sustentável e de diferentes e amplos setores da sociedade brasileira pediu à Presidente Dilma que o vetasse integralmente. Infelizmente, ela não agiu assim.
Ao assumir publicamente esse objetivo, somos levados a acreditar que a Presidente Dilma não manteve o seu compromisso, assumido na campanha eleitoral, de vetar qualquer lei que reduzisse a proteção das florestas e anistiasse desmatadores ilegais. A promessa era: “Sobre o Código Florestal, expresso meu acordo com o veto a propostas que reduzam áreas de reserva legal e preservação permanente, embora seja necessário inovar em relação à legislação em vigor. Somos totalmente favoráveis ao veto à anistia para desmatadores.”
Dos 84 artigos, 12 foram vetados. Outros 72, com graves retrocessos à proteção das florestas, foram mantidos.
Infelizmente, a falta de transparência e a não divulgação dos vetos e das modificações impede que a sociedade possa já fazer uma análise técnica do alcance do veto parcial.
Fonte: Minha Marina

19 maio 2012

#VetaDilma


Symphony No. 9 ~ Beethoven

Bolero de Ravel

Estudo sobre crescimento na China mostra que dinheiro traz infelicidade





WASHINGTON, 14 Mai 2012 (AFP) -O crescimento econômico dos últimos 20 anos na China geralmente foi alcançado com uma redução da felicidade, especialmente entre os integrantes das classes menos favorecidas da sociedade, revelou uma análise publicada nesta segunda-feira nos Estados Unidos.

O estudo, publicado no periódico Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS), se baseia em seis pesquisas diferentes sobre satisfação auto-declarada com a vida desde 1990, período em que o produto interno bruto per capita da China quadruplicou.

"Há muitos que acreditam que o bem-estar é impulsionado pelo crescimento econômico e que quanto mais rápido o crescimento, mais felizes são as pessoas. Não poderia haver um país melhor do que a China para testar essas expectativas", explicou o principal autor do estudo, Richard Easterlin, professor de economia da Universidade da Carolina do Sul (UCS).

"Mas não há evidências de um aumento evidente na satisfação de vida na China da magnitude que poderia se esperar em vista da enorme multiplicação no consumo per capita", disse Easterlin, que é conhecido por seu trabalho nos anos 1970 sobre como a felicidade não costuma estar vinculada com a riqueza, chamado de Paradoxo de Easterlin.

"De fato, em termos gerais, as pessoas são sutilmente menos felizes, e a China saiu de um dos países mais igualitários do mundo em termos de satisfação com a vida para um dos menos" equitativos nestes termos, acrescentou.

Em 1990, 68% da pessoas pertencentes à classe mais rica e 65% das mais pobres reportaram altos níveis de satisfação.

Mas as cifras mais recentes demonstraram uma queda de mais de 23 pontos percentuais nas últimas duas décadas, segundo análise feita pela UCS com base em pesquisas de opinião realizadas pelos institutos Pew Research Center, Gallup e Horizon Research Consultancy Group, entre outros.

De acordo com o relatório do PNAS, apenas 42% dos chineses com renda mais baixa reportaram altos níveis de satisfação com a vida em 2010.

Enquanto isso, o percentual dos chineses mais ricos que se disseram satisfeitos com suas vidas aumentou cerca de três pontos percentuais ou 71%.

"Não há evidências de uma tendência progressiva substancial na satisfação com a vida da magnitude que deveria ser esperada em vista da quadruplicação do PIB per capita ao longo do período estudado", revelou a pesquisa.

Enquanto as consultas não documentaram as razões deste declínio, é um fenômeno bem conhecido que "o crescimento das aspirações induzidas pelo aumento de salário mina o aumento na satisfação de vida relacionada ao próprio aumento de salário", destacou o estudo.

Segundo a pesquisa, outras razões podem incluir "a vida doméstica e a necessidade de se ter um trabalho para assegurá-la, assim como a saúde, amigos e familiares", acrescentou.

Tendências similares têm sido observadas na União Soviética e na Alemanha Oriental durante os períodos de transição.

Mas o estudo alertou que seria "um equívoco concluir, a partir da experiência de satisfação com a vida na China, e a de países em transição de forma mais genérica, que um retorno ao socialismo e a ineficácia total do planejamento central seriam benéficos".

Ao invés disso, os líderes deveriam observar que "trabalho e segurança salarial e laboral, juntamente com uma rede de seguridade social, são de importância crítica para a satisfação da vida".

O estudo também aplaudiu o governo chinês pelos avanços nos últimos anos para "reparar a rede de seguridade social", o que é descrito como "encourajador" para os cidadãos menos abastados do país.



Fonte: UOL

O bispo milionário

Não quero com isso defender a posição da Rede Record, do bispo Edir Macedo, ou de qualquer outra pessoa ou instituição religiosa. Ao contrário, quero mostrar que muita gente se beneficia do desespero das pessoas, da sua comoção com apelos falsos e promessas vazias.
Como alguém pode pedir 7 milhões de reais, durante um programa que deveria ser um culto religioso, e dizer que isso é um "investimento na obra de Deus"?

16 maio 2012

Wonderwall




Today is gonna be the day
That they're gonna throw it back to you
By now you should've somehow
Realized what you gotta do
I don't believe that anybody
Feels the way I do about you now
Backbeat, the word was on the street
That the fire in your heart is out
I'm sure you've heard it all before
But you never really had a doubt
I don't believe that anybody
Feels the way I do about you now
And all the roads we have to walk are winding
And all the lights that lead us there are blinding
There are many things that I would like to say to you
But I don't know how
Because maybe
You're gonna be the one that saves me
And after all
You're my wonderwall
Today was gonna be the day
But they'll never throw it back to you
By now you should've somehow
Realized what you're not to do
I don't believe that anybody
Feels the way I do about you now
And all the roads that lead you there were winding
And all the lights that light the way are blinding
There are many things that I would like to say to you
But I don't know how
(2x)
I said maybe
You're gonna be the one that saves me
And after all
You're my wonderwall
I said maybe
You're gonna be the one that saves me (3x)

12 maio 2012

Sete mentiras da revista Veja





Do sítio da União da Juventude Socialista (UJS):

Em nossa cultura cada número tem um significado, são ditos populares que expressam características de uma pessoa ou uma superstição. No caso da revista veja o número 7 – número do mentiroso – é o que melhor lhe cabe.


O portal da UJS levantou sete casos em que a revista Veja inventou fatos e forjou provas, sempre com o intuito de prejudicar algum desafeto, mas, jamais com intuito de fazer aquilo que o bom jornalismo prega, investigar, informar e garantir o direito ao contraditório em suas matérias.

1. "Escola dos Horrores"


Em 1994 Veja publica matéria em que acusa donos de uma escola no bairro da Aclimação de praticar abusos sexuais contra crianças, o caso ficou famoso em todo o país, a escola foi depredada e fechada, algum tempo depois se provou que as acusações feitas pela revista eram infundadas, o Estado foi obrigado a pagar uma indenização, mas, a imprensa fez-se de desentendida e nem se quer uma autocrítica publicou;

2. “Tentáculos das Farc no Brasil”

Em março de 2005 a matéria de Veja tenta provar suposta relação do movimento guerrilheiro colombiano com o comando da campanha do ex-presidente Lula e vai além, a revista afirma ter acessos a documentos secretos – desta maneira não apresenta nenhuma prova, pois, são documentos “secretos” – de que as Farc teriam feito uma doação de cinco milhões de dólares para a campanha presidencial de Lula. O ministério público fez investigação e nada foi provado. Como é de costume da revista, esta matéria seria mais uma tentativa de prejudicar o então candidato Lula, desafeto de longa data de Roberto Civita, dono da revista;

3. “Os dólares de Cuba para a campanha de Lula”
Esta matéria foi publicada em 2005 durante a campanha presidencial. Sem nenhuma prova concreta ou algo que valha Veja afirma com todas as letras: “Entre agosto e setembro de 2002, o comitê eleitoral de Lula recebeu 3 milhões de dólares vindos de Cuba. Ao chegar a Brasília, por meios que VEJA não conseguiu identificar”. Sempre de maneira dissimulada, sem apresentar nenhuma prova e mesmo admitindo não saber de todos os fatos, publica-se matéria de capa com acusações estapafúrdias que até hoje não foram comprovadas;

4. “Parece Milagre”
Em setembro de 2011 veja publica matéria de sete páginas (o número da mentira) para falar de um remédio para emagrecimento, na matéria a revista faz elogios ao remédio e cita o nome do emagrecedor como que fazendo uma propaganda do produto, entretanto, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) havia limitado o uso do remédio, a agência diz expressamente em um dos seus relatórios que “o uso do produto... caracteriza elevado risco sanitário para a saúde da população”. De maneira irresponsável Veja colocou em risco a vida de seus leitores com o objetivo único de se beneficiar;

5. "José Dirceu mostra que ainda manda em Brasília"
Em agosto de 2011 Veja publica matéria conseguida de maneira pitoresca, tentando provar que o ex-ministro José Dirceu ainda tem poderes no governo e no Partido dos Trabalhadores – que até então nada tem de ilegal –. Um jornalista invade o hotel onde o ex-ministro se hospedara e fazia reuniões com correligionários, na invasão o jornalista tenta violar o quarto do ex-ministro no intuito de forjar provas, não tendo sucesso o mesmo roubou imagens do circuito interno de TV do hotel. O responsável pela segurança do hotel registrou ocorrência em uma delegacia de Brasília e até hoje nada foi feito para que se punisse a atitude criminosa da revista e de seu jornalista;

6. “Militante do PCdoB acusa Orlando Silva de montar esquema de corrupção”
Na reportagem de quinze de outubro de 2011 Veja acusa o ex-ministro dos esportes Orlando Silva de montar um grande esquema de corrupção. A revista utiliza como fonte um policial militar do distrito federal que dirigia uma ONG e havia sido condenado pelo ministério e pelo Tribunal de Contas da União a devolver recursos ao próprio ministério dos esportes por falta de prestação de contas. A tal fonte não podia mesmo ser de todo confiável, pois, estava em litígio com o ministério dos esportes e apresentava patrimônio muito acima de seus rendimentos. O Policial João Dias com ajuda da revista Veja afirmou que o ministro recebera dinheiro na garagem do ministério e que tinha provas, entretanto, as provas nunca foram apresentadas, o policial encontra-se preso e a revista fez-se de desentendia;

7. “Só nos sobrou o Supremo”
Em oito de junho de 2011 veja entrevista o senador Demóstenes Torres e o apresenta como um parlamentar combativo e honesto. A entrevista revelou-se recentemente como uma manobra de Veja para ajudar o senador em sua empreitada de estabelecer uma boa imagem de sua figura como um dos últimos homens honestos no senado federal. Recentemente a prisão do contraventor Carlinhos Cachoeira mostrou uma relação íntima do senador com o bicheiro, jogando por terra a imagem de homem probo, entretanto, gravações da Polícia Federal revelaram que a revista Veja também tinha relações íntimas com o bicheiro e sabia das relações do próprio parlamentar com o bando criminoso de Carlinhos Cachoeira. Ora se a revista sabia da relação do parlamentar com um grupo criminoso e, também se relacionava com os contraventores como pode levar seus leitores ao engano produzindo uma entrevista que ajudava um criminoso a se beneficiar eleitoralmente? São questões que precisam ser esclarecidas.

Revista VEJA e a Máfia

Globo ataca blogosfera



Não é a primeira nem será a última vez que o jornal Globo ataca frontalmente a blogosfera. Tanto é que já estamos com casco duro e nem damos bola. Vale a pena analisar, porém, detidamente o editorial desta terça-feira do jornal O Globo, onde os platinados tentam matar dois coelhos de uma vez: blindar a revista Veja e desqualificar o pensamento que diverge da mídia corporativa em geral.
Usemos aquele método de fazer comentários intercalados. O editorial está em negrito, meus comentários em fonte normal:
Comecemos pelo título. Evidentemente, Civita não é Murdoch. É pior. Murdoch queria só ganhar mais dinheiro. Civita queria ganhar mais dinheiro e derrubar governos. Murdoch espezinhava celebridades, divulgando fofocas e intimidades. Civita aliou-se a um mafioso para espionar autoridades com objetivo de chantageá-las e obter vantagens financeiras e políticas. É como se descobrissem que a Fox aliou-se a Bin Laden para tentar derrubar Obama, ou que o Times aliou-se à máfia chinesa, que lhe fornecia vídeos oriundos de grampos ilegais, com objetivo de derrubar o primeiro-ministro inglês.
Blogs e veículos de imprensa chapa-branca que atuam como linha auxiliar de setores radicais do PT desfecharam uma campanha organizada contra a revista “Veja”, na esteira do escândalo Cachoeira/Demóstenes/Delta.
Globo inicia o texto através de uma desqualificação grosseira. Baixou o nível. Blogs não tem obrigação de ser neutros, nem de apoiar, nem de ser críticos. Blogs políticos nascem do desejo pessoal de cidadãos brasileiros de expressarem sua opinião. Chamá-los de chapa branca é aplicar-lhes um conceito já meio anacrônico do jornalismo comercial. É ofensivo e equivocado. O Globo jamais chamou o blog da Veja, ou a própria Veja, que são notoriamente pró-tucanos, de chapa-brancas em relação ao governo de São Paulo. Na verdade, com o aumento do poder da mídia, somado às circunstâncias políticas e históricas da democracia brasileira, de repente ficou muito conveniente para a imprensa corporativa alardear sua ideologia de que “jornalismo é oposição”. Pena que não fez isso durante a ditadura brasileira, quando serviu à esta com submissão voluntária.
Além disso, Globo difunde uma inverdade ao atribuir a postura dos blogs a uma estratégia de “linha auxiliar de setores radicais do PT”. A indignação pública contra os desmandos de Rupert Murdoch não veio de setores esquerdistas radicais, assim como a indignação contra a Veja também funciona num diapasão muito acima do PT, quanto mais de suas alas radicais. É um movimento popular autêntico. O PT é que se identifica com ele, e não o contrário. E a campanha não é organizada, como são as campanhas “anti-corrupção” patrocinadas pela mídia e setores do conservadorismo. Aí sim, há dinheiro e espaço nos jornais, em ações coordenadas que usam oportunisticamente a luta contra a corrupção para fazer proselitismo ideológico barato.
A operação tem todas as características de retaliação pelas várias reportagens da revista das quais biografias de figuras estreladas do partido saíram manchadas, e de denúncias de esquemas de corrupção urdidos em Brasília por partidos da base aliada do governo. É indisfarçável, ainda, a tentativa de atemorização da imprensa profissional como um todo, algo que esses mesmos setores radicais do PT têm tentado transformar em rotina nos últimos nove anos, sem sucesso, graças ao compromisso, antes do presidente Lula e agora da presidente Dilma Rousseff, com a liberdade de expressão.
O que o Globo chama de retaliação, seria mais apropriado chamar de reação natural. Reação não apenas de petistas, mas de amplos setores da intelectualidade, e da esquerda em geral, e não só do Brasil, mas de todas as Américas (incluindo aí os EUA), às consequências nocivas da concentração da mídia ao processo democrático. Esta é uma crítica que se faz desde Cidadão Kane, de Orson Welles, filmado em 1941. É uma crítica democrática, saudável. Ou o Globo acha que devemos achar muito normal que uma revista use, ao longo de vários anos, grampos clandestinos fornecidos por uma máfia sinistra, fazendo matérias que beneficiam financeiramente este grupo e a própria revista?
A mídia omite a si mesma de suas análises políticas. Ela se trata como uma espécie de deidade intocável, a “imprensa independente”, ou “imprensa livre”, quando na verdade sabemos que são empresas com interesses econômicos muito específicos. A Veja, por exemplo, tem empresas que vendem livros didáticos para o Estado, e tem faturado milhões com esse negócio, onde há uma relação promíscua entre política, imprensa e, como agora está claro, máfia.
A manobra se baseia em fragmentos de grampos legais feitos pela Polícia Federal na investigação das atividades do bicheiro Carlinhos Cachoeira, pela qual se descobriu a verdadeira face do senador Demóstenes Torres, outrora bastião da moralidade, e, entre outros achados, ligações espúrias de Cachoeira com a construtora Delta. As gravações registraram vários contatos entre o diretor da sucursal de “Veja” em Brasília, Policarpo Jr., e Cachoeira. O bicheiro municiou a reportagem da revista com informações e material de vídeo/gravações sobre o baixo mundo da política, de que alguns políticos petistas e aliados fazem parte.
Exatamente, a “manobra” se baseia em grampos legais. Quer dizer que o Globo defende que apenas ele pode “manobrar” grampos, de preferência ilegais?
A constatação animou alas radicais do partido a dar o troco. O presidente petista, Rui Falcão, chegou a declarar formalmente que a CPI do Cachoeira iria “desmascarar o mensalão”. Aos poucos, os tais blogs começaram a soltar notas sobre uma suposta conspiração de “Veja” com o bicheiro. E, no fim de semana, reportagens de TV e na mídia impressa chapas-brancas, devidamente replicadas na internet, compararam Roberto Civita, da Abril, editora da revista, a Rupert Murdoch, o australiano-americano sob cerrada pressão na Inglaterra, devido aos crimes cometidos pelo seu jornal “News of the World”, fechado pelo próprio Murdoch.
Comparar Civita a Murdoch é tosco exercício de má-fé, pois o jornal inglês invadiu, ele próprio, a privacidade alheia. Quer-se produzir um escândalo de imprensa sobre um contato repórter-fonte. Cada organização jornalística tem códigos, em que as regras sobre este relacionamento – sem o qual não existe notícia – têm destaque, pela sua importância. Como inexiste notícia passada de forma desinteressada, é preciso extremo cuidado principalmente no tratamento de informações vazadas por fontes no anonimato. Até aqui, nenhuma das gravações divulgadas indica que o diretor de “Veja” estivesse a serviço do bicheiro, como afirmam os blogs, ou com ele trocasse favores espúrios. Ao contrário, numa das gravações, o bicheiro se irrita com o fato de municiar o jornalista com informações e dele nada receber em troca.
A comparação é válida, e Civita leva a pior, como já expliquei acima. Murdoch espionou a privacidade alheia. Civita aliou-se à uma máfia política.  Há várias gravações que mostram uma relação promíscua entre a revista e o bicheiro sim. Globo quer tapar o sol com peneira. Além disso, há muitas gravações que ainda não chegaram ao conhecimento do público. Há sim uma indignação muito grande de amplos setores da sociedade contra a ética jornalística da Veja. E contra o Globo também. Os platinados tentam blindar a Veja porque tem medo que sejam atingidos por algum petardo similar, visto que as reportagens que Civita publicava, a mando de Cachoeira, repercutiam imediatamente no Globo, em especial no temível Jornal Nacional. Na verdade, a Veja era apenas a porta de entrada para o noticiário televisivo, onde, aí sim, os estragos políticos contra os inimigos do esquema Cachoeira (honestos ou não) eram quase sempre fatais. Eu não engulo aqueles 7 a 8 minutosque o Globo deu a Rubnei Quicoli, bandidinho de terceira categoria, ex-presidiário, no Jornal Nacional, às vésperas do primeiro turno das eleições presidenciais, com base em matérias da… Veja.
Estabelecem as Organizações Globo em um dos itens de seus Princípios Editoriais: “(…) é altamente recomendável que a relação com a fonte, por mais próxima que seja, não se transforme em relação de amizade. A lealdade do jornalista é com a notícia.” E em busca da notícia o repórter não pode escolher fontes. Mas as informações que vêm delas devem ser analisadas e confirmadas, antes da publicação. E nada pode ser oferecido em troca, com a óbvia exceção do anonimato, quando necessário.
Os princípios editoriais do Globo são uma piada de mau gosto. O grupo Globo se transformou numa empresa que oprime ideologicamente seus jornalistas, violentando-lhes a liberdade de se manifestarem politicamente. O Globo é inimigo da liberdade de expressão de seus próprios empregados. Princípios não valem nada, além disso, se não correspondem à prática. O Globo escolhe despudoradamente suas fontes de acordo com seus interesses políticos, e sua lealdade não é com a notícia e sim com a ideologia dos patrões, mesmo que para isso precise sacrificar a notícia.
O próprio braço sindical do PT, durante a CPI de PC/Collor, abasteceu a imprensa com informações vazadas ilegalmente, a partir da quebra do sigilo bancário e fiscal de PC e outros. O “Washington Post” só pôde elucidar a invasão de um escritório democrata no conjunto Watergate porque um alto funcionário do FBI, o Garganta Profunda, repassou a seus jornalistas, ilegalmente, informações sigilosas. Só alguém de dentro do esquema do mensalão poderia denunciá-lo. Coube a Roberto Jefferson esta tarefa.
Uma coisa é o vazamento ilegal de grampos realizados com autorização judicial. Não é um crime tão grave, embora também tenhamos aí uma situação muito irregular e, às vezes, perigosa, já que se formam conluios interessados entre setores da polícia e imprensa. Outra coisa é o vazamento de dados sigilosos bancários e fiscais. Aí temos um crime grave contra a privacidade, que tem sido muito raro nos últimos anos. O vazamento dos dados do caseiro Francenildo, por exemplo, derrubou um ministro da Fazenda. O Globo sempre atacou com muita virulência esse tipo de prática, então fica incongruente pregar o “locupletemo-nos todos” apenas para defender o uso de grampos clandestinos pela revista Veja.
Uma terceira coisa, porém, totalmente distinta, é usar grampos ilegais, pagos e realizados por uma máfia política, que tem naturalmente interesses financeiros escusos em divulgá-los. É um crime infinitamente mais grave. A comparação com o caso Watergate é descabida também por causa disso. A fonte era um alto funcionário do FBI, ou seja, alguém do Estado, não era um membro do esquema Cachoeira, um bandido corrupto, com interesses partidários, como eram as fontes de Veja.
A questão é como processar as informações obtidas da fonte, a partir do interesse público que elas tenham. E não houve desmentidos das reportagens de “Veja” que irritaram alas do PT. Ao contrário, a maior parte delas resultou em atitudes firmes da presidente Dilma Rousseff, que demitiu ministros e funcionários, no que ficou conhecido no início do governo como uma faxina ética.
Mais uma vez a mídia omite seu próprio poder, além de mentir. Houve sim desmentidos, fortes, dos envolvidos. A presidenta Dilma demitiu alguns ministros sem prova, por conta da instabilidade política provocada pela própria mídia. Alguns talvez tivessem culpa no cartório, como aliás quase todo ser humano tem, mas sua maior culpa consistia em serem ministros de um governo trabalhista. As crises ministeriais tinham início através de uma denúncia, mas depois nem importava que essas denúncias não fossem verdadeiras: iniciava-se uma campanha maciça, organizada, para derrubar aquele alvo específico, atacando membros do partido, mesmo que nada tivessem a ver com o acusado. Foi o caso de Orlando Silva, em que a mídia começou a atacar o PCdoB de forma generalizada, inclusive Manuela D’Ávila, quadro importante do partido e ao mesmo tempo vulnerável por ser candidata à prefeitura de Porto Alegre, disputando um eleitorado fortemente politizado e, por isso, sensível a campanhas de imprensa. A mídia não perdoa nem a família. No caso do Sarney, não escapou nem uma neta de menos de 20 anos, que cometeu o crime terrível de ligar para o avô e pedir emprego para o namorado. Quando os envolvidos são aliados da mídia, aí a blindagem é completa. Demóstenes Torres ligou para Aécio para pedir emprego para a prima de Cachoeira, foi atendido, e não se criou escândalo nenhum. Ou seja, os Princípios do Globo me parecem bem flexíveis.
O editorial do Globo, por outro lado, corresponde a mais um atestado de que a blogosfera vem se tornando cada vez mais influente. É um contrapeso importante à mídia corporativa. É um verdadeiro ombudsman coletivo e independente do trabalho da imprensa brasileira. Em nome da liberdade de expressão, da democracia, do jornalismo, o Globo deveria agradecer a blogosfera, que lhe presta um serviço, gratuitamente, permitindo-lhe aprimorar-se. A imprensa, pressionada pela blogosfera, se vê obrigada a frear um pouco o conservadorismo doentio, fanático e partidário para o qual parece eventualmente enveredar.
Nem sempre a blogosfera está certa. Mas ela não se pretende infalível. A blogosfera é, na maioria dos casos, assumidamente tendenciosa, ideológica, partidária, ou seja, totalmente oposta à neutralidade higiênica e hipócrita da imprensa corporativa. A blogosfera, todavia, é bem mais livre das amarras que prendem jornais a uma série de interesses econômicos. Blogueiros e comentaristas não são amordaçados pelos “códigos de conduta” que alguns meios impõem – tiranicamente – a seus empregados.  Como blogueiro, observo às vezes até meio estupefato como as mesmas massas que apoiavam a Dilma, de repente passam a criticá-la ferozmente no dia seguinte, para voltar a apoiá-la posteriormente, tendo como base sempre e exclusivamente a independência de seu juízo. As massas blogosféricas (hoje integradas em redes sociais) são instáveis, anárquicas, imprevisíveis e livres, como jamais a imprensa, ou a velha mídia, será. Ao detratá-la, portanto, o Globo ataca o próprio símbolo da contemporaneidade, e dá recibo de sua insegurança perante um novo mundo.
Fonte: O Cafezinho

Veja pede ajuda pro irmão mais velho





Não vou perder tempo aqui debatendo os argumento de ”O Globo”. Até porque, dois blogueiros já fizeram a análise minuciosa do editorial em que o jornal da família Marinho tenta fazer a defesa de Bob Civita – o dono da Abril.

Miguel do Rosário e Eduardo Guimarães deram uma surra de bons argumentos no diário carioca. O texto do Miguel você pode ler aqui. E o do Eduardo você encontraaqui.

O que me interessa não é o editorial em si. Mas sua motivação.

Primeiro ponto. Chama atenção que Bob Civita tenha ido pedir socorro à turma da Globo. A Abril lembra-me aquele menino malcriado que quebra o vidro da vizinha, corta o rabo do gato, cospe no garoto menor da casa ao lado. Aí, quando recebe o troco, sai chorando e pede ajuda pro irmão mais velho. A revista mais vendida do país não consegue se defender sozinha?

A Abril espalha por aí que a “Veja” tem um milhão de tiragem! Isso não é suficiente pra encarar a briga com meia dúzia de “blogueiros chapa-branca a serviço de setores radicais do PT?”. Por si só, esse já é um fato a demonstrar a mudança na “correlação de forças” da comunicação.

O velho jornalismo não se conforma com o “contraditório”. Dez anos atrás, não havia uma ferramenta para rebater um editorial de “O Globo”. Hoje, os editorialistas escrevem besteiras e, no dia seguinte, lá estão os Migueís e Eduardos a dar o troco na internet. Com categoria.

Não é a primeira vez que as Organizações Globo passam recibo do incômodo. Em 2010, depois da segunda derrota de Ali Kamel (a primeira ocorrera em 2006, com a reeleição de Lula, e a terceira aconteceria em 2012, no julgamento das quotas, como se pode ler aqui), “O Globo” passou recibo destacando em primeira página a entrevista de Lula aos blogueiros. Destilou ódio. Tentou nos atacar. Mas, sem perceber, revelou a força dos blogs. Foi até engraçado. Agora, a história se repete.

Mas há um fato novo. Dessa vez, os blogs não falaram sozinhos. A Record levou o caso “Veja-Cachoeira” para a TV aberta. E a “Carta Capital” estampou a foto de Bob “Murdoch” Civita pelas bancas de jornal de todo o país. A reportagem da Record e o texto de “CartaCapital” também passaram a ser reproduzidos pelas redes sociais. Atingiram, com isso, um público distante do debate sobre as comunicações. Soube de um caso ontem. Uma pessoa da família ligou pra perguntar: “afinal por que estão falando tão mal da “Veja? A revista é tão boa, todo mundo aqui no prédio assina, será verdade isso tudo?”.

Ou seja, o ataque à “Veja” dessa vez chegou ao público leitor da revista, provocando certo mal estar. Isso deve ter apavorado Bob Civita. Ontem mesmo, circularam informações de que Fabio Barbosa, executivo da Abril, teria pedido demissão por causa da crise. Civita está fragilizado. Correu pro colo do irmão mais velho. 

E há um terceiro ponto. ”O Globo” age só como irmão mais velho protetor? Ou tem algum outro temor?

O site 247 acaba de publicar na internet um imenso arquivo digital com transcrições e grampos da Polícia Federal, que eram guardados em sigilo. O que haveria nesses arquivos? Nos próximos dias, blogueiros e tuiteiros vão decifrar os arquivos, enquanto “Globo” e “Veja” tentarão escondê-los.

Até agora, não há nenhum indício de que a Globo, institucionalmente, tenha-se comprometido com a rede criminosa de Cachoeira. Tenho dito isso a blogueiros e comentaristas mais afoitos: “muita calma, minha gente; uma coisa é ser conservador ou manipulador; e outra coisa é se associar à bandidagem”.

A Globo, até onde se sabe, não se associou a Cachoeira diretamente. Mas a Globo e o JN são “sócios” das “reportagens investigativas” policarpianas. Isso desde 2005. Ali Kamel adotou a estratégia do telejornalismo por escrito. Semanas a fio, o JN fazia a “leitura” das páginas de “Veja”, repercutindo para o grande público as “apurações” de “Veja”. Sobre isso, já escrevi aqui.

Ou seja, desmascarar a “Veja” é também desmascarar o jornalismo de araque praticado por Ali Kamel nos últimos anos, à frente da emissora da familia Marinho. 

A Globo pode ser acusada de muita coisa, mas jamais de ”abandonar um companheiro ferido na estrada” (copyright: Paulo Preto). “Globo” e “Veja” jogaram juntas anos a fio. Na hora do aperto, os irmãos Marinho não se recusariam a oferecer colo ao irmãozinho mais novo com fama de traquinas. Ou fascista.

É a solidariedade das famílias.



Fonte: Altamiro Borges

Sugestão de capa para a Veja


Fonte: Altamiro Borges

11 maio 2012

Marooned (Abandonado)

Cluster One

Entenda por que o novo Código Florestal pode aumentar o desmatamento


























































Link para visualizar a imagem em tamanho real: UOL

Orangotangos se comunicam por iPad em zoológico de Miami



No zoológico Jungle Island, em Miami, a relação dos orangotangos com a tecnologia tem sido parecida com a dos seres humanos. Os jovens utilizam o aparelho para desenhar, jogar e expandir seus vocabulários. Os mais velhos, no entanto, demonstram menos interesse.
O parque é um dos vários zoológicos que vêm fazendo experimentos com computadores e primatas. No Jungle Island, existem seis orangotangos utilizando iPads para se comunicar, como parte de um programa de estímulo mental realizado pela instituição.
O software utilizado foi criado para humanos com autismo, e funciona da seguinte maneira: a tela mostra fotos de vários objetos, o treinador diz o nome de um dos itens, e o orangotango aperta o botão correspondente. "Os dispositivos foram um grande acréscimo para enriquecer os projetos que o zoológico tem com os símios", afirma a supervisora do programa, Linda Jacobs. Os tratadores do Jungle Island já utilizavam a linguagem de sinais para se comunicar com os orangotangos. Usando as mãos, os animais podem responder questões simples, identificar objetos e expressar seus desejos ou necessidades. Eles também podem identificar partes do corpo, ajudando os treinadores a cuidar deles.
Enquanto Linda e outros treinadores puderam desenvolver relacionamentos com os orangotangos, o iPad e outros dispositivos com tela sensível ao toque oferecem a oportunidade de se estabelecer contato entre os animais e pessoas que não dominam a linguagem de sinais. "Orangotangos são extremamente inteligentes, mas limitados por sua impossibilidade de falar", diz Linda.
O iPad, no entanto, tem algumas limitações para ser usado por orangotangos. A principal delas é a fragilidade do aparelho, o que faz com que os animais não possam pegá-los, e tenham que usá-los nas mãos de seus treinadores.
Por isso Linda afirma que, a longo prazo, a ideia é utilizar um dispositivo à prova de orangotangos, junto a uma tela fora da jaula, que seria usada por convidados, que poderiam fazer perguntas aos animais. É importante destacar, contudo, que o treinamento dos símios não é feito para entreter os trabalhadores do Jungle Island ou os visitantes. Em razão da inteligência dos animais, suas mentes devem ser mantidas ativas para prevenir que eles se sintam entediados ou entrem em depressão.
Outros zoológicos e parques naturais estão desenvolvendo um trabalho parecido. Richard Zimmerman, diretor executivo da associação Orangutan Outreach, está desenvolvendo o "Apps for Apes" (aplicativos para macacos), programa que utiliza iPads velhos, doados em instalações na América do Norte. A associação começou a trabalhar em um zoológico em Milwaukee, e expandiu para diversas localidades. Por videoconferência, eles esperam reconectar orangotangos com amigos e membros família que foram transferidos para outros zoológicos.
Fonte: Terra

E tudo acabará em pum

Pra quem sempre me pergunta o por quê de eu não comer carne, esta é a resposta:

06 maio 2012

O Espelho




Esboço de uma nova teoria da alma humana


Quatro ou cinco cavalheiros debatiam, uma noite, várias questões de alta transcendência,
sem que a disparidade dos votos trouxesse a menor alteração aos espíritos. A casa ficava no
morro de Santa Teresa, a sala era pequena, alumiada a velas, cuja luz fundia-se
misteriosamente com o luar que vinha de fora. Entre a cidade, com as suas agitações e
aventuras, e o céu, em que as estrelas pestanejavam, através de uma atmosfera límpida e
sossegada, estavam os nossos quatro ou cinco investigadores de coisas metafísicas,
resolvendo amigavelmente os mais árduos problemas do universo.
Por que quatro ou cinco? Rigorosamente eram quatro os que falavam; mas, além deles,
havia na sala um quinto personagem, calado, pensando, cochilando, cuja espórtula no
debate não passava de um ou outro resmungo de aprovação. Esse homem tinha a mesma
idade dos companheiros, entre quarenta e cinqüenta anos, era provinciano, capitalista,
inteligente, não sem instrução, e, ao que parece, astuto e cáustico. Não discutia nunca; e
defendia-se da abstenção com um paradoxo, dizendo que a discussão é a forma polida do
instinto batalhador, que jaz no homem, como uma herança bestial; e acrescentava que os
serafins e os querubins não controvertiam nada, e, aliás, eram a perfeição espiritual eeterna. Como desse esta mesma resposta naquela noite, contestou-lha um dos presentes, e
desafiou-o a demonstrar o que dizia, se era capaz. Jacobina (assim se chamava ele) refletiu
um instante, e respondeu:
- Pensando bem, talvez o senhor tenha razão.
Vai senão quando, no meio da noite, sucedeu que este casmurro usou da palavra, e não dois
ou três minutos, mas trinta ou quarenta. A conversa, em seus meandros, veio a cair na
natureza da alma, ponto que dividiu radicalmente os quatro amigos. Cada cabeça, cada
sentença; não só o acordo, mas a mesma discussão tornou-se difícil, senão impossível, pela
multiplicidade das questões que se deduziram do tronco principal e um pouco, talvez, pela
inconsistência dos pareceres. Um dos argumentadores pediu ao Jacobina alguma opinião, -
uma conjetura, ao menos.
- Nem conjetura, nem opinião, redargüiu ele; uma ou outra pode dar lugar a dissentimento,
e, como sabem, eu não discuto. Mas, se querem ouvir-me calados, posso contar-lhes um
caso de minha vida, em que ressalta a mais clara demonstração acerca da matéria de que se
trata. Em primeiro lugar, não há uma só alma, há duas...
- Duas?
- Nada menos de duas almas. Cada criatura humana traz duas almas consigo: uma que olha
de dentro para fora, outra que olha de fora para entro... Espantem-se à vontade, podem ficar
de boca aberta, dar de ombros, tudo; não admito réplica. Se me replicarem, acabo o charuto
e vou dormir. A alma exterior pode ser um espírito, um fluido, um homem, muitos homens,
um objeto, uma operação. Há casos, por exemplo, em que um simples botão de camisa é a
alma exterior de uma pessoa; - e assim também a polca, o voltarete, um livro, uma
máquina, um par de botas, uma cavatina, um tambor, etc. Está claro que o ofício dessa
segunda alma é transmitir a vida, como a primeira; as duas completam o homem, que é,
metafisicamente falando, uma laranja. Quem perde uma das metades, perde naturalmente
metade da existência; e casos há, não raros, em que a perda da alma exterior implica a da
existência inteira. Shylock, por exemplo. A alma exterior aquele judeu eram os seus
ducados; perdê-los equivalia a morrer. "Nunca mais verei o meu ouro, diz ele a Tubal; é um
punhal que me enterras no coração." Vejam bem esta frase; a perda dos ducados, alma
exterior, era a morte para ele. Agora, é preciso saber que a alma exterior não é sempre a
mesma...
- Não?
- Não, senhor; muda de natureza e de estado. Não aludo a certas almas absorventes, como a
pátria, com a qual disse o Camões que morria, e o poder, que foi a alma exterior de César e
de Cromwell. São almas enérgicas e exclusivas; mas há outras, embora enérgicas, de
natureza mudável. Há cavalheiros, por exemplo, cuja alma exterior, nos primeiros anos, foi
um chocalho ou um cavalinho de pau, e mais tarde uma provedoria de irmandade,
suponhamos. Pela minha parte, conheço uma senhora, - na verdade, gentilíssima, - que
muda de alma exterior cinco, seis vezes por ano. Durante a estação lírica é a ópera;
cessando a estação, a alma exterior substitui-se por outra: um concerto, um baile do
Cassino, a rua do Ouvidor, Petrópolis...
- Perdão; essa senhora quem é?
- Essa senhora é parenta do diabo, e tem o mesmo nome; chama-se Legião... E assim outros
mais casos. Eu mesmo tenho experimentado dessas trocas. Não as relato, porque iria longe;
restrinjo-me ao episódio de que lhes falei. Um episódio dos meus vinte e cinco anos...
Os quatro companheiros, ansiosos de ouvir o caso prometido, esqueceram a controvérsia.
Santa curiosidade! tu não és só a alma da civilização, és também o pomo da concórdia,fruta divina, de outro sabor que não aquele pomo da mitologia. A sala, até há pouco ruidosa
de física e metafísica, é agora um mar morto; todos os olhos estão no Jacobina, que
conserta a ponta do charuto, recolhendo as memórias. Eis aqui como ele começou a
narração:
- Tinha vinte e cinco anos, era pobre, e acabava de ser nomeado alferes da Guarda
Nacional. Não imaginam o acontecimento que isto foi em nossa casa. Minha mãe ficou tão
orgulhosa! tão contente! Chamava-me o seu alferes. Primos e tios, foi tudo uma alegria
sincera e pura. Na vila, note-se bem, houve alguns despeitados; choro e ranger de dentes,
como na Escritura; e o motivo não foi outro senão que o posto tinha muitos candidatos e
que esses perderam. Suponho também que uma parte do desgosto foi inteiramente gratuita:
nasceu da simples distinção. Lembra-me de alguns rapazes, que se davam comigo, e
passaram a olhar-me de revés, durante algum tempo. Em compensação, tive muitas pessoas
que ficaram satisfeitas com a nomeação; e a prova é que todo o fardamento me foi dado por
amigos... Vai então uma das minhas tias, D. Marcolina, viúva do Capitão Peçanha, que
morava a muitas léguas da vila, num sítio escuso e solitário, desejou ver-me, e pediu que
fosse ter com ela e levasse a farda. Fui, acompanhado de um pajem, que daí a dias tornou à
vila, porque a tia Marcolina, apenas me pilhou no sítio, escreveu a minha mãe dizendo que
não me soltava antes de um mês, pelo menos. E abraçava-me! Chamava-me também o seu
alferes. Achava-me um rapagão bonito. Como era um tanto patusca, chegou a confessar que
tinha inveja da moça que houvesse de ser minha mulher. Jurava que em toda a província
não havia outro que me pusesse o pé adiante. E sempre alferes; era alferes para cá, alferes
para lá, alferes a toda a hora. Eu pedia-lhe que me chamasse Joãozinho, como dantes; e ela
abanava a cabeça, bradando que não, que era o "senhor alferes". Um cunhado dela, irmão
do finado Peçanha, que ali morava, não me chamava de outra maneira. Era o "senhor
alferes", não por gracejo, mas a sério, e à vista dos escravos, que naturalmente foram pelo
mesmo caminho. Na mesa tinha eu o melhor lugar, e era o primeiro servido. Não
imaginam. Se lhes disser que o entusiasmo da tia Marcolina chegou ao ponto de mandar pôr
no meu quarto um grande espelho, obra rica e magnífica, que destoava do resto da casa,
cuja mobília era modesta e simples... Era um espelho que lhe dera a madrinha, e que esta
herdara da mãe, que o comprara a uma das fidalgas vindas em 1808 com a corte de D. João
VI. Não sei o que havia nisso de verdade; era a tradição. O espelho estava naturalmente
muito velho; mas via-se-lhe ainda o ouro, comido em parte pelo tempo, uns delfins
esculpidos nos ângulos superiores da moldura, uns enfeites de madrepérola e outros
caprichos do artista. Tudo velho, mas bom...
- Espelho grande?
- Grande. E foi, como digo, uma enorme fineza, porque o espelho estava na sala; era a
melhor peça da casa. Mas não houve forças que a demovessem do propósito; respondia que
não fazia falta, que era só por algumas semanas, e finalmente que o "senhor alferes"
merecia muito mais. O certo é que todas essas coisas, carinhos, atenções, obséquios,
fizeram em mim uma transformação, que o natural sentimento da mocidade ajudou e
completou. Imaginam, creio eu?
- Não.
- O alferes eliminou o homem. Durante alguns dias as duas naturezas equilibraram-se; mas
não tardou que a primitiva cedesse à outra; ficou-me uma parte mínima de humanidade.
Aconteceu então que a alma exterior, que era dantes o sol, o ar, o campo, os olhos das
moças, mudou de natureza, e passou a ser a cortesia e os rapapés da casa, tudo o que me
falava do posto, nada do que me falava do homem. A única parte do cidadão que ficoucomigo foi aquela que entendia com o exercício da patente; a outra dispersou-se no ar e no
passado. Custa-lhes acreditar, não?
- Custa-me até entender, respondeu um dos ouvintes.
- Vai entender. Os fatos explicarão melhor os sentimentos: os fatos são tudo. A melhor
definição do amor não vale um beijo de moça namorada; e, se bem me lembro, um filósofo
antigo demonstrou o movimento andando. Vamos aos fatos. Vamos ver como, ao tempo em
que a consciência do homem se obliterava, a do alferes tornava-se viva e intensa. As dores
humanas, as alegrias humanas, se eram só isso, mal obtinham de mim uma compaixão
apática ou um sorriso de favor. No fim de três semanas, era outro, totalmente outro. Era
exclusivamente alferes. Ora, um dia recebeu a tia Marcolina uma notícia grave; uma de
suas filhas, casada com um lavrador residente dali a cinco léguas, estava mal e à morte.
Adeus, sobrinho! adeus, alferes! Era mãe extremosa, armou logo uma viagem, pediu ao
cunhado que fosse com ela, e a mim que tomasse conta do sítio. Creio que, se não fosse a
aflição, disporia o contrário; deixaria o cunhado e iria comigo. Mas o certo é que fiquei só,
com os poucos escravos da casa. Confesso-lhes que desde logo senti uma grande opressão,
alguma coisa semelhante ao efeito de quatro paredes de um cárcere, subitamente levantadas
em torno de mim. Era a alma exterior que se reduzia; estava agora limitada a alguns
espíritos boçais. O alferes continuava a dominar em mim, embora a vida fosse menos
intensa, e a consciência mais débil. Os escravos punham uma nota de humildade nas suas
cortesias, que de certa maneira compensava a afeição dos parentes e a intimidade doméstica
interrompida. Notei mesmo, naquela noite, que eles redobravam de respeito, de alegria, de
protestos. Nhô alferes, de minuto a minuto; nhô alferes é muito bonito; nhô alferes há de ser
coronel; nhô alferes há de casar com moça bonita, filha de general; um concerto de
louvores e profecias, que me deixou extático. Ah ! pérfidos! mal podia eu suspeitar a
intenção secreta dos malvados.
- Matá-lo?
- Antes assim fosse.
- Coisa pior?
- Ouçam-me. Na manhã seguinte achei-me só. Os velhacos, seduzidos por outros, ou de
movimento próprio, tinham resolvido fugir durante a noite; e assim fizeram. Achei-me só,
sem mais ninguém, entre quatro paredes, diante do terreiro deserto e da roça abandonada.
Nenhum fôlego humano. Corri a casa toda, a senzala, tudo; ninguém, um molequinho que
fosse. Galos e galinhas tão-somente, um par de mulas, que filosofavam a vida, sacudindo as
moscas, e três bois. Os mesmos cães foram levados pelos escravos. Nenhum ente humano.
Parece-lhes que isto era melhor do que ter morrido? era pior. Não por medo; juro-lhes que
não tinha medo; era um pouco atrevidinho, tanto que não senti nada, durante as primeiras
horas. Fiquei triste por causa do dano causado à tia Marcolina; fiquei também um pouco
perplexo, não sabendo se devia ir ter com ela, para lhe dar a triste notícia, ou ficar tomando
conta da casa. Adotei o segundo alvitre, para não desamparar a casa, e porque, se a minha
prima enferma estava mal, eu ia somente aumentar a dor da mãe, sem remédio nenhum;
finalmente, esperei que o irmão do tio Peçanha voltasse naquele dia ou no outro, visto que
tinha saído havia já trinta e seis horas. Mas a manhã passou sem vestígio dele; à tarde
comecei a sentir a sensação como de pessoa que houvesse perdido toda a ação nervosa, e
não tivesse consciência da ação muscular. O irmão do tio Peçanha não voltou nesse dia,
nem no outro, nem em toda aquela semana. Minha solidão tomou proporções enormes.
Nunca os dias foram mais compridos, nunca o sol abrasou a terra com uma obstinação mais
cansativa. As horas batiam de século a século no velho relógio da sala, cuja pêndula tic-tac,tic-tac, feria-me a alma interior, como um piparote contínuo da eternidade. Quando, muitos
anos depois, li uma poesia americana, creio que de Longfellow, e topei este famoso
estribilho: Never, for ever! - For ever, never! confesso-lhes que tive um calafrio: recordeime daqueles dias medonhos. Era justamente assim que fazia o relógio da tia Marcolina: -
Never, for ever!- For ever, never! Não eram golpes de pêndula, era um diálogo do abismo,
um cochicho do nada. E então de noite! Não que a noite fosse mais silenciosa. O silêncio
era o mesmo que de dia. Mas a noite era a sombra, era a solidão ainda mais estreita, ou
mais larga. Tic-tac, tic-tac. Ninguém, nas salas, na varanda, nos corredores, no terreiro,
ninguém em parte nenhuma... Riem-se?
- Sim, parece que tinha um pouco de medo.
- Oh! fora bom se eu pudesse ter medo! Viveria. Mas o característico daquela situação é
que eu nem sequer podia ter medo, isto é, o medo vulgarmente entendido. Tinha uma
sensação inexplicável. Era como um defunto andando, um sonâmbulo, um boneco
mecânico. Dormindo, era outra coisa. O sono dava-me alívio, não pela razão comum de ser
irmão da morte, mas por outra. Acho que posso explicar assim esse fenômeno: - o sono,
eliminando a necessidade de uma alma exterior, deixava atuar a alma interior. Nos sonhos,
fardava-me orgulhosamente, no meio da família e dos amigos, que me elogiavam o garbo,
que me chamavam alferes; vinha um amigo de nossa casa, e prometia-me o posto de
tenente, outro o de capitão ou major; e tudo isso fazia-me viver. Mas quando acordava, dia
claro, esvaía-se com o sono a consciência do meu ser novo e único -porque a alma interior
perdia a ação exclusiva, e ficava dependente da outra, que teimava em não tornar... Não
tornava. Eu saía fora, a um lado e outro, a ver se descobria algum sinal de regresso. Soeur
Anne, soeur Anne, ne vois-tu rien venir? Nada, coisa nenhuma; tal qual como na lenda
francesa. Nada mais do que a poeira da estrada e o capinzal dos morros. Voltava para casa,
nervoso, desesperado, estirava-me no canapé da sala. Tic-tac, tic-tac. Levantava-me,
passeava, tamborilava nos vidros das janelas, assobiava. Em certa ocasião lembrei-me de
escrever alguma coisa, um artigo político, um romance, uma ode; não escolhi nada
definitivamente; sentei-me e tracei no papel algumas palavras e frases soltas, para intercalar
no estilo. Mas o estilo, como tia Marcolina, deixava-se estar. Soeur Anne, soeur Anne...
Coisa nenhuma. Quando muito via negrejar a tinta e alvejar o papel.
- Mas não comia?
- Comia mal, frutas, farinha, conservas, algumas raízes tostadas ao fogo, mas suportaria
tudo alegremente, se não fora a terrível situação moral em que me achava. Recitava versos,
discursos, trechos latinos, liras de Gonzaga, oitavas de Camões, décimas, uma antologia em
trinta volumes. As vezes fazia ginástica; outra dava beliscões nas pernas; mas o efeito era
só uma sensação física de dor ou de cansaço, e mais nada. Tudo silêncio, um silêncio vasto,
enorme, infinito, apenas sublinhado pelo eterno tic-tac da pêndula. Tic-tac, tic-tac...
- Na verdade, era de enlouquecer.
- Vão ouvir coisa pior. Convém dizer-lhes que, desde que ficara só, não olhara uma só vez
para o espelho. Não era abstenção deliberada, não tinha motivo; era um impulso
inconsciente, um receio de achar-me um e dois, ao mesmo tempo, naquela casa solitária; e
se tal explicação é verdadeira, nada prova melhor a contradição humana, porque no fim de
oito dias deu-me na veneta de olhar para o espelho com o fim justamente de achar-me dois.
Olhei e recuei. O próprio vidro parecia conjurado com o resto do universo; não me
estampou a figura nítida e inteira, mas vaga, esfumada, difusa, sombra de sombra. A
realidade das leis físicas não permite negar que o espelho reproduziu-me textualmente, com
os mesmos contornos e feições; assim devia ter sido. Mas tal não foi a minha sensação.Então tive medo; atribuí o fenômeno à excitação nervosa em que andava; receei ficar mais
tempo, e enlouquecer. - Vou-me embora, disse comigo. E levantei o braço com gesto de
mau humor, e ao mesmo tempo de decisão, olhando para o vidro; o gesto lá estava, mas
disperso, esgaçado, mutilado... Entrei a vestir-me, murmurando comigo, tossindo sem
tosse, sacudindo a roupa com estrépito, afligindo-me a frio com os botões, para dizer
alguma coisa. De quando em quando, olhava furtivamente para o espelho; a imagem era a
mesma difusão de linhas, a mesma decomposição de contornos... Continuei a vestir-me.
Subitamente por uma inspiração inexplicável, por um impulso sem cálculo, lembrou-me...
Se forem capazes de adivinhar qual foi a minha idéia...
- Diga.
- Estava a olhar para o vidro, com uma persistência de desesperado, contemplando as
próprias feições derramadas e inacabadas, uma nuvem de linhas soltas, informes, quando
tive o pensamento... Não, não são capazes de adivinhar.
- Mas, diga, diga.
- Lembrou-me vestir a farda de alferes. Vesti-a, aprontei-me de todo; e, como estava
defronte do espelho, levantei os olhos, e... não lhes digo nada; o vidro reproduziu então a
figura integral; nenhuma linha de menos, nenhum contorno diverso; era eu mesmo, o
alferes, que achava, enfim, a alma exterior. Essa alma ausente com a dona do sítio, dispersa
e fugida com os escravos, ei-la recolhida no espelho. Imaginai um homem que, pouco a
pouco, emerge de um letargo, abre os olhos sem ver, depois começa a ver, distingue as
pessoas dos objetos, mas não conhece individualmente uns nem outros; enfim, sabe que
este é Fulano, aquele é Sicrano; aqui está uma cadeira, ali um sofá. Tudo volta ao que era
antes do sono. Assim foi comigo. Olhava para o espelho, ia de um lado para outro, recuava,
gesticulava, sorria e o vidro exprimia tudo. Não era mais um autômato, era um ente
animado. Daí em diante, fui outro. Cada dia, a uma certa hora, vestia-me de alferes, e
sentava-me diante do espelho, lendo olhando, meditando; no fim de duas, três horas,
despia-me outra vez. Com este regime pude atravessar mais seis dias de solidão sem os
sentir...
Quando os outros voltaram a si, o narrador tinha descido as escadas.


O Espelho - Machado de Assis