29 junho 2012

Stairway to Heaven




There's a lady who's sure all that glitters is gold
And she's buying a stairway to heaven
When she gets there she knows if the stores are all closed
With a word she can get what she came for
And she's buying a stairway to heaven
There's a sign on the wall, but she wants to be sure
'Cause you know sometimes words have two meanings
In a tree by the brook there's a songbird who sings
Sometimes all of our thoughts are misgiven
Oh, it makes me wonder
Oh, it makes me wonder
There's a feeling I get when I look to the west
And my spirit is crying for leaving
In my thoughts I have seen rings of smoke through the trees
And the voices of those who stand looking
Oh, it makes me wonder
Oh, really makes me wonder
And it's whispered that soon, if we all call the tune
Then the piper will lead us to reason
And a new day will dawn for those who stand long
And the forests will echo with laughter
If there's a bustle in your hedgerow, don't be alarmed now
It's just a spring clean for the may queen
Yes, there are two paths you can go by, but in the long run
There's still time to change the road you're on
And it makes me wonder
Your head is humming and it won't go
In case you don't know, the piper's calling you to join him
Dear lady, can you hear the wind blow
And did you know your stairway lies on the whispering wind
And as we wind on down the road
Our shadows taller than our soul, there walks a lady we all know
Who shines white light and wants to show
How everything still turns to gold and if you listen very hard
The tune will come to you at last
When all are one and one is all, yeah
To be a rock and not to roll
And she's buying a stairway to heaven

1 milhão para proibir o comércio de leões



Caros amigos,


Centenas de leões sul-africanos estão sendo abatidos para a produção de poções falsas para sexo para os homens. Mas podemos acabar com este comércio cruel ameaçando o governo em um tema sensível - a indústria do turismo.

A proibição mundial da venda de ossos de tigre fez com que comerciantes fossem atrás de um novo prêmio - os majestosos leões. Leões são criados em condições terríveis na África do Sul para "caça enlatada", onde os turistas ricos pagam fortunas para matá-los através de cercas. Agora, especialistas dizem que os ossos de leão dessas fazendas assassinas estão sendo exportados para os fabricantes de falsa 'medicina' na Ásia com enormes lucros. O comércio está explodindo e especialistas temem que à medida que os preços subam, mesmo os leões selvagens - apenas 20.000 restantes na África - sofrerão o ataque da caça furtiva.

Se pudermos mostrar ao Presidente Zuma que este comércio está prejudicando brutalmente a imagem da África do Sul como destino turístico, ele poderá proibir e punir o comércio de ossos de leões. A Avaaz colocará anúncios impactantes em aeroportos, sites e revistas de turismo, mas precisamos urgentemente de 1 milhão de assinaturas na nossa petição para dar força a estes anúncios. Assine abaixo para aumentarmos nossas assinaturas rapidamente:

https://secure.avaaz.org/po/stop_lion_slaughter_for_sex_aides_d/?bKOGWab&v=15585

"Vinho de osso de tigre" e outros medicamentos feitos com partes de tigres foram proibidos após uma enorme indignação internacional - agora os comerciantes passaram a dedicar sua atenção aos ossos de leões para fazer todos os tipos de remédios falsos. Especialistas dizem que a não ser que os governos ajam agora, os leões poderão ser os próximos da lista de extinção- depois de tigres e rinocerontes.

Há uma solução: proibir e punir o comércio de ossos e órgãos de leão. A África do Sul é atualmente o maior exportador de troféus de leão, ossos e órgãos - é também o único país africano ativamente reproduzindo leões em grande número para suprir a caça de troféus. Mas se pudermos mostrar que, ao permitir este comércio sem sentido, a indústria do turismo na África do Sul pode ser prejudicada levando os visitantes a deixar o país, o presidente Zuma poderá ser forçado a agir.

Vamos construir um estrondoso rugido global em nome dos leões. A Avaaz irá mostrar a crueldade do comércio de ossos de leão com anúncios pungentes - assine agora para aumentarmos o número de assinaturas rapidamente:

https://secure.avaaz.org/po/stop_lion_slaughter_for_sex_aides_d/?bKOGWab&v=15585

Membros da Avaaz em todo o mundo uniram-se para exigir uma forte proteção para rinocerontes, salvar as abelhas do mundo de pesticidas tóxicos e a criação de enormes reservas marinhas em Chagos e Austrália para proteger espécies marinhas vulneráveis. Vamos nos unir mais uma vez e proteger os leões da África.

Com esperança e determinação,

Jamie, Alex, Antonia, Mia, Alice, Ricken, Luca, Emily e o toda a equipe da Avaaz

Mais informação:

Lion Bone Trade Fuels Breeding Business in Africa (Al Jazeera) (em inglês)
http://allafrica.com/view/resource/main/main/id/00040108.html

South Africa continues to support the lion bone trade (LionAid) (em inglês)
http://www.lionaid.org/blog/2012/06/south-africa-continues-to-support-the-lion-bone-trade.htm

Quenching a thirst for lion bones (Mail & Guardian) (em inglês)
http://mg.co.za/article/2012-04-20-quenching-a-thirst-for-lion-bones/

Born to be killed (Carte Blanche)(em inglês)
Quenching a thirst for lion bones (Mail & Guardian) (em inglês)
http://beta.mnet.co.za/carteblanche/Article.aspx?ID=4226

The Lion Bone’s Connected to the … Rhino Horn? (Rhinoconservation.org) (em inglês)
http://www.rhinoconservation.org/2012/05/12/the-lion-bones-connected-to-the-rhino-horn/

Wildlife trafficking trail leads to SA safari man (News 24) (em inglês)
http://www.news24.com/SouthAfrica/News/Bloody-rhino-poaching-trail-leads-to-SA-safari-operator-20110721 

24 junho 2012

Teardrop



Love, love is a verb
Love is a doing word
Fearless on my breath
Gentle impulsion
Shakes me makes me lighter
Fearless on my breath
Teardrop on the fire
Fearless on my breath
Night, night of matter
Black flowers blossom
Fearless on my breath
Black flowers blossom
Fearless on my breath
Teardrop on the fire
Fearless on my breath
Water is my eye
Most faithful mirror
Fearless on my breath
Teardrop on the fire of a confession
Fearless on my breath
Most faithful mirror
Fearless on my breath
Teardrop on the fire
Fearless on my breath
You're stumbling a little (2x)


Tradução

20 junho 2012

Revista VEJA e o DNA

Como a própria figura nos diz, essa é uma relação inusitada.


O Ricardo Vêncio, do Laboratório de Processamento de Informação Biológica da USP Ribeirão (e colega do Igor Z.), nos mandou hoje um curioso infográfico que saiu na Revista Veja na semana passada. Notem a posição dos genes na fita do DNA!

Se você faltou nas aulas de Genética, fique com o email do Ricardo para a redação da revista:


Caros da Veja,
Apesar do texto da reportagem sobre Genética da última edição estar muito bom, incluindo até conceitos da emergente Biologia Sistêmica, a figura que mostra a sequência: “célula – DNA – gene” induz o leitor a erros conceituais graves:
1) A interação entre as duas fitas da hélice de DNA está ilustrada como algumas bolinhas em seqüencia, dando a impressão que são átomos, partículas ou coisa que o valha. Essas ligações são chamadas “pontes de hidrogênio” e, na verdade, são atrações entre átomos que estão nas duas fitas. Uma linha tracejada ou algo do tipo seria uma ilustração adequada enquanto que bolinhas induzindo o leitor a imaginar uma cordinha ou corrente ou algo assim, definitivamente não. Uma boa ilustração pode ser encontrada, por exemplo, aqui.
2) A figura induz o leitor a imaginar que os genes estão nas “pontes de hidrogênio”, o que está completamente errado. Uma ilustração melhor pode ser encontrada, por exemplo, aqui.
Acho importante que uma errata seja publicada na próxima edição, uma vez que não são errinhos sem importância, mas sim falhas conceituais graves, principalmente se lembrarmos que esta edição foi publicada logo depois daquele sobre Vestibulares.
Obrigado.
A mensagem explica claramente dois erros conceituais graves na figura sendo que, particularmente acho o segundo amis grava. Veja, se vc lê este blog (rs), saiba que os genes são feitos de pedaços de DNA e não de pontes de hidrogênio.
Mas esperem! Tem a cereja deste boimate: a resposta ao email polido do Ricardo (com negritos meus):
Prezado Ricardo Z. N. Vêncio,
Agradecemos as observações sobre a reportagem “Um gene, várias doenças” (22 de abril de 2009 – página 98).
Consultamos os jornalistas responsáveis pela reportagem. Eles nos forneceram os seguintes esclarecimentos: “Por não ser uma revista científica, VEJA pode sim representar os genes como bolinhas. Cometeríamos erro se tivéssemos trocado os genes pelo DNA ou coisas do gênero. As imagens publicadas foram obtidas em bancos de imagens e estão identificadas da mesma forma como aparecem em VEJA.”
Atenciosamente,
Redação/Revista VEJA (www.veja.com.br)
Não precisa comentar né? Afinal, genes não tem nada a ver com DNA e, por não ser uma revista científica, a Veja não tem compromisso nenhum com o que acreditamos ser realidade.
Fonte: Science Blogs

16 junho 2012

Por isso a Dona é Malandra


Os bonobos.


A bonobo fêmea tem intumescimento genital mesmo quando não está fértil, como por exemplo durante a gravidez ou a lactação. Com a chimpanzé fêmea isso não ocorre. Calculou-se que as chimpanzés fêmeas têm intumescimento genital durante menos de 5% de sua vida adulta, enquanto as bonobos vivem nesse estado quase 50% do tempo. Além disso, exceto por uma queda quando as fêmeas estão menstruadas, o sexo ocorre durante todo o ciclo para a fêmea bonobo, e isso é intrigante. Para que serviria o intumescimento genital, aquele balão grotesco, senão para anunciar fertilidade?



Como o sexo e o intumescimento genital são em grande medida desvinculados da fertilidade, um macho bonobo precisaria ser um Einstein para descobrir quais filhotes poderiam ser dele. Não que os grandes primatas não humanos tenham noção da relação entre sexo e reprodução. Só os humanos a têm. Mas é muito comum machos favorecerem a cria das fêmeas com quem eles se acasalaram, e assim, efetivamente, estão cuidando e protegendo a própria prole. Entre os bonobos, porém, há sexo demais com parceiros demais para que eles possam fazer tais distinções. Se alguém quisesse planejar um sistema social no qual a paternidade permanecesse obscura, dificilmente faria melhor do que a Mãe Natureza fez para os bonobos. Hoje acreditamos que essa pode ser, na verdade, exatamente a razão: as fêmeas têm a ganhar atraindo os machos para relações sexuais. Repito que não está implícita nenhuma intenção consciente; simplesmente, ocorrem equívocos quanto à fertilidade. A princípio, essa idéia é desnorteante. Embora a paternidade nunca seja tão certa quanto a maternidade, nossa espécie não está muito bem com uma alta confiança na paternidade? Os homens têm muito mais certeza nessa questão do que os machos de animais que vivem em promiscuidade ilimitada. Que problema poderia haver em machos saberem quem são seus descendentes? A resposta é: o problema do infanticídio por machos que matam recém-nascidos.



Eu estava presente no histórico encontro em Bangalôre, sul da Índia, no qual Yukimaru Sugiyama, renomado primatólogo japonês, deu a notícia inédita de que langures machos, uma espécie de macaco encontrado na índia, se apoderam de um harém de fêmeas, depõem o líder e em seguida costumam matar todos os infantes. Arrancam-nos da barriga da mãe e os empalam com os dentes caninos. Esse encontro aconteceu em 1979 e, na época, ninguém se deu conta de que ele seria histórico, de que estava nascendo uma das mais provocativas hipóteses da nossa era. A apresentação de Sugiyama foi recebida com um silêncio ensurdecedor, seguido por um dúbio elogio do presidente da mesa por aqueles intrigantes exemplos do que ele chamou de "patologia comportamental". Foram palavras do presidente da mesa, e não do palestrante. A idéia de que animais matam os de sua própria espécie, e não apenas acidentalmente, era incompreensível e repulsiva.



A descoberta de Sugiyama e sua hipótese de que o infanticídio poderia ajudar a reprodução dos machos foi desconsiderada por toda uma década. Mas então mais relatos apareceram, primeiro sobre outros primatas e por fim relacionados com animais das mais variadas espécies, entre eles ursos, cães-de-pradaria, golfinhos e aves. Quando leões machos se apoderam de um bando, por exemplo, as leoas fazem todo o possível para impedi-los de ferir os filhotes, mas geralmente em vão. O rei dos animais salta sobre o filhote indefeso, abocanha-lhe o pescoço e o sacode, matando-o na hora. Não come a vítima. Parece um ato totalmente deliberado. A comunidade científica não conseguia acreditar que as mesmíssimas teorias que falam de sobrevivência e reprodução poderiam aplicar-se à aniquilação de recém-nascidos inocentes.



Mas era isso exatamente que se estava supondo. Quando um macho se apodera de um grupo, não só expulsa o antigo líder; também remove os últimos esforços reprodutivos deste. Assim, as fêmeas retomarão mais cedo o ciclo reprodutivo, e isso contribuirá para a reprodução do novo macho dominante. Sarah Blaffer Hrdy, antropóloga americana, desenvolveu ainda mais essa idéia e também chamou a atenção para exemplos de infanticídio humano. Já está comprovado, por exemplo, que crianças correm mais risco de sofrer maus-tratos infligidos por um padrasto do que por seu pai biológico, o que parece ter relação com a reprodução masculina. Diz a Bíblia que o faraó ordenou a morte de recém-nascidos, sem falar na passagem mais célebre sobre o rei Herodes, que "mandou matar todos os meninos de Belém e de todos os seus arredores, de dois anos para baixo" (Mateus 2, 16). O registro antropológico mostra que depois de uma guerra é comum crianças de mães capturadas serem mortas. Razões não faltam para incluirmos nossa espécie nos debates sobre o infanticídio por machos.



O infanticídio é considerado um fator importantíssimo na evolução social, opondo machos contra machos e machos contra fêmeas. Estas nada têm a ganhar: perder a cria é sempre desastroso. Hrdy teoriza sobre as defesas das fêmeas. Elas evidentemente fazem todo o possível para defender a si mesmas e à prole, mas, devido ao tamanho maior e às armas especiais dos machos (como dentes caninos), em geral elas não têm êxito. A segunda melhor alternativa é confundir a paternidade. Quando machos forasteiros se apoderam do grupo, como no caso dos leões e dos langures, um recém-chegado pode ter certeza absoluta de que não
é pai de nenhum dos filhotes vistos ali. Mas, se um macho já vive no grupo, quando encontra uma fêmea conhecida com um filhote a situação é diferente. O filhote pode muito bem ser dele, por isso matá-lo reduziria a capacidade desse macho para transmitir seus genes. Da perspectiva evolutiva, nada poderia ser pior para um macho do que eliminar seus descendentes. Portanto, supõe-se que a natureza forneceu aos machos uma "regra prática": só atacar infantes cuja mãe não tenha feito sexo com eles recentemente. Isso pode parecer infalível para os machos, mas abre para as fêmeas a oportunidade de uma brilhante contra estratégia. Aceitando as investidas de muitos machos, uma fêmea pode precaver-se contra o infanticídio, pois nenhum dos seus parceiros pode descartar a possibilidade de a cria ser dele. Em outras palavras, a galinhagem compensa.



Eis, pois, uma razão possível para os bonobos terem muito sexo e nenhum infanticídio. Este nunca foi observado entre eles, nem na natureza, nem em cativeiro. Já se viram machos investir contra fêmeas com infantes, mas a defesa em massa contra tal comportamento indica uma formidável oposição ao infanticídio. O bonobo é realmente uma exceção entre os grandes primatas, pois o infanticídio é bem documentado em gorilas e chimpanzés, sem mencionar os humanos. Um chimpanzé macho grandalhão na floresta de Budongo, em Uganda, foi descoberto segurando um infante morto de sua própria espécie, parcialmente comido. Havia outros machos por perto, e a carcaça era passada entre eles. Dian Fossey, antropóloga que ganhou fama quando sua história foi contada no filme Nas montanhas dos gorilas, viu um solitário gorila de dorso prateado entrar em um grupo e fazer uma violenta demonstração ritualizada de agressividade. Uma fêmea que dera à luz na noite anterior enfrentou-o com outra demonstração, pondo-se em pé e batendo no peito. O recém-nascido agarrado a seu ventre exposto foi golpeado imediatamente pelo macho, e morreu com um vagido.



Naturalmente, achamos o infanticídio revoltante. Uma pesquisadora de campo não conseguiu resistir e interferiu quando chimpanzés machos cercaram uma fêmea que rastejava no chão tentando esconder seu infante, emitindo fervorosos grunhidos apaziguadores para evitar o ataque. A pesquisadora esqueceu sua obrigação profissional de não intervir e enfrentou os machos com um grande pedaço de pau. Não foi uma ação das mais inteligentes, pois às vezes chimpanzés machos matam pessoas, mas a cientista conseguiu enxotar os machos e sair ilesa.



Não admira que as chimpanzés fêmeas fiquem longe de grandes agrupamentos de sua espécie por anos depois de terem dado à luz. O isolamento pode ser sua principal estratégia para prevenir o infanticídio. Elas só voltam a ter intumescimento genital perto do fim do período de lactação, que dura uns três ou quatro anos. Até essa época, não têm nada a oferecer aos machos que buscam sexo, mas também ficam desprovidas de um modo eficaz de abrandar um macho agressivo. As chimpanzés fêmeas passam boa parte da vida se deslocando sozinhas com suas crias dependentes. As bonobos, em contraste, reúnem-se ao seu grupo logo após darem cria, e em alguns meses voltam a copular. Têm pouco a temer. Os bonobos machos não têm como saber quais infantes são seus, quais não são. E, como as bonobos fêmeas tendem a ser dominantes, atacar sua cria é arriscado.



Amor livre nascido de autoproteção? "Por isso a dona é malandra", nos diria Frank Sinatra, na canção "The lady is a tramp". "Ela ama sentir o vento correr livre e fresco em seus cabelos, a vida sem cuidados", canta ele. De fato, a vida despreocupada das bonobos fêmeas contrasta com a nuvem negra que paira sobre as fêmeas de muitas outras espécies. O prêmio que a evolução destina a quem dá fim ao infanticídio deve ser inestimável. As bonobos fêmeas batalham por uma causa — a mais urgente imaginável para o seu gênero — com todas as armas à sua disposição, armas tanto sexuais como agressivas. E parecem triunfar.



Essas teorias, porém, não explicam a diversificação da sexualidade dos bonobos. Imagino que esse comportamento originou-se quando a evolução transformou os bonobos em animais heterossexuais grupais: o sexo simplesmente transbordou para outras esferas, como a vinculação entre indivíduos do mesmo sexo e a resolução de conflitos. A espécie tornou-se sexualizada aos poucos, e também aos poucos, provavelmente, isso foi se refletindo em sua fisiologia. Neurocientistas descobriram fatos fascinantes sobre a oxitocina, um hormônio comum em mamíferos. A oxitocina estimula as contrações uterinas (costuma-se ministrá-la a mulheres em trabalho de parto) e a lactação. Porém, menos conhecido é o fato de que ela também reduz a agressão. Se um rato macho receber uma injeção desse hormônio, diminuirá a probabilidade de ele atacar filhotes. Ainda mais interessante é o fato de que, no cérebro masculino, esse hormônio apresenta um pico após a atividade sexual. Em outras palavras, o sexo produz um hormônio que ajuda a expressar sensibilidade, que, por sua vez, induz a uma atitude pacífica. Isso poderia explicar biologicamente por que as sociedades humanas nas quais a afeição física é comum e a tolerância sexual é alta são geralmente menos violentas do que as sociedades sem essas inclinações. Talvez nessas sociedades as pessoas tenham níveis de oxitocina mais elevados. Ninguém jamais mediu a oxitocina em bonobos, mas aposto que eles a têm para dar e vender.



Quem sabe John Lennon e Yoko Ono tivessem razão quando passaram uma semana na cama no Hilton de Amsterdã em protesto contra a Guerra do Vietnã: o amor traz a paz.


Trecho do livro Eu, primata, de Frans de Waal.

15 junho 2012

O hall da fama da corrupção



O Banco Mundial acaba de lançar uma espécie de hall da fama da corrupção. O banco de dados batizado de The Grand Corruption Cases reúne 150 casos internacionais em que se comprovou a movimentação bancária de um valor igual ou superior a 1 milhão de dólares. Segundo o banco, a corrupção movimenta 40 bilhões de dólares por ano no planeta.
Na lista figuram alguns brasileiros ilustres, entre eles o banqueiro Daniel Dantas, o ex-banqueiro Edemar Cid Ferreira e o ex-prefeito Paulo Maluf.

Dantas é citado por causa do bloqueio de 46 milhões de dólares em contas do Opportunity no Reino Unido e da condenação em primeira instância a dez anos de prisão pelo suborno de um delegado da Polícia Federal. O banqueiro tentava impedir a realização da Operação Satiagraha. O Superior Tribunal de Justiça anulou a sentença proferida pelo juiz Fausto De Sanctis, mas o Ministério Público Federal recorreu ao Supremo.

Maluf é mencionado duas vezes. Uma por ter sido acusado pela Promotoria de Nova York de ter movimentado de forma ilegal 140 milhões de dólares no Banco Safra entre 1993 e 1996. A outra por desviar dinheiro para uma conta nas Ilhas Jersey, no Reino Unido. Maluf e o filho Flávio tiveram 26 milhões de dólares bloqueados no paraíso fiscal britânico.
Edemar foi condenado em 2006 pela Justiça brasileira a 21 anos de prisão por crimes contra o sistema financeiro e lavagem de dinheiro. Entre seus bens apreendidos estavam obras de arte avaliadas entre 20 milhões e 30 milhões de dólares.
Outro caso citado no hall da corrupção é o do propinoduto, um esquema de desvio de dinheiro no governo do Rio de Janeiro revelado em 2003. Liderado pelo funcionário público Rodrigo Silveirinha Corrêa, um grupo de servidores da Administração Tributária fluminense desviou 45 milhões de dólares e os enviou para a Suíça. O Brasil conseguiu repatriar até agora 30 milhões.
A quem interessar possa: Dantas, Maluf e Edemar estão livres, leves e soltos.
Fonte: Carta Capital

"Futuro que preparam na Rio+20 vai nos levar ao abismo", diz Leonardo Boff





"É um documento materialista e miserável". Foi dessa forma que o teólogo e escritor Leonardo Boff se referiu ao documento geral da ONU que está sendo preparado na Rio+20, Conferência da ONU sobre Desenvolvimento Sustentável, que ocorre até o dia 22 de junho, no RIo de Janeiro.
"O Futuro que preparam na Rio+20 vai nos levar ao abismo", disse Boff, um dos responsáveis pela Carta da Terra, declaração de princípios que busca inserir na sociedade princípios mais éticos na relação com o meio ambiente.

Segundo o teólogo, a busca por uma economia mais sustentável, um dos principais focos da Rio+20, não terá sucesso algum com as ideias e panoramas atuais.
"Só se fala de economia verde. Mas o que eles querem é apenas uma economia pintada de verde. Temos que ter uma ruptura com o sistema atual", afirmou.

Dez países devem ajudar Brasil em acordo

Representantes de delegações de ao menos dez países devem ajudar o Brasil a coordenar as negociações do comitê preparatório para Cúpula de Chefes de Estado da Rio+20. O encontro deveria se encerrar com um rascunho da declaração final praticamente fechado, mas ainda há muitos pontos em debate e as negociações vão continuar informalmente.
O porta-voz das negociações do Comitê de Preparação da Rio+20, Nikhil Seth, confirmou que a delegação do Brasil, como anfitriã da Conferência, assume a coordenação dos debates  entre as delegações de Estado a partir do sábado (15). “A meta de todos agora é estar com todo ou pelo menos quase todo o texto fechado até o dia 19, antes da chegada dos chefes de Estado”, disse Seth.
Seth rechaçou a hipótese de que os temas-chave em discussão estão sem consenso serem definidos apenas em 2013.
Fonte: UOL

Cupula dos Povos rejeita negociação de governos



O comitê organizador da Cúpula dos Povos declarou na tarde desta sexta-feira que rejeita as negociações conduzidas por chefes de Estado na Rio+20. Na avaliação do grupo, a economia verde discutida na conferências atende aos interesses das empresas transnacionais, e não do meio ambiente.


A cúpula realizará cinco plenárias e três assembleias nas quais vai discutir e fazer proposições para mudanças que evitem o aquecimento e as mudanças climática.

"Estamos aqui para desmascarar a mentira das falsas soluções, da economia verde. O sistema capitalista tenta se ressuscitar pintando-se de verde. Eles estão defendendo os interesses dos bancos, de Wall Street, das transnacionais e das indústrias petroleiras. Eles são os obstáculos. Precisamos de uma mudança radical da economia", disse a norte-americana Cindy Wiesner, do Grassroots Global Justice Alliance.

Ela afirmou que os chefes de Estado reunidos no Riocentro representam o "1%, os capitalistas e os governos", em referência ao lema do movimento Ocupe Wall Street.
"Será uma cúpula de demarcação clara contra o capitalismo verde que se traduz no encontro oficial. (Do encontro da ONU) Não sairá nenhum documento a favor dos povos e do meio ambiente. O que está saindo é uma nova engenharia do sistema capitalista que está em crise no seu centro, a Europa e América do Norte, e tenta nova ferramenta para se apropriar dos recursos dos países do sul", disse Luiz Zarref, da Via Campesina.

Na análise da moçambicana Graça Samo, membro da Marcha Mundial das Mulheres, são necessárias mudanças radicais no sistema econômico para que o mundo consiga mitigar os impactos ambientais.

"Estamos num mundo extremamente consumista, e o capitalismo nos estimula a consumir cada vez mais. Se estamos conscientes de que com os recursos que nós temos não vamos nos manter nem a médio, nem a longo prazo, não tem como pensr uma possibilidade de mundo sem essa transformação", disse Samo.

Fonte: UOL

ONGs perderam monopólio das decisões ambientais, diz Kátia Abreu

- Como alguém pode se mostrar tão cínica em tão poucas palavras?




Uma das principais lideranças da bancada ruralista, grupo parlamentar acusado por ambientalistas de patrocinar o desmatamento no país, a senadora Kátia Abreu (PSD-TO) defende os produtores rurais das críticas e diz que o agronegócio nacional exibirá na Rio+20 práticas sustentáveis.
"Temos motivos de sobra para nos orgulhar: produzimos uma das melhores e maiores agriculturas do planeta em 27% do território (brasileiro), preservando 61% dos nosso biomas", afirma Abreu, que desde 2009 preside a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).

Ela própria uma pecuarista - em 1987, assumiu a fazenda do marido, morto em acidente de avião -, Abreu diz que o Código Florestal recentemente assinado pela presidente Dilma Rousseff trouxe dois grandes benefícios ao setor: deu segurança jurídica aos produtores e "tirou a hegemonia das ONGs, que faziam mudanças (na legislação ambiental) através do Ministério do Meio Ambiente, via decretos".
Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista da senadora à BBC Brasil:

BBC Brasil - O agronegócio é apontado por ambientalistas e outros setores da sociedade brasileira como um dos principais patrocinadores do desmatamento no país. O que o setor tem a dizer na Rio+20?
Kátia Abreu - Temos motivos de sobra para nos orgulhar. Produzimos uma das melhores e maiores agriculturas do planeta em 27% do território, preservando 61% dos nosso biomas. E com a menor taxa de desmatamento dos últimos 40 anos, talvez. Não temos do que nos envergonhar.
É primeira vez que uma conferência ambiental incorpora a questão alimentar. Estamos muito felizes com isso. Queremos mostrar a todos os nossos projetos na área ambiental, nossas técnicas de produção de agricultura de baixo carbono, que ninguém no mundo está fazendo.
Tenho percorrido o mundo todo e visto as pessoas impressionadíssimas com o potencial brasileiro de produção de alimentos.

O agronegócio é um dos setores mais lucrativos da economia brasileira, e o crescimento da população está estabilizando. É preciso continuar aumentando a produção?
Sim, precisamos, inclusive para atender à recomendação da FAO (Agência da ONU para Agricultura e Segurança Alimentar) de que em 2050 o Brasil precisará ter aumentado sua produção em 40%. Mas podemos aumentar no mesmo espaço de chão que temos hoje.

Sem ampliar as terras de plantio?
Sim. Hoje muito poucos produtores têm interesse em desmatar, mesmo o legalmente permitido. Já estão nos seus limites. O interesse deles é produzir mais, aumentar a produtividade.

Mas os ruralistas não têm defendido diminuir os percentuais de proteção obrigatória (Reserva Legal) das propriedades, que variam conforme o bioma e chegam a 80% na Amazônia?
Não, na Amazônia, defendemos um percentual de 50% (de preservação) para as propriedades que já tiverem desmatado e estiverem produzindo alimentos nessas áreas. Nas restantes, poderiam deixar os 80% preservados.
Há um número muito importante que vale registro: 84% das terras da Amazônia são propriedades da União, e apenas 26% são propriedade privada. Nesses 26%, temos que deixar entre 50% e 80% preservados. É muito pouco (desmatamento).
Hoje muito poucos produtores têm interesse em desmatar, mesmo o legalmente permitido.

Ficou satisfeita com o Código Florestal assinado pela presidente Dilma?
Tivemos muitos avanços, que foram compensadores. A maior recompensa de todas é que veio uma segurança jurídica para os produtores e que se tirou a hegemonia das ONGs que faziam mudanças (na legislação ambiental) pelo Ministério do Meio Ambiente, via decretos.
Acabou o tempo do monopólio das ONGs sobre o assunto. Qualquer assunto de meio ambiente agora vai ser votado no Congresso Nacional.

Quais os pontos centrais do código que agora os ruralistas pretendem modificar no Congresso?
Com relação à APP (Área de Preservação Permanente), sabemos da importância das matas ciliares (vegetação ribeirinha), mas queríamos que os Estados pudessem definir como e quanto recompor o que já foi aberto.

Isso não deixaria a regulamentação muito sujeita ao poder do agronegócio em alguns Estados?
Estamos falando de áreas que já foram desmatadas, e não de áreas novas para desmate. O Ibama nasceu para ser fiscalizador, temos o Ministério Público, os Conselhos de Meio Ambiente dos Estados, que só têm ambientalistas. Não há risco.
Assim como a saúde e a educação são governadas nos Estados, por que o meio ambiente não poderia ser? Já imaginou se de repente aprovássemos uma lei na Europa dizendo que a partir de hoje todos os rios têm de deixar 30 metros (preservados)? O que dizer a esses produtores? Acha que iriam cumprir?
Onde há pessoas, existem direitos, existem conflitos que precisam ser solucionados. E talvez nos Estados pudesse ser mais fácil resolvê-los.

A bancada ruralista defende a soberania nacional ao criticar a influência exercida por ONGs estrangeiras no debate sobre o meio ambiente no Brasil, mas os parlamentares do grupo têm defendido diminuir as restrições à compra de terras por estrangeiros. Não há incoerência?
O que tem a ver compra de terras por estrangeiros com o meio ambiente? Não vejo nenhuma ligação. Vivemos em mundo globalizado: qualquer país que venha comprar terras no Brasil terá de seguir a legislação brasileira. A livre iniciativa, o livre mercado, o mundo globalizado não permitem essas restrições.

Por que os ruralistas querem tirar do Poder Executivo a prerrogativa de demarcar terras indígenas?
Porque hoje essa decisão está totalmente nas mãos da Funai (Fundação Nacional do Índio). Não se discute no Congresso, não se ouvem governadores, deputados estaduais, vereadores. São decisões monocráticas, unilaterais. O Congresso é a representação da sociedade, o que for feito aqui dentro tem participação do povo.

Mas a demarcação de terras não exige a competência de um órgão específico? Não há uma dívida histórica com os índios que justificaria um tratamento especial?
Não vamos deixar o descumprimento de leis trabalhistas ser confundido com escravidão.
Não estou discutindo se deve ou não haver tratamento especial. O governo faz o que achar com as políticas públicas, mas o Estado de Direto tem de ser respeitado. Segundo a Constituição, as terras indígenas não podem ser ampliadas. Áreas indígenas são as que estavam ocupadas em 5 de outubro de 1988 (data da promulgação da Constituição), e não as que já foram ocupadas ou que serão ocupadas.
Mas se quiserem desapropriar e indenizar propriedades, se quiserem dar 50% do país aos índios, não temos nada contra.

E nos casos em que os índios foram expulsos de suas terras antes da Constituição de 1988?
Não posso responder sobre esses casos, só sobre a lei existente. Esses casos têm de ser investigados pela Justiça.

Os ruralistas também têm se oposto à Proposta de Emenda Constitucional do Trabalho Escravo. O grupo não teme ser associado a um conservadorismo arcaico?
Você conhece bem a lei do trabalho escravo? O que mais chama atenção lá? A expropriação de propriedades onde for encontrado trabalho escravo. Sou super a favor que se exproprie, que se dê prisão perpétua a quem tem trabalho escravo. O grande problema da lei é que não tem definição clara do que é (trabalho) degradante e do que é jornada exaustiva. É o que faremos no Senado.
Não vamos deixar o descumprimento de leis trabalhistas ser confundido com escravidão, para tomar fazendas dos outros e fazer reforma agrária de graça.



Fonte: UOL

Não é mais hora de ficar mudando verbos, diz coordenador da Rio+20





O Brasil assume neste sábado (16) a coordenação das negociações da Rio +20 com uma missão duplamente difícil: fazer os negociadores entregarem um texto pronto para adoção pelos chefes de Estado a partir da próxima quarta-feira (20) e ainda terem tempo de pegar uma praia no Rio antes disso.



"Não vai ser mais hora de pôr texto na tela e mudar verbos", disse o embaixador Luiz Figueiredo, coordenador brasileiro da Rio +20, sobre como será o processo a partir de agora. "Não há porque ficar esticando a negociação. Tenho dito aos meus colegas que, se eles quiserem ter pelo menos um dia de descanso no Rio de Janeiro, é preciso fazer as coisas o mais rápido possível."

Segundo Figueiredo, a ideia é que o texto esteja pronto no máximo na terça-feira, dia 19. Para isso, o Brasil formará pequenos grupos de discussão para tratar dos temas mais espinhosos.

Os principais entraves são o financiamento ao desenvolvimento sustentável -- os chamados "meios de implementação" das decisões da Rio +20 --, a reafirmação dos Princípios do Rio, como o das responsabilidades comuns, mas diferenciadas (segundo o qual a maior parte da conta da sustentabilidade cabe aos países ricos) e a reforma nas instituições de desenvolvimento sustentável das Nações Unidas.

Figueiredo não quis comentar a situação da delegação palestina, que está numa espécie de limbo jurídico na Rio +20. Até agora não se sabe se os palestinos participarão da cúpula como observadores ou como Estado-membro das Nações Unidas.

Fonte: UOL

13 junho 2012

São Paulo vai morrer



As cidades também morrem. Há meio século, o lema de São Paulo era “a cidade não pode parar”. Hoje, nosso slogan deveria ser “São Paulo não pode morrer”. Porém, parece que fazemos todo o possível para apressar uma morte anunciada. Pior, o que acontece em São Paulo tornou-se infelizmente um modelo de urbanismo que se reproduz país afora. A seguir esse padrão de urbanização, em médio prazo estaremos frente a um verdadeiro genocídio das cidades brasileiras.


Enquanto muitas cidades no mundo apostam no fim do automóvel, por seu impacto ambiental baseado no individualismo, e reinvestem no transporte público, mais racional e menos impactante, São Paulo continua a promover o privilégio exclusivo dos carros. Ao fazer novas faixas para engarrafar mais gente na Marginal Tietê, com um dinheiro que daria para dez quilômetros de metrô, beneficia os 30% que viajam de automóvel todo dia, enquanto os outros 70% se apertam em ônibus, trens e metrôs superlotados. Quando não optam por andar a pé ou de bicicleta, e freqüentemente demais morrem atropelados. Uma cidade não pode permitir isso, e nem que cerca de três motociclistas morram por dia porque ela não consegue gerenciar um sistema que recebe diariamente 800 novos carros.

Não tem como sobreviver uma cidade que gasta milhões em túneis e pontes, em muitos dos quais, pasmem, os ônibus são proibidos. E que faz desaparecer seus rios e suas árvores, devorados pelas avenidas expressas. Nenhuma economia no mundo pode pretender sobreviver deixando que a maioria de seus trabalhadores perca uma meia jornada por dia – além do duro dia de trabalho – amontoada nos precários meios de transporte. Mas em São Paulo tudo se pode, inclusive levar cerca de quatro horas na ida e volta ao trabalho, partindo-se da periferia, em horas de pico.

Uma cidade que permite o avanço sem freios do mercado imobiliário (agora, sabe-se, com a participação ativa de funcionários da própria prefeitura), que desfigura bairros inteiros para fazer no lugar de casas pacatas prédios que fazem subir os preços a patamares estratosféricos e assim se oferecem apenas aos endinheirados; prédios que impermeabilizam o solo com suas garagens e aumentam o colapso do sistema hídrico urbano, que chegam a oferecer dez ou mais vagas por apartamento e alimentam o consumo exacerbado do automóvel; que propõem suítes em número desnecessário, o que só aumenta o consumo da água; uma cidade assim está permanentemente se envenenando. Condomínios que se tornaram fortalezas, que se isolam com guaritas e muros eletrificados e matam assim a rua, o sol, o vento, o ambiente, a vizinhança e o convívio social, para alimentar uma falsa sensação de segurança.

Enquanto as grandes cidades do mundo mantêm os shoppings à distância, São Paulo permite que se levante um a cada esquina. Até sua companhia de metrô achou por bem fazer shoppings, em vez de fazer o que deveria. O Shopping Center, em que pese a sempre usada justificativa da criação de empregos, colapsa ainda mais o trânsito, mata o comércio de bairro e aniquila a vitalidade das ruas.

Uma cidade que subordina seu planejamento urbano a decisões movidas pelo dinheiro, em nome do discutível lucro de grandes eventos, como corridas de carro ou a Copa do Mundo, delega as decisões de investimentos urbanos não a quem elegemos, mas a presidentes de clubes, de entidades esportivas internacionais ou ao mercado imobiliário.

Esta é uma cidade onde há tempos não se discute mais democraticamente seu planejamento, impondo-se a toque de caixa políticas caça-níqueis ou populistas, com forte caráter segregador. Uma cidade em que endinheirados ainda podem exigir que não se faça metrô nos seus bairros, em que tecnocratas podem decidir, sem que se saiba o porquê, que o mesmo metrô não deve parar na Cidade Universitária, mesmo que seja uma das maiores do continente.

Mas, acima de tudo, uma cidade que acha normal expulsar seus pobres para sempre mais longe, relegar quase metade de sua população, ou cerca de 4 milhões de pessoas, a uma vida precária e insalubre em favelas, loteamentos clandestinos e cortiços, quando não na rua; uma cidade que dá à problemática da habitação pouca ou nenhuma importância, que não prevê enfrentar tal questão com a prioridade e a escala que ela merece, esta cidade caminha para sua implosão, se é que ela já não começou.

Nenhuma comunidade, nenhuma empresa, nenhum bairro, nenhum comércio, nenhuma escola, nenhuma universidade, nem uma família, ninguém pode sobreviver com dignidade quando todos os parâmetros de uma urbanização minimamente justa, democrática, eficiente e sustentável foram deixados para trás. E que se entenda por “sustentável” menos os prédios “ecológicos” e mais nossa capacidade de garantir para nossos filhos e netos cidades em que todos – ricos e pobres – possam nela viver. Se nossos governantes, de qualquer partido que seja, não atentarem para isso, o que significa enfrentar interesses poderosos, a cidade de São Paulo talvez já possa agendar o dia se deu funeral. Para o azar dos que dela não puderem fugir.



Fonte: Altamiro Borges

07 junho 2012

Quincy Jones - Soul Bossa Nova

O Traseiro do Macaco




No consciente ou no inconsciente, a dominância social está sempre em nossa mente. Exibimos expressões faciais típicas de primatas, como retrair os lábios para expor os dentes e gengivas quando precisamos esclarecer nossa posição social. O sorriso humano deriva de um sinal de apaziguamento, e é por isso que geralmente mulheres sorriem mais do que homens. De inúmeros modos, nosso comportamento, mesmo o mais amistoso, alude à possibilidade de agressão. Levamos flores ou uma garrafa de vinho quando invadimos o território de outra pessoa, saudamo-nos acenando com a mão aberta, um gesto que se supõe nascido da necessidade de mostrar a ausência de armas. Formalizamos nossas hierarquias — por meio de posturas corporais e tom de voz — a tal ponto que um observador experiente pode discernir, em apenas alguns minutos, quem está no alto e quem está embaixo no mastro totêmico. Falamos em comportamentos humanos como "beijar o traseiro", "prostrar-se" e "bater no peito" que constituem categorias oficiais de comportamento em minha área de estudo, o que sugere um passado no qual as hierarquias se expressavam mais fisicamente.


No entanto, ao mesmo tempo a irreverência é inata nos humanos. Um teólogo do século XIII, São Boaventura, disse: "Quanto mais alto sobe um macaco, melhor vemos o seu traseiro". Adoramos escarnecer dos superiores. Estamos sempre prontos para arrancá-los do pedestal. E os poderosos sabem muito bem disso. "Pesada sempre se encontra a fronte coroada", escreveu Shakespeare. O primeiro imperador todo poderoso da China, Qin Shi Huangdi, preocupava-se tanto com sua segurança pessoal que mandou construir passagens cobertas ligando seus palácios para que ele pudesse ir e vir sem ser notado. Nicolau Ceaucescu, o ditador romeno executado, construíra em Bucareste três níveis de túneis labirínticos, rotas de fuga e bunkers abastecidos com comida no subsolo do prédio do Partido Comunista no bulevar da Vitória Socialista.


O medo obviamente é maior quando o líder é impopular. Maquiavel acertou ao dizer que é melhor tornar-se príncipe com o apoio da gente comum do que com a ajuda dos nobres, pois estes se sentem tão próximos da posição do soberano que tentarão solapá-la. E, quanto mais ampla a base do poder, melhor. É um bom conselho também para os chimpanzés: os machos que defendem os oprimidos são os mais amados e respeitados. O apoio da base estabiliza o topo.


A democracia realmente foi alcançada através de um passado hierárquico? Uma escola de pensamento acredita que começamos em um estado de natureza cruel e caótico, governado pela "lei da selva". Escapamos dele porque concordamos com regras cuja imposição delegamos a uma autoridade superior. Essa é a justificação usual do governo de cima para baixo. Mas e se tiver sido justamente o oposto? E se a autoridade superior tiver surgido primeiro, emergindo só depois as tentativas de instalar a igualdade? É isso que a evolução dos primatas parece sugerir. Nunca houve caos algum: começamos com uma ordem hierarquia muitíssimo clara, depois encontramos modos de nivelá-la. Nossa espécie possui uma veia subversiva.


Existem muitos animais pacíficos e tolerantes. Em algumas espécies de macacos, eles raramente mordem companheiros, reconciliam-se com facilidade depois das lutas, toleram a presença dos demais ao redor de comida e água, e por aí vai. O mono-carvoeiro praticamente não luta. Os primatólogos falam em diferentes "estilos de dominância", ou seja, em certas espécies os superiores são sossegados e tolerantes, e em outras são despóticos e punitivos. Contudo, mesmo que alguns macacos possam ser de fácil convívio, não são igualitaristas. Para tal, seria preciso que os subordinados fizessem revoltas e estabelecessem limites, coisas que os macacos fazem apenas em grau limitado.


Os bonobos também são descontraídos e relativamente pacíficos. Empregando o mesmo mecanismo nivelador encontrado entre os chimpanzés, levaram-no ao extremo virando a hierarquia de cabeça para baixo. Em vez de militar na base, o sexo frágil nesse caso age de cima, ou seja, para todos os efeitos é o sexo forte. Mas, já que fisicamente as fêmeas bonobos não são mais fortes que os machos, elas precisam, como castores eternamente ocupados em reparar suas represas, de esforços contínuos para se manter no topo. No entanto, exceto por essa realização verdadeiramente notável, o sistema político dos bonobos é bem menos fluido que o dos chimpanzés. Repetindo: isso ocorre porque as coalizões mais cruciais, entre mãe e filhos machos, são inalteráveis. Faltam aos bonobos as alianças sempre mutáveis e oportunistas capazes de abrir à força um sistema. Tolerantes é uma designação melhor do que igualitaristas para os bonobos.


A democracia é um processo ativo: reduzir a desigualdade requer esforço. Não nos surpreenderemos com o fato de que, dos nossos parentes próximos, o mais agressivo e mais norteado pela dominância demonstra as tendências que em última análise baseiam a democracia se supusermos que esta nasce da violência. Quase com certeza, na história humana essa suposição é correta. A democracia é algo por que lutamos: liberté, égalité e fraternité. Ela nunca nos é dada de graça; sempre foi arrancada dos poderosos. A ironia é que provavelmente nunca teríamos atingido esse ponto, nunca teríamos desenvolvido a necessária solidariedade na base, se não fôssemos animais tão hierárquicos.



Trecho do livro "Eu, primata", de Frans de Waal

Falta lógica ao debate sobre fim do voto secreto



No Congresso, não há problema tão grande que não caiba no dia seguinte. Instituir o voto aberto em processos de cassação de congressistas, por exemplo, é coisa que sempre fica para depois. Para o dia seguinte, para o mês posterior, para o ano subsequente…
Em setembro de 2006, nas pegadas do escândalo do mensalão, aprovou-se na Câmara, em primeiro turno, uma proposta que fulminava o voto secreto nos Parlamentos –no Congresso, nas assembléias legislativas e nas câmaras de vereadores.
Como se tratava de emenda constitucional, a proposta teria de ser submetida a um segundo turno de votação. Já lá se vão cinco anos e nove meses. E nada. Depois disso, absolveu-se na sombra do Senado, em 2007, Renan Calheiros (PMDB-AL), acusado de pagar com verbas de uma empreiteira despesas da filha que tivera com uma amante. E nada.
Na Câmara, livrou-se da guilhotina no ano passado, novamente à sombra, Jaqueline Roriz (PSC-DF). A deputada fora pilhada em vídeo recebendo maços de dinheiro de Durval Barbosa, delator do mensalão do DEM de Brasília. E nada.
Sobreveio o Cachoeiragate. Um escândalo que, de novo, envolve parlamentares. Um deles, Demóstenes Torres (ex-DEM-GO), já responde a processo por quebra de decoro parlamentar. Cedo ou tarde, o patíbulo será remontado no plenário do Senado. Uma vez mais, à sombra.
Pressionado, o tetrapresidente do Senado José Sarney (PMDB-AP) agendou para quarta-feira (13) a votação de projetos de emenda constitucional que extinguem o voto secreto. Ainda que a coisa avance, a tramitação dificilmente será concluída a tempo de aplicar a novidade ao caso de Demóstenes.
Uma emenda aprovada no Senado, em dois turnos, iria à Câmara. Ali, começaria a tramitar do zero. Antes de chegar ao plenário, teria de passar por duas comissões. Seria necessário um acordo dos líderes para atalhar o processo.
Se o Congresso fosse uma instituição lógica, Sarney telefonaria para o colega Marco Maia (PT-RS), presidente da Câmara, e acertaria com ele o aproveitamento da proposta já aprovada em primeiro turno pelos deputados. Mas a lógica, como se sabe, é matéria prima escassa no Legislativo.
Nem mesmo Marco Maia parece convencido da conveniência de concluir a votação da emenda que foi posta em pé no ano da graça de 2006. Alega-se que a proposta é ampla demais.
Além de abrir o voto para os casos de cassação de mandatos, acaba com o sigilo em outros tipos de votação –análise de vetos presidenciais e aprovação de indicação de autoridades como ministros do STF, por exemplo. Para uma Casa habituada à sombra, seria luminosidade demais.
Conclusão: a reativação do teatro não assegura um epílogo feliz para a peça. No fim do túnel em que se meteu, Demóstenes já enxerga luz. O eleitor vê pus. Logo, logo o debate sobre os efeitos deletérios do voto secreto sumirá do noticiário. O problema será redescoberto no escândalo seguinte.

Aécio fala em ética.



O PSDB começou a exibir nesta semana as suas inserções publicitárias no horário partidário na rádio e TV. Numa delas o cambaleante presidenciável tucano, o senador Aécio Neves, aparece todo maquiado dizendo que tem um "sonho" - "a de que a política possa, um dia, ser o espaço da ética". Na maior caradura, ele garante que o seu partido tem esse firme compromisso. É muito cinismo. Chega a ser risível!


Para reforçar a sua mensagem "ética" o PSDB bem que poderia exibir também as imagens do governador de Goiás, Marconi Perillo, que a cada dia se complica mais na cachoeira de denúncias sobre o envolvimento com o crime organizado. Também poderia prestar esclarecimentos sobre as falcatruas com dinheiro público nas obras do Rodoanel em São Paulo, que envolve o seu "amigo" José Serra. Aécio Neves ainda poderia rechaçar as acusações, que partiram de Minas Gerais, sobre a "privataria tucana" no reinado de FHC.

Os tucanos - juntamente com os eternos aliados demos - estão perdidos, sem rumo. Não têm propostas e perderam as suas bandeiras. Mesmo assim, eles insistirão na tecla udenista dos paladinos da ética. Caso a situação de Marconi Perillo se complique de vez, talvez até façam como o DEM - que já rifou Demóstenes Torres, o seu grande líder. Será que os eleitores brasileiros vão se deixar iludir com a falsa marquetagem?



02 junho 2012

O ser humano pós-moderno





Hoje em dia, troca-se a mensagem pela imagem. Vemos, vemos, e não sabemos. Somos todos vítimas da hipnose coletiva.
Nosso espelho quebrou-se em três pedaços. Copérnico atirou-nos no espaço. Somos seres periféricos do subúrbio galáctico.
Marx destronou imperadores e reis e provou que a história não nasce nos salões, e sim na sarjeta, nos porões, no subsolo.
Freud desmitificou a razão e nos fez ouvir a voz que fala em nós. Somos seres plurais e dispersos na busca ávida de unidade.
Somos todos primordialmente famintos. Falta uma parte essencial de nosso ser, que buscamos, em vão, nas esquinas da vida.
Cacos de um vitral, trazemos no coração um buraco negro.
Tantas fraturas... e tantos sonhos de fartura.
Modelo pós-moderno de ser humano: hedonista, consumista e narcisista.


Fonte: @freibetto