03 setembro 2011

Cachorros de Palha [14]



Paraísos artificiais
Não há nada peculiarmente humano no uso de drogas. Tanto no cativeiro como soltos, foi demonstrado que muitos outros animais buscam intoxicantes. No seu livro The Soul of the Ape, Eugene Marais – que era viciado em morfina – mostrou que babuínos selvagens chacma usavam intoxicantes para romper o tédio da consciência comum. Em tempos de fartura, quando muitas outras frutas estavam facilmente disponíveis, eles se davam o trabalho de procurar uma fruta rara, semelhante a uma ameixa, e, depois de comê-la, mostravam todos os sinais de intoxicação. Resumindo suas descobertas, que estão reforçadas por pesquisa posterior, Marais escreveu: “O uso habitual de venenos com o propósito de induzir a euforia – uma sensação de bem-estar mental e felicidade – é um remédio universal para a dor da condição consciente.”
É um resultado que se aplica tanto aos humanos quando aos babuínos. A consciência e a tentativa de dela escapar andam juntas. O uso de drogas é uma atividade primordial animal. Entre os humanos, existe desde tempos imemoriais e é quase universal. O que então explica a “guerra às drogas”?
Proibir as drogas torna seu comércio fabulosamente lucrativo. Gera crimes e aumenta consideravelmente a população nas prisões. A despeito disso, existe uma pandemia de drogas de alcance mundial. A proibição às drogas falhou. Por que então nenhum governo contemporâneo as legalizará?

Trecho do livro Cachorros de Palha.

Nenhum comentário:

Postar um comentário