28 julho 2011

Cachorros de Palha [10]



O fetiche da Escolha
Para os gregos pré-socráticos, o fato de que nossas vidas sejam contidas por limites era o que nos fazia humanos. Ter nascido como um mortal, num dado lugar e tempo, forte ou fraco, rápido ou lento, bravo ou covarde, belo ou feio, sofrendo uma tragédia ou sendo poupado dela - esses aspectos de nossas vidas nos são dados, não podem ser escolhidos. Se os gregos pudessem ter imaginado uma vida sem eles, não a teriam reconhecido como a vida de um ser humano.
Os gregos antigos estavam certos. O ideal da vida escolhida não combina com a maneira como vivemos. Não somos autores de nossas vidas: não somos nem mesmo co-autores dos eventos que nos marcam mais profundamente. Quase tudo que é mais importante em nossas vidas é não-escolhido. O tempo e o lugar em que nascemos, nossos pais, a primeira língua que falamos - isso são acasos, não escolhas. É o fluir casual das coisas que molda nossas mais significativas relações. A vida de cada um de nós é um capítulo feito de eventos acidentais.

Trecho de Cachorros de Palha, de John Gray.

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