14 março 2011

A Amazônia peruana

Toda a extensão da Amazônia.

De uma maneira ou de outra, a região amazônica do Peru se faz quase sempre presente nas notícias nacionais. Lamentavelmente, grande parte destas notícias não é exatamente encorajadora, pois tem a ver compoluição ambiental, extração ilegal de madeira, depredação da fauna, biopirataria e desertificação, entre outros problemas não menos graves, que assolam a selva peruana. Mas o que representa a Amazônia para si mesma e para o Peru?

O Peru está classificado como um país andino, porém mais de 60% da extensão territorial do país está ocupado pela selva amazônica. Ademais, a Amazônia peruana já teve uma extensão muito maior que a atual (entre 13 e 16% do total da Amazônia), mas desde tempos coloniais –no que era então o Vice-Reino do Peru– esteve a perder terreno frente ao avanço dos portugueses. Isso levou ao Tratado de Tordesilhas, e finalmente ao de Santo Ildefonso. Também a criação de novos vice-reinos, como o de Nova Granada e o do Rio da Prata, afetaram o tamanho da Amazônia peruana. E já em épocas republicanas, ela foi reduzida mais uma vez devido às guerras com a Gran Colômbia, Colômbia e os conflitos com o Equador. Inclusive, a Guerra do Acre, entre Brasil e Bolívia (chamada no Brasil de “Revolução Acreana”), prejudicou territórios peruanos em virtude dos tratados limítrofes subsequentes.


No entanto, apesar de que se possa chamar o Peru de um país amazônico com pleno direito, somente 13% dos peruanos vivem na região (30% dos peruanos vivem na capital, Lima, e na região da costa) e muitos deles pertencem ou descendem das mais de 60 etnias amazônicas existentes, que falam diversas línguas. Dessa forma, para a maioria dos peruanos, a floresta amazônica é uma região quase desconhecida, e às vezes até exótica.



Obviamente isso não se aplica às etnias que a habitam desde aproximadamente 12,000 anos atrás, pois seu conhecimento sobre a floresta é muito grande, tendo alcançado alto grau de adaptação ao meio ambiente e ao uso de seus recursos. Por isso, é quase anedótico falar, por exemplo, do descobrimento do Amazonas por parte de Francisco de Orellana, sendo mais correto dizer que com isso foi marcado o início da desapropriação das terras e das riquezas dos primeiros habitantes.


Mas seria injusto falar somente dos problemas da Amazônia e não mencionar também seu potencial e sua riqueza, que sabiamente explorados ofereceriam muito às comunidades que nela habitam e a todo o país. Segundo o Wikipédia, a selva amazônica peruana contribui muito para que o Peru seja o segundo país com a maior diversidade de aves no mundo. Algo semelhante se dá com mariposas e samambaias, uma amostra da grande biodiversidade da região. Quatro reservas nacionais do Peru se encontram na Amazônia, além de três parques nacionais e uma reserva comunal.



A região amazônica da América do Sul é, provavelmente, a de maior biodiversidade no planeta, e essa riqueza de espécies é mais antiga do que pensavam até agora os cientistas, de acordo com os artigos que sobre a lenta formação da Cordilheira dos Andes, […] [que] remonta a mais de 65,5 milhões anos
Por outro lado, é imprescindível mencionar o rio Amazonas, o mais extenso e de maior volume do mundo, grande coletor de águas da imensa bacia à qual dá nome, também a maior do mundo. Mas, enquanto muitos se empenham para votar nele como uma das 7 maravilhas naturais do mundo, a realidade cotidiana é que o peruano comum vive de costas para a Amazônia, e que o Estado faz pouco para melhorar a situação.


Temos sustentado, nesse tempo todo, o acercamento necessário às realidades culturais de nossos irmãos amazônicos. Que a selva não seja um agregado do Peru, um número, um bosquezinho povoado por analfabetos que atiram flechas. Não. Aqui defendemos que nossa floresta seja considerada “a metade mais um” do Peru, que o rio Amazonas se converta no símbolo peruano do mundo, que as culturas étnicas silvícolas sejam apreciadas não com olhos ocidentais, e que o Peru se orgulhe de ser tão amazônico como pátria do pisco, do ceviche e dos Incas.


O grande paradoxo do Peru reside no fato de que é um país com grande riqueza natural e cultural, mas apresenta uma pobreza estrutural secular em todos os seus aspectos. O Desenvolvimento Sustentável não deve ser alheio à realidade, porque a atividade extrativista sem responsabilidade social nem ambiental, associada a uma grande biodiversidade, pode provocar impactos negativos com efeitos não apenas de degradação dos recursos naturais, mas na diminuição crítica das condições de vida da população.


Fonte: http://amazoniainforma.blogspot.com/2011/03/amazonia-peruana.html

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