Difícil de conciliar. |
Mais uma utopia
Podemos sonhar com um mundo no qual uma população humana grandemente reduzida viva num paraíso parcialmente restaurado; no qual a agricultura tenha sido abandonada e desertos verdes tenham sido devolvidos à terra; onde os humanos restantes estejam estabelecidos em cidades, emulando o nobre ócio dos caçadores-coletores, suas necessidades atendidas por novas tecnologias que deixam poucos sinais sobre a Terra; onde a vida é entregue à curiosidade, ao prazer e à diversão.
Não há nada tecnicamente impossível em tal mundo. Novas tecnologias não podem desfazer as leis da termodinâmica, mas podem ser mais gentis com a Terra do que as antigas. Microchips permitem que a tecnologia seja parcialmente desmaterializada, tornando-a menos demandante de energia. A energia solar permite que o consumo seja parcialmente descarbonizado, reduzindo o impacto ambiental. James Lovelock sugeriu usar a energia nuclear para se contrapor ao aquecimento global. E. O. Wilson propôs que alimentos geneticamente modificados tenham um papel num programa abrangente de conservação e controle populacional.
Uma utopia verde high tech, na qual uns poucos humanos vivam felizes e em equilíbrio com o resto da vida, é cientificamente factível, mas é humanamente inimaginável. Se alguma coisa como essa algum dia acontecer, não será por vontade do homo rapiens.
Enquanto a população continuar a crescer, o progresso consistirá num esforço para manter o passo com ela. Existe apenas uma maneira de a humanidade poder limitar seus labores: limitando seus números. Mas limitar os números de humanos colide com as necessidades humanas poderosas.
Podemos sonhar com um mundo no qual uma população humana grandemente reduzida viva num paraíso parcialmente restaurado; no qual a agricultura tenha sido abandonada e desertos verdes tenham sido devolvidos à terra; onde os humanos restantes estejam estabelecidos em cidades, emulando o nobre ócio dos caçadores-coletores, suas necessidades atendidas por novas tecnologias que deixam poucos sinais sobre a Terra; onde a vida é entregue à curiosidade, ao prazer e à diversão.
Não há nada tecnicamente impossível em tal mundo. Novas tecnologias não podem desfazer as leis da termodinâmica, mas podem ser mais gentis com a Terra do que as antigas. Microchips permitem que a tecnologia seja parcialmente desmaterializada, tornando-a menos demandante de energia. A energia solar permite que o consumo seja parcialmente descarbonizado, reduzindo o impacto ambiental. James Lovelock sugeriu usar a energia nuclear para se contrapor ao aquecimento global. E. O. Wilson propôs que alimentos geneticamente modificados tenham um papel num programa abrangente de conservação e controle populacional.
Uma utopia verde high tech, na qual uns poucos humanos vivam felizes e em equilíbrio com o resto da vida, é cientificamente factível, mas é humanamente inimaginável. Se alguma coisa como essa algum dia acontecer, não será por vontade do homo rapiens.
Enquanto a população continuar a crescer, o progresso consistirá num esforço para manter o passo com ela. Existe apenas uma maneira de a humanidade poder limitar seus labores: limitando seus números. Mas limitar os números de humanos colide com as necessidades humanas poderosas.
Trecho de Cachorros de Palha.
Estranha essa afirmação: cientificamente possível, mas humana inimaginável, como se fossem coisas completamente distintas. Eu concordo com Popper que é tentando fazer um paraíso na terra que construímos o inferno na terra. Esta utopia verde high tech não me parece ruim apenas por não ser factível. Ela me parece tão ruim quanto a utopia civilizada ou a utopia verde low tech. Os princípios são os mesmos. O problema está justamente no ideal de felicidade, perseguido por todos. O crescimento da população não surgiu do nada e não pode ser resolvido sem mudar o conceito de felicidade. Limitar os números, ao meu ver, não é difícil apenas por causa de necessidades humanas, mas de necessidades civilizadas, naturalizadas como humanas por uma visão civilizada. Na verdade, os números só podem ser limitados se o homem deixar de se ver como um deus na terra, ou seja, se ele mudar qualitativamente.
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