25 julho 2011

Cachorros de Palha [4]



O ponto crucial de Schopenhauer
Ao contrário de Kant, Schopenhauer estava pronto para seguir os seus pensamentos aonde quer que estes o levassem. Kant afirmou que, a menos que aceitemos que somos um self autônomo, provido de vontade livre, não podemos dar sentido à nossa experiência moral. Schopenhauer respondeu que nossa experiência real não é a de estarmos escolhendo livremente o modo como vivemos, mas de estarmos sendo levados pelas nossas necessidades corporais - o medo, a fome e, acima de tudo, o sexo. O sexo, como escreveu Schopenhauer em uma das inúmeras inimitáveis passagens que dão vida a seus trabalhos, "é o fim último de quase todo o esforço humano (...) Sabe como disfarçadamente passar seus bilhetes de amor e cachos de cabelo para as pastas ministeriais e os manuscritos filosóficos". Quando tomados pelo amor sexual, dizemos a nós mesmos que ficaremos felizes quando ele for satisfeito, mas isso é apenas uma miragem. A paixão sexual capacita a espécie para a reprodução; ela não dá a menor importância ao bem-estar individual ou à autonomia pessoal. Não é verdade que nossa experiência nos compila a pensarmos acerca de nós mesmos como agentes livres. Ao contrário: se realmente olharmos para nós mesmos, saberemos que não o somos.


Trecho do livro Cachorros de Palha, de John Gray.

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