23 julho 2012

Stephen Hawking e o Deus das Lacunas



“Deus das Lacunas” é uma locução muito útil, que ajuda a explicitar as vezes — que não são raras — em que a palavra “Deus” é usada como sinônimo de “Sei Lá”. Por que as pessoas ficam doentes? Antes que descobríssemos os germes, quando éramos ignorantes quanto à genética e à importância da higiene, era  ”castigo de Deus”. Assim que a ciência preencheu esse vão específico do saber humano, o “Deus das Lacunas”  se retirou dali, silenciosamente.
(O que, aliás, teve o benefício extra de remover dos ombros dos doentes o peso de estarem sendo “punidos” sabe-se lá por quê.)
A declaração divulgada pela mídia internacional na quinta-feira, de que o físico Stephen Hawking escreve em seu novo livro que Deus não é necessário para criar o Universo , parece sugerir que o grande teórico está convencido de que mais uma lacuna em nosso conhecimento, a do processo que desencadeou o Big Bang, está fechada ou em vias de fechar-se.
As lacunas, é claro,  sempre existirão. Talvez até mais do que os pobres da famosa fala de Jesus (em João 12:8) a ignorância é algo que sempre teremos conosco. Isso não impede, no entanto, que o “Deus das Lacunas” seja uma triste divindade, permanentemente batendo em retirada.
Trata-se de uma figura tão pífia, na verdade, que os teólogos mais bem informados e as pessoas religiosas capazes de uma reflexão mais sofisticada já se desfizeram dele. A bem da verdade, o teólogo holandês Willem Drees até havia se antecipado a Hawking, afirmando, em um de seus livros, que a cosmologia “não apoia um argumento de design para a origem do Universo”.
Em vez disso, o Deus de Drees é uma figura transcendente que “brilha através”, deixando-se entrever nas mais altas aspirações humanas.
Fonte: Carlos Orsi

Nenhum comentário:

Postar um comentário