Não é segredo que a cesta-básica é um dos parâmetros para medir o poder de compra do brasileiro. O que poucos sabem é que ela poderia ser muito mais barata do que é hoje. Atualmente, boa parte dos alimentos que compõem a cesta-básica brasileira provém da agricultura familiar. O setor é responsável, por exemplo, por 70% da produção nacional de feijão, 21% do trigo e 58% do leite, segundo o IBGE.
No entanto, o baixo grau educacional dos agricultores do setor faz com que a produção seja muito aquém do seu real potencial. Um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) revelou que a produção da agricultura familiar poderia, ao menos, triplicar, caso políticas de capacitação fossem implementadas e se o acesso à educação para a população rural não fosse tão difícil.
De acordo com o coordenador da pesquisa, José Eustáquio Ribeiro Vieira Filho, apenas 5,2% dos estabelecimentos agropecuários são responsáveis por 63,5% de toda a produção da agricultura familiar. Por outro lado, mais da metade dos estabelecimentos (66,4%) geram apenas 10% do valor da produção. Segundo Vieira Filho, isso se deve à concentração dos recursos tecnológicos – apenas 16% dos estabelecimentos possuem um grau elevado de conteúdo tecnológico. “Se aumentássemos o grau de tecnologia e de acesso à educação em apenas 5% dos estabelecimentos atrasados, já dobraríamos a produção atual”, afirma.
Além disso, para o pesquisador do Ipea, muitos agricultores não tem acesso à tecnologia por não saberem manusear os equipamentos e insumos ou desconhecerem as ferramentas de acesso à crédito. “O analfabetismo elevado torna o aprendizado de novas técnicas e a absorção de tecnologia muito raro”, diz.
Desafio educacional
“Hoje, o agricultor não precisa ter terra para produzir, precisa de tecnologia e para usar tecnologia precisa de educação”, defende Vieira Filho. De acordo com ele, a redução do analfabetismo rural já seria um avanço para o aumento da produtividade e, consequentemente, propiciaria o aumento de renda do produtor e a diminuição das pressões sobre o meio ambiente.
“Hoje, o agricultor não precisa ter terra para produzir, precisa de tecnologia e para usar tecnologia precisa de educação”, defende Vieira Filho. De acordo com ele, a redução do analfabetismo rural já seria um avanço para o aumento da produtividade e, consequentemente, propiciaria o aumento de renda do produtor e a diminuição das pressões sobre o meio ambiente.
Segundo um estudo do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social da Presidência, a taxa de analfabetismo na zona rural chega a 23,3%, entre a população de 15 anos ou mais, índice três vezes maior do que em áreas urbanas. Para contornar essa realidade, o pesquisador defende a implementação de instituições de ensino e extensão no campo para orientar os agricultores e agir, em curto e longo prazo, no desenvolvimento de conhecimento local.
“A Embrapa, as universidades locais e os órgãos de agricultura locais devem atuar na capacitação dessa população e trabalhar para diminiuir esse abismo de produção e renda entre as regiões brasileiras”, argumenta Vieira Filho. Hoje, 89,3% dos produtores familiares do Nordeste não possuem um elevado grau de tecnologia em suas propriedade e, por isso, representam apenas 19,1% da produção nordestina e recebem apenas dois salários-mínimos pelo o que produzem.
“Sem esse tipo de política pública educacional, os agricultores familiares continuarão com baixos sálarios e sendo incentivados a abandonar o campo e inflar as cidades grandes e médias”, conclui o pesquisador.
Fonte: Carta Capital
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