28 abril 2013

O golpe dos condenados



Enquanto todos os olhares se voltam para o deputado pastor Marco Feliciano nos Direitos Humanos, na Comissão de Constituição e Justiça, os mensaleiros preparam um atentado à democracia e estimulam uma guerra entre o Judiciário e o Legislativo.
Mário Simas Filho
ISTOÉ Independente
Não houve alarde. Tudo aconteceu de forma sorrateira, com poucas testemunhas. Na quarta-feira 24, em votação simbólica, 20 deputados aprovaram, na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara (CCJ), uma emenda constitucional que representa um golpe na democracia. A proposta, votada sem nenhum debate anterior, submete algumas decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) ao Congresso, o que atenta contra uma cláusula pétrea da Constituição, que determina a independência e a harmonia entre os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário. O Brasil assistiu a um filme parecido em 1937, quando a Constituição assegurou ao presidente Getúlio Vargas o poder de cassar decisões do STF. Entre 1937 e 1945, o País passou por um dos períodos mais negros de sua história, conhecido como Estado Novo. Desta vez, a emenda golpista foi apresentada pelo deputado Nazareno Fonteles (PT-PI), mas sua aprovação foi articulada por dois petistas condenados pelo STF no processo do mensalão: José Genoino e João Paulo Cunha.
“Houve um claro atropelo para que essa emenda fosse aprovada”, diz o deputado Vieira da Cunha (PDT-RS). Contrário à proposta, Vieira da Cunha apresentou um voto separado, mas foi surpreendido pelos colegas. “Normalmente, os projetos que tenham voto separado são retirados da pauta quando seus autores não estão presentes. Eu não estava na reunião e votaram.” “Isso que aprovaram é uma completa aberração, ofende a autonomia da mais alta corte do País”, afirma o líder do PSDB na Câmara, Carlos Sampaio, que junto ao partido recorreu ao STF para que a votação na Comissão de Constituição e Justiça fosse considerada inconstitucional.
No Judiciário, a decisão dos 20 deputados foi encarada como uma afronta. “Rasgaram a Constituição. Se isso vier a ser aprovado, é melhor que se feche o Supremo”, dispara o ministro Gilmar Mendes. “Ressoa como uma retaliação”, define o ministro Marco Aurélio Mello, referindo-se a uma provável vingança dos parlamentares condenados no mensalão contra a suprema corte brasileira. Embora em novembro do ano passado tenha ocupado a tribuna da Câmara para se referir ao julgamento do mensalão como uma “conspiração do Judiciário contra o PT”, o autor da emenda nega que tenha agido para se vingar pela condenação de seus companheiros petistas. O deputado, no entanto, não esconde o fato de estar se movendo com o intuito de enfrentar o STF, um comportamento que coloca, sim, em risco a estabilidade democrática. “O Judiciário vem interferindo em decisões do Legislativo, há uma invasão de competências”, diz Fonteles, revelando o desejo de retaliação.
Na quinta-feira 25, com o objetivo de baixar a fervura, o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), encontrou uma maneira de impedir que a proposta golpista avançasse. Ele decidiu não instalar uma comissão especial que deveria ser a instância imediatamente seguinte à da Constituição e Justiça, para o trâmite da emenda. “A aprovação da CCJ foi inusitada. Surpreendeu a todos e pode abalar a harmonia entre o Legislativo e o Judiciário”, afirmou Alves. O empenho do presidente da Câmara, porém, não conseguiu acalmar os ânimos. Na tarde da quinta-feira 25, quando o líder do PT, José Guimarães, e o vice-presidente do STF, Ricardo Lewandowski, buscavam um discurso de aproximação – o primeiro dizendo que a proposta não refletia a posição do partido e o segundo dizendo que não havia desarmonia entre os poderes –, coube ao presidente do Senado e do Congresso, Renan Calheiros (PMDB-AL), novamente jogar álcool na fogueira.
“Não vamos permitir que o Judiciário influa nas decisões do Legislativo, temos que zelar pela nossa competência”, disse o presidente do Congresso, referindo-se a uma liminar concedida na véspera pelo ministro Gilmar Mendes, suspendendo temporariamente a tramitação de um projeto de lei que dificulta a criação de novos partidos. O projeto, que interessa ao governo e já foi aprovado pela Câmara, é visto como casuísta, pois impede que parlamentares que troquem de partido levem para a nova legenda o tempo de televisão e o reparte do Fundo Partidário. Com isso, partidos novos como o da ex-senadora Marina Silva e o MD de Roberto Freire seriam inviabilizados. A oposição recorreu ao STF e conquistou a liminar de Gilmar Mendes. Qualquer forma de intromissão entre os poderes é condenável, mas, no caso de dúvidas, as maiores democracias do planeta ensinam que cabe às supremas cortes a última palavra.

Fonte: Corrêa Neto


A cada 4 minutos

18 abril 2013

Ainda Feliciano?


Nem estou acreditando que volto ao assunto do pastor/deputado/presidente da CDHM. Mas, como muitos devem ter visto, ele mentiu reiterada e estridentemente sobre mim. Há um vídeo no YouTube [ver abaixo] em que Feliciano, esbravejando de modo descontrolado, diz-se com Deus contra o diabo e, para provar isso, mente e mente mais. 

As pessoas religiosas deveriam observar o quanto ele está dominado pela soberba. Faz pouco, ele se sentiu no direito de julgar os vivos e os mortos, explicando por meio de uma teologia grotesca a morte dos garotos dos Mamonas e sagrando-se justiçador de John Lennon.

Agora, aferra-se à mentira. Meu colega Wanderlino Nogueira notava, com ironia histórica sobre as espertezas da igreja católica, que a mentira não está entre os sete pecados capitais. Mas sabemos que “levantar falso testemunho” é condenado pelo Deus de Moisés.

 Por que mentir tão descaradamente sobre fatos conhecidos? Será que minha calma observação, aqui neste espaço, de que sua persona pública é inadequada ao cargo para o qual foi escolhido (matizada pela esperança no papel das igrejas evangélicas) o ameaça tão fortemente? Eu diria a pastores, padres, rabinos ou imãs — sem falar em pais de santo e médiuns espíritas, que são diretamente agredidos por ele — que atentassem para o comportamento de Feliciano: como pode falar em nome de Deus quem mente com tão evidente consciência de que está mentindo?

Sim, porque não há, dentre aqueles que prestam atenção no meu trabalho, quem não saiba que, ao cantar a genial canção de Peninha “Sozinho” num show, eu indefectivelmente dizia não apenas que me apaixonara por ela através das gravações de Sandra de Sá e de Tim Maia: eu afirmava que cantá-la ao violão era só um modo de chamar a atenção para aquelas gravações. Como pode Feliciano dizer que “a imprensa foi rastrear” e descobriu que a música já tinha sido gravada por Sandra e Tim? Essas duas gravações eram sucessos radiofônicos. E como pode ele, sem piedade daqueles que com tanta confiança o ouvem em seu templo, afirmar que eu disse em entrevista coisa que nunca disse e nunca diria, ou seja, que o êxito inesperado de minha versão de “Sozinho” se deveu a eu ter mostrado a faixa a Mãe Menininha e esta ter-lhe posto uma bênção que, para Feliciano, seria trabalho do diabo? Mãe Menininha, figura importante da história cultural brasileira, já tinha morrido fazia cerca de dez anos quando gravei a canção.

É muita loucura demais. E muita desonestidade. Aprendi com meu pai os gestos da honestidade — e tomei o ensinamento de modo radical. Me enoja ver a improbidade. Feliciano sabe que eu nunca dei tal entrevista. Mas não se peja de impressionar seus ouvintes gritando que eu o fiz. Ele, no entanto, não sabe que eu jamais sequer mostrei qualquer canção minha à famosa ialorixá. Nem a Nossa Senhora da Purificação eu peço sucesso na carreira. Nunca pedi. Nem a Deus, nem aos deuses, e muito menos ao diabo. Decepciono muitos amigos por não ser religioso. Mas respeito cada vez mais as religiões. Vejo mesmo no cristianismo algo fundamental do mundo moderno, algo inescapável, que é pano de fundo de nossas vidas. Mas não sou ligado a nenhuma instituição religiosa. Eu me dirigiria aqui àqueles que o são.

Os homens crentes devem tomar atitude mais séria em relação a episódios como esse. O que menos desejo é ver o Brasil dividido por uma polaridade idiota, em que, de um lado, se unem os que querem avanços nos costumes, e de outro, os que necessitam fundamentos de fé, ambos gritando mais do que o conveniente, e alguns, como Feliciano, saindo dos limites do respeito humano.

Eu preferiria dialogar com crentes honestos (ou ao menos lúcidos). Não aqueles que já se põem a uma distância segura da onda neopentecostal. Eu gostaria de dialogar com um Silas Malafaia, de quem tanto discordo, mas que respeita regras da retórica e da lógica. Marina Silva seria ideal, mas poupemo-la. Não é preocupante, eu perguntaria a alguém assim, que um dos seus minta de modo tão escancarado?

É fácil provar que nunca fiz aquelas declarações e é fácil provar que Sandra e Tim tiveram êxito com a obra-prima de Peninha. E que eu louvei esse êxito ao cantar a canção. Foram dezenas de milhares de brasileiros que ouviram.

Se Feliciano precisa, para afirmar sua postura religiosa, criar uma caricatura caluniosa dos baianos e da Bahia, algo é muito frágil em sua fé. A maré montante do evangelismo não dá direito à soberba irrefreada. O boneco tem pés de barro. E cairá. Eu creio na justiça e na verdade. Esses valores atribuídos a Deus têm minha adesão irrestrita. Não sei que Deus sustenta a injustiça e a mentira. Ou será que é aí que o diabo está?




Leia mais em: http://www.paulopes.com.br/2013/04/caetano-prova-que-feliciano-eh-mentiroso.html#ixzz2QmPTSMNr

11 abril 2013

Almeidinha escreve a Feliciano

Dê uma chance à PAZ

Caro Feliciano,
Vou te confessar uma coisa. Por puro receio, nunca frequentei um culto evangélico. Nada contra, tenho até alguns amigos evangélicos, mas só de ver pastores como o senhor já coloco o cadeado no bolso e me vacino. Fora isso, sempre me dei bem com todo mundo. Tive, durante um tempo, um funcionário da firma que era crente. O apelido dele era Crente. Ele explicava, todo santo dia, que nem todo crente era evangélico, e que nem todo evangélico fazia sessão de descarrego. Nunca dei a mínima: sou católico, apostólico e paulistano, brinco com todos, faço piada igual: chamo os crentes de crentes, os católicos de papa-hóstia, os ateus de vagabundos, os brancos de branquelas e os negros de macacos. A maldade está no ouvido de quem ouve. Para mim, que não sei distinguir na mesma rua um papa Francisco de um Edir Macedo, o importante é não perder a esportiva.
Por isso tiro o chapéu para o senhor.
Tirando o Rafinha Bastos e o Danilo Gentili, não é todo dia que vemos na tevê um sujeito de coragem dizer as verdades que doem mas precisam ser ditas.
Por exemplo: todo mundo sabe, só não tem coragem de dizer, que a África é um continente amaldiçoado. Minha cunhada, uma feminista lésbica incapaz de casar e procriar, como observa o mandamento, me esfregou, dia desses, o mapa africano e mostrou como tudo ali é linha reta, resultado do fatiamento acertado entre as potências colonialistas do século sei lá qual. Disse que, se eu quisesse entender os problemas da África, era melhor ler a história da Inglaterra, e não a Bíblia. Como se existisse Inglaterra no tempo de Noé – além de feminista e lésbica, minha cunhada é burra.
Deixa ela pra lá.
Em casa, comemoramos feito gol em Copa do Mundo a sua declaração sobre a ditadura gayzista – durante muito tempo achei que a autoria dessa frase era minha; não patenteei mas tomei posse por usucapião. Faça dela bom proveito.
Concordo com o senhor quando fala da podridão dos sentimentos dos homossexuais. Esses dias postei no Facebook duas mensagens. Uma delas, uma frase atribuída ao Arnaldo Jabor: “No Brasil, o homossexualismo (minha cunhada diz que “ismo” é errado, mas ela é intolerante até com a gramática) já foi proibido, tolerado e agora é aceito. Vou embora daqui antes que seja obrigatório”. Choro de rir só de reproduzir a frase. A outra é uma foto em defesa do senhor. Tinha a imagem de um bando se abraçando, mostrando a língua, as partes baixas e outros penduricalhos. A conclusão era: “para ter respeito é preciso, primeiro, se dar ao respeito”.
Esse é meu décimo primeiro mandamento.
Digo isso porque me preocupo com meus filhos. Daqui a pouco vai ser comum andar com eles na rua e encontrar marmanjo de barba beijando outro marmanjo sem uma única lampadazinha fosforescente para colocar pudor na bagunça. O senhor sabe como é: as crianças não têm filtro pra essas coisas. Não têm desejo próprio: se veem mulher beijando homem, logo saem beijando também. É automático. Se veem pássaro voando pelos fios de transmissão, logo sobem no poste, se atiram, se arrebentam. Se veem alguém cuspir no chão, cospem também. Se veem atropelamento, logo se enfiam debaixo dos caminhões. Logo, se virem homens beijando homens nas ruas, logo vão agarrar os amiguinhos. O senhor já pensou que fim será disso?
Por isso é preciso combater a ditadura da gayzice. Não é porque sou católico, apostólico e paulistano que não temos um objetivo em comum. Nossa Bíblia é a mesma. Mas, como sou observador atento da Palavra, devo dizer que ando em um dilema. Dias atrás, pinçaram no YouTube um vídeo em que o senhor diz exatamente o que eu disse aos meus filhos a vida toda. Que esse povo do meio artístico tem pacto com o Demo. E o maior exemplo disso foi o assassinato do John Lennon, aquele vagabundo que nunca pegou na enxada e vive dizendo que os Beatles eram mais populares do que Cristo. Pagou com a própria vida. Por isso eu digo para meus filhos: “não falem mal de Deus se não Deus te ferra”.
Fico feliz em saber que não sou o único a defender que a morte do sujeito, como a de tantos outros, foi um castigo divino. Imagina se Deus não intervém? Um sujeito que defendia um mundo sem conflito, o amor livre, que botava o dedo na cara dos chefes de Estado, que reunia multidões nas ruas pra dizer que a “guerra já era” e alertava que a vida era o que nos acontecia enquanto estávamos ocupados fazendo outros planos? Que mundo ele queria? Um mundo pacífico, cheio de cordeirinhos sem graça pulando felizes, pelados, cantando que a vida é bela, que tudo é lindo e que era melhor fazer amor do que fazer a guerra? Quem ia dar jeito nos comunistas do Vietnã? Quem ia combater a ditadura da gayzice? Como eu digo, Deus sabe o que faz. Santo Mark Chapman.
Quando a sua pregação foi parar no YouTube, eu mostrei para o meu filho caçula. Pra quê? Ele ficou aterrorizado. Agora anda com medo de ser alvejado na rua pelo Pai, pelo Filho e pelo Espírito Santo. Toda vez que se benze, fecha os olhos e espera o balaço. Disse que se receber um tiro para cada pecado que cometeu alguém lá de cima vai precisar de uma garrucha calibre 12. Eu achei até bom. Toda vez agora que o moleque faz arte eu mando baixar a cabeça que o céu vai descarregar o tiroteio. O bichinho se benze e se treme todo – pra tomar banho, agora só de sunga e em dois minutos. Até água economizei. Se alguém coloca Beatles perto dele, ele se borra. “Não quero morrer que nem o John Lennon”, ele repete.
Até aí tudo bem.
O problema foi que a professora, provavelmente outra feminista lésbica, soube dos desassossegos do menino, o chamou pra conversar e perguntou se ele conhecia os Dez Mandamentos. De cor, ele respondeu. “Então avisa o trouxa do seu pai, o trouxa daquele pastor, e qualquer trouxa que te vier com essa história de John Lennon de novo que pecado é usar o Santo Nome em vão para falar bobagens.”
Pra quê? Quando soube, rasguei os corredores da escola, empurrei a segurança, avisei que pagava mensalidade todo mês e ia fazer o que quisesse ali dentro. Falei um monte para a velha. E troquei o menino de escola.
Nessa vida, é bom saber com quem se anda. Se a professora não dá educação pro menino, quem vai ensinar o menino? É o que te pergunto: pra que pagamos tantos impostos, tantas mensalidades escolares? Para sustentar a ditadura da gayzice?
Só por cima do meu cadáver. Do nosso.
Siga firme nesta comissã antes dominada por Satanás. E que Deus nos proteja e siga alvejando os Johns Lennons desta vida.
Um abraço,
Almeidinha
Fonte: Carta Capital