21 setembro 2012

Vídeo mostra aquecimento terrestre nos últimos 130 anos



Os primeiros registros sobre a temperatura da Terra foram feitos em 1880, desde então ocorreram muitas variações. A NASA apresentou na última semana um vídeo de apenas 26 segundos em que é possível visualizar claramente o aquecimento do planeta.

A produção é a prova concreta de que as atividades humanas, principalmente as que foram decorrentes dos processos industriais e que culminaram no aumento expressivo das emissões de gases de efeito estufa, influenciaram as temperaturas na Terra.


Os gráficos mostrados no vídeo têm cores que distinguem quando a superfície aqueceu e quando foi resfriada. O azul é usado para o frio, enquanto o laranja representa o calor, mais comum após a década de 70, com o pico da indústria.

As informações utilizadas e o vídeo foram produzidos pelo Instituto Goddard para Estudos Espaciais da NASA, cuja sede está em Nova York. O trabalho mostra que a Terra ainda está aquecendo. “Sabemos que o planeta está absorvendo mais energia do que está emitindo. Então, vamos continuar a ver uma tendência de temperaturas mais elevadas. Mesmo com os efeitos de resfriamento, em consequência de uma forte influência do fenômeno La Niña e da baixa atividade solar dos últimos anos, 2011 foi um dos dez mais quentes já registrados”, explicou James Hansen, diretor do centro de pesquisas.

De acordo com as medições, o ano passado foi 0,51ºC mais quente que a média identificada no século 20. Assista ao vídeo abaixo e veja como o mundo está ficando mais quente.


Fonte: UOL

10 setembro 2012

O mundo de Spock




CAPITÃO KIRK: "Você daria um esplêndido computador, senhor Spock!".
SR. SPOCK: " É muita bondade sua, capitão!". 

Imagine um mundo cheio de criaturas como o superlógico sr. Spock, de Jornada nas estrelas. Se ocasionalmente aparecessem emoções, ninguém saberia como interpretá-las. Sendo sensíveis apenas ao conteúdo da linguagem, as pessoas não perceberiam mudanças no tom de voz e nunca se dedicariam ao equivalente humano do grooming: o bate-papo. Por não existir nenhuma conexão natural entre elas, o único modo de essas criaturas conseguirem entender umas às outras seria mediante um árduo processo de perguntas e respostas.


Fomos retratados como habitantes do universo autista de Spock por toda uma corrente da literatura especializada que se concentrou exclusivamente no aspecto da competição feroz pela existência na evolução. A bondade, disseram, é algo que as pessoas praticam apenas sob pressão, e a moralidade não passa de um verniz, uma tênue camada que esconde nossa natureza egoísta. Mas quem realmente vive em um mundo assim? Um cardume de piranhas impelido à bondade porque elas desejam impressionar umas às outras nunca teria desenvolvido o tipo de sociedade da qual dependemos. Sem se preocuparem umas com as outras, elas são totalmente desprovidas da moralidade como a conhecemos.


A dependência mútua é a chave. As sociedades humanas são sistemas de apoio nos quais a fraqueza não leva automaticamente à morte. O filósofo Alasdair Maclntyre começa seu livro Dependent rational animals [Animais racionais dependentes] ressaltando o grau da vulnerabilidade humana. Durante várias fases da vida, sobretudo na infância e na velhice, mas também entre essas duas etapas, vemo-nos aos cuidados de outros. Somos inerentemente necessitados. Então por que a religião e a filosofia do Ocidente dedicam muito mais atenção à alma do que ao corpo? Retratam- nos como cerebrais, racionais e donos de nosso destino, nunca doentes, famintos ou lascivos. O fato de os humanos possuírem corpo e emoções é tratado como mera fraqueza.


Em um debate público sobre o futuro da humanidade, um respeitado cientista arriscou que dentro de dois séculos obteríamos o total controle científico de nossas emoções. Ele parecia ansioso por esse dia! Só que, sem emoções, mal saberíamos que escolhas de vida fazer, pois as escolhas baseiam-se em preferências, e estas são essencialmente emocionais. Sem emoções não armazenaríamos memórias, pois são as emoções que as tornam importantes. Sem emoções permaneceríamos indiferentes aos outros, que por sua vez seriam indiferentes a nós. Seríamos como navios que passam ao largo uns dos outros.


A realidade é que somos corpos nascidos de outros corpos, corpos que alimentam outros corpos, corpos que fazem sexo com outros corpos, corpos que procuram um ombro para chorar ou se apoiar, corpos que viajam longas distâncias para estar perto de outros corpos, e assim por diante. A vida valeria a pena sem essas conexões e as emoções que elas despertam? Poderíamos ser felizes, especialmente considerando que também a felicidade é uma emoção?


Nós nos esquecemos, diz MacIntyre, do quanto nossos interesses básicos são os mesmos de um animal. Celebramos a racionalidade, mas em momentos decisivos a racionalidade sai pela janela. Qualquer pai ou mãe que tenta incutir sensatez em um adolescente sabe que o poder persuasivo da lógica é surpreendentemente limitado. Isso vale sobretudo na esfera moral. Imagine um consultor extraterrestre que nos instrua a matar toda pessoa que fique gripada. Ele nos diz que com essa medida mataremos muito menos pessoas do que as que acabariam morrendo se permitíssemos à epidemia seguir seu curso. Cortando a gripe pela raiz, salvaríamos vidas. Por mais lógico que isso possa soar, duvido que muitos de nós optassem por seguir a recomendação. Isso ocorre porque a moralidade humana está fortemente alicerçada nas emoções sociais, com a empatia em posição central. As emoções são nossa bússola. Temos fortes inibições contra matar membros de nossa comunidade, e nossas decisões morais refletem esses sentimentos.


A empatia é intensamente interpessoal. É ativada pela presença, conduta e vozes de outros, e não por uma avaliação objetiva. Ler sobre as agruras de alguém que enfrenta tempos difíceis não é o mesmo que dividir um quarto com essa pessoa e ouvir sua história. A primeira dessas situações pode gerar alguma empatia, mas é do tipo facilmente posto de lado. Por quê? Para agentes morais racionais, ambas as situações não deveriam ser diferentes. Mas nossas tendências morais evoluíram em interação direta com outros a quem podemos ouvir, ver, tocar e cheirar, e cuja situação compreendemos tomando parte delas. Somos admiravelmente sintonizados com o fluxo dos sinais emocionais emitidos pelo rosto e pela postura de outra pessoa, e respondemos com nossas próprias expressões. Pessoas de carne e osso nos afetam como nenhum problema abstrato jamais afetará. A palavra inglesa empathy deriva do alemão Einfühlung, que significa "sentir em".


Meu exemplo da gripe serve para mostrar que nos recusamos a lutar pelo bem maior para o maior número de pessoas (uma escola de filosofia moral conhecida como "utilitarismo") se isso violar as inibições básicas da nossa espécie. A outra abordagem, oriunda da afirmação de Immanuel Kant de que chegamos à moralidade pela "razão pura", encerra problemas ainda maiores. Essa idéia foi explorada por um jovem filósofo interessado na neurociência, Joshua Greene, que examinou imagens do cérebro de pessoas enquanto elas resolviam dilemas morais. Um deles era o seguinte: você é o condutor de uma locomotiva sem freios. Ela se aproxima velozmente de uma bifurcação nos trilhos, e você avista cinco trabalhadores na ramificação esquerda e um trabalhador na direita. Você nada pode fazer além de acionar uma chave para escolher qual ramificação a locomotiva seguirá, pois não é possível frear. O que você faria?


A resposta é simples. A maioria das pessoas viraria à direita, pois com isso apenas um trabalhador seria morto. Mas vejamos outra situação: você está numa ponte que passa em cima de trilhos retos, sem bifurcação, e lá embaixo uma locomotiva se aproxima velozmente na direção de cinco trabalhadores. Ao seu lado, na ponte, há um homem grandalhão. Você poderia empurrá-lo ponte abaixo, ele cairia na frente da locomotiva e a retardaria, permitindo assim que todos os trabalhadores se salvassem. As pessoas se mostram muito menos relutantes em matar alguém mudando a direção da locomotiva do que empurrando alguém para a morte. Isso reflete responsabilidade e não racionalidade, pois logicamente as duas soluções são idênticas: salvar cinco pessoas à custa de uma. Kant não teria visto nenhuma diferença.


Temos uma longa história evolutiva na qual agarrar alguém com as mãos nuas trazia conseqüências imediatas para nós mesmos e para nosso grupo. O corpo é importante, e é por isso que qualquer coisa com ele relacionada desperta emoções. Examinando as neuroimagens, Greene descobriu que decisões morais, como empurrar ou não alguém de uma ponte, ativam áreas do cérebro relacionadas tanto às emoções da própria pessoa como à avaliação das emoções de outros. As decisões morais impessoais, em contraste, para as quais a evolução não nos preparou, ativam áreas que também usamos para as decisões práticas. O problema de acionar a chave da locomotiva é tratado por nosso cérebro como um problema neutro, no mesmo nível da questão de o que preferimos comer hoje ou a que hora teremos de sair de casa para pegar o avião.


A tomada de decisões morais é movida por emoções. Ativa partes do cérebro que remontam à transição dos répteis de sangue frio para os mamíferos que alimentam, cuidam e amam. Somos equipados com uma bússola interna que nos diz como devemos tratar os outros. A racionalização em geral vem depois do fato, quando já pusemos em ação as reações preordenadas de nossa espécie. Talvez a racionalização seja um modo de justificar nossas ações para os outros, que então podem concordar ou discordar, de modo que a sociedade como um todo consiga chegar a um consenso acerca de determinado dilema moral. É aqui que entra a pressão social, a aprovação ou desaprovação tão importantes para nós. Mas tudo isso provavelmente é secundário à moralidade "visceral".


Isso pode ser chocante para o filósofo kantiano, mas condiz com a convicção de Charles Darwin de que a ética nasceu dos instintos sociais. Seguindo os passos de Darwin, Edward Westermarck, antropólogo sueco-finlandês do início do século xx, compreendeu quão pequeno é o controle que exercemos sobre nossas escolhas morais. Elas não são produtos do raciocínio, escreveu Westermarck, pois


aprovamos e desaprovamos porque não podemos fazer de outro
modo. Podemos evitar sentir dor quando o fogo nos queima? Podemos
evitar simpatizar com nossos amigos? Esses fenômenos são
menos necessários ou menos poderosos em suas conseqüências por
estarem na esfera subjetiva da experiência?

Antes de Darwin e Westermarck, idéias semelhantes haviam 
sido expressas por David Hume, o filósofo escocês que ressaltou os 
sentimentos morais, e muito antes de todos eles pelo sábio chinês 
Mêncio (372-289 a. C ) , seguidor de Confúcio. Grafados em tiras 
de bambu legadas a seus descendentes, os textos de Mêncio mostram 
que não há nada de novo sob o sol. Mêncio acreditava que as 
pessoas tendem para o bem tão naturalmente como a água flui 
montanha abaixo. Isso se evidencia em seu comentário sobre 
nossa incapacidade de suportar o sofrimento de outros:




Se homens subitamente vêem uma criança prestes a cair em um
poço, sem exceção têm um sentimento de inquietação e aflição.
Sentem-se assim não porque podem incorrer nas boas graças dos
pais da criança, não porque possam estar desejando elogios de seus
vizinhos e amigos, e não por terem aversão à reputação de ficarem
insensíveis diante de tal coisa. Com esse exemplo podemos perceber
que o sentimento de comiseração é essencial ao homem.

Todos os possíveis motivos egoístas mencionados por Mêncio (como desejar as boas graças ou elogios) são relatados com detalhes na literatura moderna. A diferença, obviamente, é que Mêncio rejeitou tais explicações como demasiado forçadas, tendo em vista a qualidade imediata e a força do impulso de simpatia. A manipulação da opinião pública é totalmente possível em outros momentos, disse Mêncio, mas não quando uma criança está prestes a cair em um poço.


Concordo cem por cento. A evolução nos equipou com impulsos genuinamente cooperativos e inibições contra atos que possam prejudicar o grupo do qual dependemos. Aplicamos esses impulsos seletivamente, é verdade, mas ainda assim somos afetados por eles. Não sei se as pessoas no fundo são boas ou más, mas sei que, apesar de sua inteligência impressionante, o sr. Spock não seria capaz de resolver problemas morais de um modo que nos satisfaria. Ele os trataria de maneira lógica demais. Empurraria o homem da ponte e ficaria perplexo com os protestos da vítima e com a nossa indignação.

Trecho do livro "Eu, Primata", de Frans de Waal.